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Lava Jato identifica novos códigos que podem ser de propina da Odebrecht

Depois de descobrir planilhas com siglas 'acarajés' para designar propina e 'Feira' em referência a João Santana, marqueteiro do PT, Polícia Federal busca com nova funcionária da empresa detida nesta sexta em Salvador significado de registros de valores para 'Operação Kibe' e 'Dragão'

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:
 

A prisão de mais uma funcionária da Odebrecht, Angela Palmeira Ferreira, suspeita de ser responsável pela rede de "acarajés" (propina, para os investigadores) quer seria movimentada pela empresa levou a força-tarefa da Operação Lava Jato à descoberta de uma nova planilha com siglas secretas que pode ocultar os registros da corrupção na Petrobrás.

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O nome de "Angela" foi apontado por Maria Lúcia, em depoimento à PF, depois de ser presa no dia 22 de fevereiro, quando foi deflagrada a 23ª fase das investigações, batizada de Operação Acarajé. Nela, o alvo principal foi o marqueteiro do PT João Santana e sua mulher Mônica Moura, suspeitos de receberem US$ 7,7 milhões em conta secreta na Suíça, tendo como origem a Odebrecht e o operador de propinas na Petrobrás Zwi Skornicki.

Ao contar sua trajetória funcional na Odebrecht à PF, até a chegada ao setor financeiro da empresa, Maria Lucia disse que recentemente atuava sob subordinação do executivo Hilberto Silva, "em equipe também composta por funcionária de nome Angela".

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Nas buscas realizadas na casa de Maria Lucia, no dia 22 de fevereiro, os investigadores da Lava Jato localizaram e-mails escritos por "Angela Palmeira" destinados a ela. São mensagens de março de 2015, com planilhas "com codinomes que sugerem entradas de valores em conta corrente paralela mantida por operadores financeiros".

Em um e-mail de 5 de março de 2015, por exemplo, cujo assunto é "Carioca", há o registro de três colunas. Na primeira datas, que vão de outubro de 2014 a 25 de fevereiro de 2015. Na segunda coluna há dois registros "Operação Kibe 2814", "Dragão 3814", "Dragão 3914" e outras quatro séries "Dragão" com números distintos. Na terceira coluna estão valores em vermelho, com sinal de subtração - num total de "14,2 milhões".

Em outro e-mail, também datado de 5 de março de 2015, Angela manda planilhas para Maria Lucia, desta vez o assunto da mensagem é "Paulista". E seguem-se valores e referências a "Operação Kibe", "Kibe" e "Dragão".

A Polícia Federal prendeu nesta manhã Angela Palmeira e fez buscas na sede da empreiteira em Salvador (BA) e em sua casa. Ao todo foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão e um de prisão temporária, com prazo de cinco dias que pode ser prorrogado ou até convertido em preventiva.

Segundo a PF, a funcionária da empreiteira, que é assistente administrativa, foi presa em casa, no bairro de Pernambués.

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Proteção. Maria Lucia foi solta no dia 2 de março, depois de a força-tarefa decidiu não pedir a conversão de sua prisão temporária em preventiva - como fez com o casal de marqueteiros do PT. Ela está sob proteção e tem colaborado com a força-tarefa, apesara de ainda não ter fechado acordo de delação premiada.

As duas funcionárias atuavam "na gestão do que parece ser uma contabilidade paralela da Odebrecht, destinada ao pagamento de vantagens indevidas", sustenta a força-tarefa da Lava Jato.

Foi com Maria Lucia que foram encontradas as pistas sobre Angela e as "planilhas e anotações que sugerem ajuste de entregas de dinheiro a destinatários ainda não identificados (com exceção do destinatário "Feira", sobre o qual entendemos existirem indícios suficientes de que se trata do casal Môninca Moura e João Santana), dada a utilização de codinomes e senhas".

"Há indícios de que Maria Lúcia na verdade compunha uma equipe especializada, no âmbito da Odebrecht, em gerir recursos de origem ainda não esclarecida, e que propiciavam a disponibilização de valores em espécie a certos destinatários, em endereços e horários previamente combinados", diz a PF.

Pela sistematização dos dados e pela utilização de sistema próprio para o controle dos valores disponibilizados, resta claro que havia alto grau de profissionalização da contabilidade paralela da Odebrecht e da distribuição de "acarajés" a destinatários ainda desconhecidos, possivelmente agentes públicos e políticos, ou de intermediários", informa a Lava Jato.

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COM A PALAVRA, A ODEBRECHT "A Construtora Norberto Odebrecht confirma que, em ação decorrente da 23ª Fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal efetuou hoje mandado de prisão temporária e busca e apreensão em Salvador. A CNO tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários"

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