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Juízes do Trabalho dizem que Bolsonaro 'desconhece realidade de 2,4 milhões de crianças e adolescentes'

Maior entidade dos magistrados da área, Anamatra divulga nota de repúdio às declarações do presidente, que disse 'não ter sido prejudicado em nada por ter trabalhado na infância'

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Por Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:

Jair Bolsonaro. Foto: Dida Sampaio / Estadão

A principal e mais influente entidade dos juízes do Trabalho divulgou nesta sexta, 5, nota de repúdio às declarações do presidente Jair Bolsonaro que disse 'não ter sido prejudicado em nada por ter trabalhado na infância'. "O trabalho enobrece", ele declarou.

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Na avaliação da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Bolsonaro defendeu o trabalho infantil. "O presidente demonstra desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças e adolescentes massacrados pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais", reagiu Anamatra.

A nota é subscrita pela juíza Noemia Garcia Porto, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho.

A entidade assinala que o Brasil tem 2,4 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhando, de acordo com dados do IBGE (PnadC 2016), o que representa 6% da população (40,1 milhões) nessa faixa etária. Desse universo, 1,7 milhão exercem também afazeres domésticos de forma concomitante ao trabalho e, provavelmente, aos estudos.

"Isso sem mencionar os traumas psicológicos advindos do amadurecimento precoce, do enfraquecimento dos laços familiares e do prejuízo ao desenvolvimento da escolaridade, e, consequentemente, das oportunidades", argumenta Anamatra.

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LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DOS MAGISTRADOS DO TRABALHO

Nota de repúdio

A ANAMATRA - Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, entidade representativa de cerca de 4 mil juízes do Trabalho em todo o Brasil, vem a público repudiar as declarações do Sr. Presidente da República, proferidas nesta quinta-feira, 04 de julho, em defesa do trabalho infantil.

Insiste o Presidente da República em condenar a infância e a adolescência brasileiras ao surrado argumento do "ou trabalha, ou vai roubar". Demonstra, assim, desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças massacradas pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais, dos mais de duzentos óbitos e dos mais de 40 mil crianças e jovens que sofreram mutilações e deformações decorrentes de acidentes de trabalho entre 2007 e 2017. Isso sem mencionar os traumas psicológicos advindos do amadurecimento precoce, do enfraquecimento dos laços familiares e do prejuízo ao desenvolvimento da escolaridade, e, consequentemente, das oportunidades.

O que os cidadãos brasileiros aguardam é que o Governo Federal desenvolva políticas públicas de reinserção de 45 milhões de adultos desempregados e subutilizados ao mercado de trabalho. Políticas essas que façam convergir os compromissos do País às Convenções Internacionais 138 e 182 da OIT, das quais o Brasil é signatário, bem como ao caput e o § 3º do art. 227 da Constituição Federal, que atribuem ao Estado brasileiro, que chefia, o dever incontornável de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, os direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, e a oferecer proteção especial diante de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, com especial proteção às garantias trabalhistas e previdenciárias.

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Criança é para estudar e brincar.

Brasília, 5 de julho de 2019.

Noemia Garcia Porto Presidente da Anamatra

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