Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso
24 de fevereiro de 2017 | 05h05
Aos 73 anos, o “empresário” Jorge Antônio da Silva Luz é um dos maiores lobistas da Petrobrás. Alvo de ordem de prisão na 38ª. fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quinta-feira, 23, ele é considerado por investigadores da força-tarefa de Curitiba o verdadeiro “homem-bomba” do PMDB.
Relatório de informação do Ministério Público Federal mapeou nove empresas ligadas ao lobista – que está fora do Brasil – que seriam usadas para ocultar movimentação ilegal de dinheiro, em especial, em contratos da Petrobrás.
Jorge Luz e seu filho Bruno são acusados de movimentarem pelo menos US$ 40 milhões em propinas para agentes públicos e políticos do PMDB, em cinco contratos da Petrobrás, no Brasil, Argentina e África.
Empresas. A Lava Jato considera ter identificado a rede de empresas de Luz usadas para lavar dinheiro. Por meios delas, a força-tarefa quer chegar aos valores pagos nos negócios já delatados por outros investigados e expandir as apurações.
Em nome de Jorge Luz estão apenas a Total Express Participações Ltda e a GEA Projetos, abertas no Brasil, e a TCB Equity Ltd.
A Lava Jato, no entanto, mapeou as empresas abertas em nome de seu filho Bruno Luz, também acusado de ser operador de propinas do PMDB e alvo de ordem de prisão na Operação Blackout, e de outras três pessoas de “seu núcleo familiar”.
Juntos, eles têm nove empresas, todas suspeitas de serem firmas de fachada usadas para movimentação de dinheiro ilegal e fornecimento de falsos contratos.
Bruno Luz tem relação comercial com cinco empresas. Os dois lobistas são suspeitos de movimentarem propinas na Diretoria Internacional, cota do PMDB no esquema alvo da Lava Jato.
As empresas receberam valores de empreiteiras alvos da Lava Jato, como a Andrade Gutierrez e a Schahin, operadora de um dos navios-sondas, para exploração de petróleo em alto mar, contratada pela Diretoria de Internacional que teria propinas operadoras por Luz, segundo delatores.
A Schahin repassou R$ 1 milhão para a GEA Projetos, em 2010, um ano depois do grupo ter acertado a operação de navio-sonda da Petrobrás, via acerto na Diretoria de Internacional, intermediado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, réu condenado na Lava Jato e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O contrato seria compensação pelo empréstimo fraudulento feito pelo Bancio Schahin, em 2004, ao PT.
Outro ponto considerado indício de que as empresas eram de fachada é o fato, destacado pelo Ministério Público Federal, no pedido de prisão de Jorge e Bruno, de elas terem funcionado em um mesmo endereço na Barra da Tijuca, no Rio.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE JORGE E BRUNO LUZ
Os advogados de Jorge Luz e seu filho Bruno anunciaram nesta quinta-feira, 23, que os dois irão se apresentar às autoridades brasileiras ‘no menor espaço de tempo possível, para dar cumprimento aos mandados de prisão expedidos, antecipando seus voos de regresso ao País’.
A informação foi dada em nota pelos criminalistas Gustavo Alves Pinto Teixeira e Rafael Cunha Kullmann.
A defesa afirma que Bruno Luz avisou as autoridades antes de deixar o País e que ambos (ele e o pai) estavam com as passagens de volta já compradas.
Os advogados apresentaram cópias de comprovantes de compras das passagens indicando que Bruno retornaria ao Brasil no dia 6 de julho – mas com retorno à Flórida já programado para o início de agosto – e seu pai no dia 7 de março. O comprovante da compra de Bruno data de 4 da janeiro e o de Jorge de 15 de dezembro. No caso de Bruno, contudo, a compra é de ida e volta e indica que ele retornaria aos EUA no dia 12 de agosto.
Para a defesa, os comprovantes indicam ‘a inexistência de qualquer intenção de se furtar à aplicação da lei penal, muito menos de se evadir do pais em caráter definitivo, o que nos leva a concluir que não podem estar foragidos, tanto é assim que até mesmo a cota Ministerial que promoveu o pedido de prisão indica as datas de saída de Jorge e Bruno, muito antes de qualquer decisão judicial que lhes impedisse de ir e vir’.
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO PMDB:
“O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, afirma que os envolvidos nesta operação não tem relação com o partido e nunca foram autorizados a falar em nome do PMDB.”
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