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Lava Jato rastreia US$ 7 milhões de propina atribuída a Odebrecht

Investigadores buscam através de valores identificados por delatores e autoridades de Mônaco em contas secretas de três ex-funcionários da Petrobrás, entre 2009 e 2012, origem dos pagamentos e de seu operador

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Por Redação
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Prédio da Odebrecht em São Paulo. Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

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A Polícia Federal tem pelo menos US$ 7 milhões da suposta propina paga pela Construtora Norberto Odebrecht, no esquema de cartel e desvios na Petrobrás, identificados em laudo pericial. São 24 registros de transações bancárias, entre 3 de abril de 2009 e 18 de maio 2012, descobertos a partir das confissões e documentos obtidos pela Operação Lava Jato.

Apesar de ser uma fração dos R$ 500 milhões que a empreiteira pode ter pago no esquema de cartel e corrupção da Petrobrás, investigadores da Lava Jato acreditam que elas servem de base para trilhar o caminho do dinheiro que circulou em contas secretas no exterior supostamente por ordem da empreiteira. O operador dessa lavanderia seria o doleiro Bernardo Freiburghaus - que mora na Suíça e é considerado foragido.

O levantamento consta de tabela elaborada pela Polícia Federal, no Laudo 0777/2015, anexado ao pedido de prisão feito do presidente da empreiteira, Marcelo Bahia Odebrecht, e de outros executivos e pessoas ligadas ao grupo. A construtora e a Andrade Gutierrez são os alvo da Operação Erga Omne - 14ª fase da Lava Jato - deflagrada na sexta-feira, 19.

A tabela trata de pagamentos que teriam como beneficiários os ex-diretores da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), o ex-gerente Pedro Barusco (Engenharia) e o doleiro Alberto Youssef.

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Seu objetivo, nesse item do documento, foi tentar identificar entre outras coisas "depósitos de valores em contas mantidas no exterior" relacionados à Odebrecht.

 Foto: Estadão
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"Em alguns casos, não foi possível identificar dados pertinentes, tais como Instituição Financeira do remetente, nome do remetente e conta bancária", informa o laudo solicitado pelos delegados Igor Romário de Paula e Eduardo Mauat da Silva.

O levantamento, a partir das delações dos colaboradores, cruzou documentos de registros dos valores, com dados obtidos. No laudo, são analisados ainda 10 materiais apreendidos nas buscas feitas em novembro de 2014, quando foi deflagrada a sétima fase da Lava Jato - batizada de Juízo Final -, em endereços relacionados aos executivos da Odebrecht Márcio Faria e Rogério Araújo. Os dois são apontados pelos delatores como ordenadores dos pagamentos da empreiteira. Foram cruzados dados ainda de documentos da Petrobrás e do Tribunal de Contas da União.

O laudo contábil, financeiro e de engenharia da PF, do dia 27 de abril, é subscrito pelos peritos criminais federais João José de Castro Baptista Vallim e Adilson Carvalho Silva.

Caminho. A maior parte dos valores está com origem identificada: a offshore Constructora Internacional Del Sur, aberta no Panamá, em 2006. Ela é apontada pelos beneficiários da propina como canal de pagamento da Odebrecht no esquema de corrupção da Petrobrás.

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Personagem central para descobrir detalhes sobre o uso da Constructora Del Sur pela Odebrecht é o doleiro Bernardo Freiburghaus, apontado por delatores como operador de propinas da empreiteira.

"A constatação de que a Constructora Internacional Del Sur efetuou depósitos nas contas off-shore de, pelo menos, três dirigentes da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque, permite concluir por sua ligação com o esquema criminoso de cartel e propinas que afetou a Petrobrás", sustenta o juiz federal Sérgio Moro, em decisão que decretou as prisões dos executivos.

Trecho do pedido de prisão dos executivos da Odebrecht sobre propina paga a ex-diretor da Petrobrás Foto: Estadão

Primeiro delator da Lava Jato, Costa apontou as contas em nome das offshores Sygnus Assets S.A., no banco PKB PrivateBank S.A, Quinus Services S.A., no HSBC, Sagor Holding S.A., no Julius Baer e conta nº 016780-40, no Deutsche Bank como "controladas por Bernando Freiburghaus, mas pertencentes" a ele. Segundo Costa, os US$ 23 milhões que ele tinha em conta secreta na Suíça - e que devolveu após acordo de delação - foram propina da Odebrecht, operada por Freiburghaus.

O doleiro Alberto Youssef, também delator da Lava Jato, afirmou à Justiça Federal operacionalizou pagamentos de propinas para a Odebrecht, tendo mantido contato com os executivos Márcio Faria e Cesar Rocha. Nesse caso, o caminho percorrido pelos investigadores da Lava Jato segue outro destino: Hong Kong. São contas de titularidade das offshores RFY e DGX, nos bancos Standart Chartered e HSBC, em Hong Kong, controladas pelo doleiro Leonardo Meirelles.

Trecho dos autos da Operação Erga Omnes sobre valores que Alberto Youssef atribui a Odebrecht Foto: Estadão

A área de Abastecimento era cota do PP, no esquema de indicações políticas na Petrobrás controlado por PT, PMDB e PP. Por meio dessas diretorias, partidos e políticos cobravam propinas de 1% a 3% do valor dos contratos da estatal. Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia e réu confesso da Lava Jato, confirmou o uso da Constructora Del Sur pela Odebrecht para pagar propina na Diretoria de Serviços - cota do PT no esquema - e deu o caminho do dinheiro recebido por ele.

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A conta da offshore Pexo Corporation, de sua propriedade. "O ex-gerente informou que a Odebrecht não realizava depósitos a partir de suas contas, utilizando-se de conta registrada em nome da offshore Constructora Del Sur", informa a Polícia Federal.

Foram identificados ainda dois depósitos provenientes de conta da Constructora Del Sur mantida no Credicorp Bank S.A destinados à conta da offshore Milzart Overseas Holdings Inc., no Banco Julius Baer, no Principado de Mônaco. "Renato Duque (ex-diretor de Serviços) é o único beneficiário" dessa conta, sustenta a Lava Jato com base em documentos enviados no início do ano pelas autoridades de Mônaco.

 Foto: Estadão
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Com esses US$ 7 milhões rastreáveis a partir das identificações de depósitos, que dizem respeito a uma parte dos pagamentos apontados pelos delatores, os investigadores da Lava Jato tentará provar materialmente a existência de R$ 500 milhões de corrupção da Odebrecht - cálculo feito pela PF considerando os 3% de corrupção sobre R$ 8 bilhões em contratos da Petrobrás -, via contas fora do País.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT A Construtora Norberto Odebrecht S.A. (CNO) esclarece que não possui, nem nunca possuiu, qualquer vínculo com a empresa Construtora Internacional del Sur, a qual não é, nem nunca foi de sua propriedade, ou de qualquer outra empresa controlada ou coligada da Organização. Esclarece ainda que nunca fez qualquer pagamento à referida empresa. Portanto, não são verdadeiras as notícias que vêm sendo veiculadas que atribuem à empresa a responsabilidade por pagamentos efetuados no exterior aos réus confessos Alberto Youssef e Pedro Barusco.

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