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Lava Jato investiga Wassef por repasses e lavagem de R$ 2,6 milhões em recursos desviados da Fecomércio do Rio; advogado diz que delator mente

O Ministério Público Federal identificou repasses de ao menos R$ 2,6 milhões feitos em benefício do escritório de Wassef por parte de um outro escritório de advocacia que teria desviado cerca de R$ 4,4 milhões do Senac e do Sesc do Rio, entre dezembro de 2016 e maio de 2017

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Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega , Rayssa Motta , Fausto Macedo e Ricardo Galhardo
Atualização:

 Foto: Reprodução/MPF

Ao pedir a expedição de mandados de busca e apreensão contra dois endereços ligados ao advogado Frederick Wassef, a força-tarefa da Lava Jato no Rio apontou fortes elementos da prática de atos de lavagem de dinheiro envolvendo o ex-defensor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das rachadinhas e dinheiro desviado da Fecomércio. O Ministério Público Federal identificou repasses de ao menos R$ 2,6 milhões feitos em benefício do escritório de Wassef por parte de um outro escritório de advocacia que teria desviado cerca de R$ 4,4 milhões do Senac e do Sesc do Rio, entre dezembro de 2016 e maio de 2017.

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Ex-advogado de Flávio é um dos alvos da Operação E$quema S, deflagrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Receita para investigar suposta estrutura irregular de pagamento a escritórios de advocacia e possíveis desvios de até R$ 355 milhões entre 2012 e 2018 das seções fluminenses do Serviço Social do Comércio (Sesc-RJ), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-RJ) e da Federação do Comércio (Fecomércio/RJ). Em meio ao fogo cerrado que ameaça sua estrutura e seu futuro, a Lava Jato dá seu passo mais audacioso dos últimos tempos. A Operação E$quema S é uma ofensiva arrojada que mira advogados que detêm currículos importantes, sobretudo em Brasília, e que carregam no sobrenome suas maiores credenciais, filhos de ministros de tribunais.

No caso de Wassef, a Procuradoria solicitou autorização para diligências em endereço ligado ao advogado em São Paulo e ainda em seu escritório em Atibaia - local onde o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, apontado como suposto operador financeiro do esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro enquanto deputado estadual no Rio, foi preso no âmbito da Operação Anjo.

 

Na representação enviada ao juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, a Lava Jato fluminense apontou que entre dezembro de 2016 e maio de 2017, foram desviados ao menos R$ 4.475.000,00 da Fecomércio do Rio e seus órgãos subordinados (Sesc e Senac), mediante pagamentos de honorários advocatícios ao escritório da advogada Luiza Eluf - ex-procuradora do Ministério Público de São Paulo e ex-subprefeita do bairro da Lapa, na capital paulista -, por serviços que efetivamente não foram prestados. "Os elementos colhidos até o momento revelam repasses sequenciais de tais recursos a Márcia Zamperon e Frederick Wassef, ocultando a sua origem e distanciando o dinheiro de sua origem ilícita", apontaram.

Segundo o delator Orlando Santos Diniz, ex-presidente da Fecomércio, o escritório contratado no caso, Eluf Santos Sociedade de Advogados foi, na verdade, uma maneira dissimulada de contratar Wassef. O primeiro foi o 'recebedor ostensivo do dinheiro' e ocultou 'os reais proprietários dos valores, em típica atividade de lavagem de capitais', segundo os procuradores.

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"Tão logo os valores relativos a honorários advocatícios devidos pela Fecomércio/SESC/SENAC RJ foram depositados na conta de escritório ELUF, a maior parte deles foi reiterada e sequencialmente destinada a duas principais contrapartes: o escritório Wassef &Sonnerburg Sociedade de Advogados e Marcia Carina Castelo Branco Zampiron", frisou a força-tarefa da Lava Jato.

A Procuradoria da República fluminense ainda apontou que entre janeiro de 2015 e abril de 2017 - abrangendo período em que foram realizadas as transferências do Eluf Santos Sociedade de Advogados vinculadas aos desvios da Fecomércio do Rio - , o escritório de Wassef recebeu mais de R$ 4 milhões de empresas ligadas a Maria Cristina Boner Leo, sua ex-mulher que, até mês passado, defendia e prestava consultorias à família Bolsonaro. Segundo os procuradores, tais movimentações indicam que 'o uso de pessoa interposta para recebimento de valores por Wassef mostra-se como prática reiterada e forma de atuação para prática de lavagem de dinheiro'.

 
 

Em nota divulgada na tarde desta quarta-feira, Wassef disse que  Orlando Diniz foi orientado por advogados a mentir em delação premiada sobre sua participação na estrutura investigada pela operação E$quema S. 'Denunciei no ano passado a uma autoridade pública o esquema e uma engenharia criminosa que estava sendo montada para usar o delator para me atingir e já existe uma investigação em curso apurando tais fatos', disse o advogado em nota sem, no entanto, informar qual é a autoridade mencionada.

Wassef diz ainda que Diniz foi orientado por advogados a mentir para favorecer um outro 'cliente em comum' mas também não diz que seria este cliente. 'O delator Orlando Diniz está deliberadamente mentindo a meu respeito a mando de advogados inescrupulosos que estão usando-o como míssil teleguiado para me atingir visando atender o interesse de um outro cliente em comum', diz o texto.

A residência de Wassef no bairro do Morumbi e os escritórios dele em São Paulo e Atibaia - Fabrício Queiroz foi preso em junho - foram alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira. O advogado disse que nada foi apreendido e negou ter prestado qualquer serviço para a Fecomércio-RJ.

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COM A PALAVRA, O ADVOGADO FREDERICK WASSEF

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"No dia de hoje foi cumprido um mandado de busca e apreensão em minha residência no Morumbi assustando meus pais idosos que moram comigo e não podem ter contato com ninguém pela questão da pandemia . Nenhuma irregularidade foi encontrada e, por consequência, não houve a apreensão de nada . O mesmo se sucedeu em meu escritório de advocacia: nada foi apreendido.

Não fui denunciado como os demais advogados e nada tenho que ver com nenhum esquema de Fecomércio . Jamais fui contratado pela Fecomércio ou recebi pagamentos desta entidade . Fui contratado por um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo que tem como dona uma conhecida procuradora do Ministério Público de SP e que sua biografia é um exemplo de integridade , retidão e honestidade, além de ter dedicado sua vida no combate ao crime como atuante promotora e procuradora de justiça que foi .

Todos os meus serviços , de todos os clientes, foram prestados. Meus honorários foram declarados à Receita Federal e todos os impostos pagos na totalidade . Após dois anos e meio de investigação não fui denunciado . Jamais em minha vida pratiquei qualquer irregularidade e nunca fui investigado ou respondi a qualquer processo . Sou aprovado pelo rigoroso compliance de todos os Bancos e de meus clientes .

O delator Orlando Diniz está deliberadamente mentindo a meu respeito a mando de advogados inescrupulosos que estão usando-o como míssil teleguiado para me atingir visando atender o interesse de um outro cliente em comum.

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Denunciei no ano passado a uma autoridade pública o esquema e uma engenharia criminosa que estava sendo montada para usar o delator para me atingir e já existe uma investigação em curso apurando tais fatos."

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