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Lava Jato vê diversas irregularidades em venda de parte da PetroAfrica para BTG

Fase 64 deflagrada nesta sexta, 21, apura em uma das frentes favorecimento a banco de André Esteves em negócio bilionário de aquisição de 50% de ativo da Petrobrás na África em 2013

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Por Ricardo Brandt
Atualização:

André Esteves. Foto: Fábio Motta/Estadão

A nova fase da Operação Lava Jato deflagrada na manhã desta sexta-feira, 23, tem como alvo supostas propinas pagas no negócio de compra de metade da PetroAfrica - empresa de petróleo africana - pelo banco Banco BTG Pactual da Petrobrás, em 2013, negócio que teria envolvido prejuízo de cerca de R$ 6 bilhões, segundo os investigadores.

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A Polícia Federal tem como alvos o banqueiro André Esteves, a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster e o PT nessa nova fase denominada Operação Pentiti -  termo italiano referente aos "arrependidos", equivalente a delatores, devido as informações fornecedas no caso pelo ex-ministro Antônio Palocci.

Cerca de 80 policiais federais cumprem 12 mandados de busca e apreensão em endereços de São Paulo (3) e do Rio de Janeiro (9), entre eles a sede do Banco BTG na capital fluminense. A operação não cumpre ordens de prisão.

As medidas foram autorizadas pela juíza Gabriela Hardt, da 13ª. Vara Federal de Curitiba, no Paraná.

A força-tarefa da Lava Jato informou que "a partir de análise de documentos apreendidos em fase anterior da operação Lava Jato, identificaram-se indícios de que os ativos foram comercializados em valor substancialmente inferior àquele que havia sido avaliado por instituições financeiras de renome no início do processo de venda".

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As propinas em negócio de venda de 50% da PetroAfrica para o BTG Pactual já tinham sido citadas em outros depoimentos de delatores para a Lava Jato. Na ocasião, o banco informou por meio de nota que "a proposta do BTG Pactual, de US$ 1,5 bilhão por 50% da JV, foi a mais alta e considerada justa pelo assessor financeiro contratado pela Petrobras, Standard Chartered Bank".

"A operação de aquisição de 50% dos ativos da Petrobras Oil and Gas B.V. (POG) na África pelo BTG Pactual E&P B.V., sociedade detida pelo BTG Pactual conjuntamente com diversos clientes, inclusive renomados fundos de investimentos estrangeiros, foi realizada em um leilão, para o qual foram convidados a participar diversos players do mercado (14 no total), vários dos quais participaram efetivamente do processo."

Em nota divulgada nesta sexta, o Ministério Público Federal informou que "verificou-se que, no início do processo, o preço desses ativos havia sido avaliado entre US$ 5,6 bilhões e US$ 8,4 bilhões. Ao final do processo, 50% desses ativos foram vendidos por US$ 1,5 bilhão em 2013, valor esse em flagrante desproporção com aquele inicialmente avaliado".

Segundo os procuradores, "apurou-se, ainda, que esse procedimento de venda foi permeado por diversos indícios de irregularidades". Entre elas, destacaram "a possível restrição de concorrência, de forma a favorecer o BTG, o acesso pelo BTG a informações sigilosas, a aprovação da venda pela diretoria executiva em um dia e do conselho de administração no dia seguinte, sem que tenha havido tempo suficiente para discussão ampla de operação de valor tão elevado".

Segundo a PF, a investigação trata de fatos de diferentes inquéritos policiais e foi impulsionada pelo acordo de colaboração premiada do ex-ministro Antônio Palocci.

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O delegado Luciano Flores de Lima, superintendente da PF no Paraná, afirmou que a nova fase não investiga o banco ou sistema financeiro, mas sim "fatos".

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Propinas. Trata-se da segunda operação da força-tarefa nesta semana. Na quarta, 21, a Polícia Federal deflagrou a Carbonara Chimica, fase 63 da Lava Jato, para investigar a suspeita de pagamento de propina a doisex-ministros dos governos Lula e Dilma por parte da Odebrecht. A operação também envolveu a planilha 'Programa Especial Italiano', na qual Palocci era tratado como 'Italiano' e Guido Mantega como 'Pós-Itália'.

O MPF informou que outra frente de apuração diz respeito a relato feito por Antonio Palocci, em que afirma que André Esteves, em período próximo ao final da campanha de 2010, teria acertado com Guido Mantega o repasse de R$ 15 milhões para garantir privilégios ao BTG Pactual no projeto das sondas do pré-sal da Petrobrás.

"Segundo Palocci, parte desse valor teria sido entregue em espécie a Branislav Kontic na sede do Banco."

O nome da ex-presidente da Petrobrás Graça Foster também aparece na nossa fase. "Apura-se, ainda, informações contidas em e-mails de Marcelo Odebrecht e prestadas por Palocci no sentido de que a ex-presidente da Petrobras Graça Foster teria conhecimento do esquema de corrupção existente à época na estatal, mas não teria adotado medidas efetivas para apurar tal esquema ou impedir a continuidade do seu funcionamento."

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Foster é a terceia ex-presidente da Petrobrás alvo da Lava Jato. Ela ocupou o comando da estatal entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2015. José Sérgio Gabrielli e Aldemir Bendine também já havia caído no radar das apurações.

COM A PALAVRA, O BANCO BTG PACTUAL

A reportagem entrou em contato com a Assessoria de Imprensa do Banco. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE GRAÇA FOSTER

A reportagem tenta contato com a defesa da ex-presidente da Petrobrás. O espaço está aberto para manifestação.

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COM A PALAVRA, A ADVOGADA SÔNIA COCHRANE RÁO, QUE DEFENDE ANDRÉ ESTEVES

"Inexplicável e verdadeiramente assustadora a nova medida de força adotada sem qualquer motivo, baseada na desacreditada delação de Antônio Palocci, contra uma instituição financeira e um cidadão recentemente vítima de violento erro judiciário reconhecido por todas as instâncias judiciais."

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