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Jornalista amigo de Dirceu foi procurado para ajudar na compra de Diário do Grande ABC

Empresário Ronan Maria Pinto, que foi preso na 27ª fase da Lava Jato por recebimento de quase R$ 6 milhões do PT, buscou serviços de Breno Altman, ligado ao partido, como consultor

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:

O ex-ministro José Dirceu e o jornalista Breno Altman, alvo 27ª fase da Lava Jato / Foto: Reprodução

O jornalista Breno Altman, alvo de condução coercitiva nesta sexta-feira, 1, alvo da 27ª fase da Lava Jato - batizada de Operação Carbono 14 - atuou diretamente como consultor informal do empresário Ronan Maria Pinto na compra do Diário do Grande ABC.

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Amigo do ex-ministro José Dirceu e um dos principais pensadores do PT, seu nome foi citado inicialmente pelo doleiro Alberto Youssef como um dos nomes envolvidos na suposta operação de repasse de R$ 6 milhões, em 2004, para um empresário de Santo André (SP), para que quadros importantes da cúpula do PT - entre eles o próprio Dirceu - não fossem envolvidos publicamente no assassinato do prefeito da cidade Celso Daniel (PT), crime ocorrido em janeiro de 2002.

Ouvido pelo Estadão no ano passado, Breno Altman afirmou que conheceu Ronan Maria Pinto por meio do ex-prefeito de Santos Davi Capistrano, onde o empresário atuava no setor de transporte. Ele diz que auxiliou Ronan após a compra do jornal Diário do Grande ABC.

"Quando o Ronan comprou o jornal ele me procurou. Ele queria que eu fosse uma espécie de consultor do jornal. Eu conversei com ele na condição de jornalista. Falei que não tinha como e que iria indicar pessoas", conta ele. "Não prestei serviço nenhuma para ele." Altman afirmou que chegou a conversar com uma jornalista do grupo, sem receber por isso.

Seu nome foi citado pela primeira vez na Lava Jato pelo doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros delatores da Lava Jato. Ele explicou um contrato apreendido com sua contadora Meire Pozza. O material intitulado "Enivaldo confidencial" seria um contrato "referente a um proprietário de uma empresa de ônibus de Santo André/SP" que era guardado a "sete chaves", contou Youssef em seu termo de delação 25, prestado em 26 de outubro de 2014.

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"(Youssef) sabia que Enivaldo Quadrado tinha os documentos guardados no escritório de contabilidade de Meire Pozza, a pedido daquele, por uma questão de resguardo pessoal", explicou Youssef. Questionado pela força-tarefa da Lava Jato sobre o que ele temia, o doleiro disse não saber, mas era algo que guardava "a sete chaves".

 

"Enivaldo Quadrado disse que preparou a triangulação de pessoas que figurariam em tal contrato", explicou Youssef. "O contrato foi feito entre a empresa de Marcos Valério, istó é, a 2S Participações Ltda, e uma outra empresa que Enivaldo indicou." A empresa, para os investigadores, é a Remar. Para isso, o ex-dono da Bônus-Banval "receberia dinheiro ou algum outro favor", contou.

Segundo o doleiro, quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o documento "era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores - PT, chamada Breno Altman". "Sabe que Breno Altman é ligado ao PT, pois o declarante (Youssef) foi a Cuba duas vezes realizar negócios e o mesmo estava presente. O pai de Breno foi um dos fundadores do PT", registra a força-tarefa, no termo de delação.

Breno Altman é jornalista e consultor internacional, com relação próxima com o ex-ministro José Dirceu. Ele nega qualquer envolvimento no caso, diz nunca ter visto Bumlai.

"Indagado sobre o que motivou Breno a realizar tal operação, foi o fato de que o PT estaria sendo ameaçado por conta do caso 'Celso Daniel', de maneira que a documentação foi preparada para atender a determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus."

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O doleiro disse que não poder especificar o tipo de chantagem estaria envolvida, mas que ela "objetivava que tal pessoa 'ficasse quieta' em relação ao Caso Celso Daniel"..

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Altman afirmou que não tem relação algum com os fatos e disse não conhecer o pecuarista José Carlos Bumlai. "Não tenho nada a ver com essa história. Nunca vi Bumlai na minha vida." Filiado ao PT desde a década de 1980, explicou que nunca foi da estrutura partidária do partido.

Ele criticou a delação de Alberto Youssef. "É a delação do comentário, do comentário. Ele ouviu falar do Enivaldo, que ouviu falar de não sei quem. É um negócio doido."

Sobre a citação de Youssef a Cuba, Altman disse lembrar de uma viagem em que o doleiro era um representante do setor hoteleiro, mas que desconhece que ele tenha fechado negócios com o governo local.

"Eu tenho uma atividade profissional que me leva a ir a Cuba. Além de ser jornalista, eu tenho atividades de consultoria internacional para ajudar alguns governos, inclusive Cuba, a arrumar investidores."

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Para Altman, a origem da delação do doleiro é uma tentativa de delação premiada do Marcos Valério. "Essa é origem, ele contou uma história ali de uma conversa em um hotel, em um hotel em que eu nunca estive. Eu imagino que o Marcos Valério, por causa da minha pública relação de amizade com o José Dirceu  deve ter resolvido me trazer para a cena para legitimar o que ele estava tentando fazer, que era uma delação premiada."

"O problema de origem é que as pessoas sabem que eu sou amigo do José Dirceu, eu pago um preço por isso. Eu pago o preço por meus amigos sem nenhum problema, faz parte da vida", disse. "Mas vão construir uma historinha que não para de pé."

O jornalista afirmou conhecer Enivaldo Quadrado há muitos anos. "Nos anos 90 ele trabalhava em uma corretora e eu tinha uma empresa editorial, e ele era o sujeito que aconselhava investimentos, linhas de crédito. Foi uma relação profissional há muito tempo atrás." Altman disse ter sido apresentado a Meire Pozza por Quadrado, para serviços de contadora.

O procurador da República Diogo Castor de Mattos afirmou que além dele aparecer na operação da compra do Diário do Grande ABC, ele mantém ligação com o PT e supostas irregularidades até recentemente. "Ele aparece no pagamento da multa do senhor Enivaldo Quadrado por causa do mensalão." Ele disse que Quadrado confirmou os pagamentos e citou "um empréstimo de R$ 45 mil sem nenhum contrato formal."

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Poder. A Lava Jato atribui a Dirceu o papel de um dos cabeças do núcleo político no esquema que fatiava obras na Petrobrás, em conluio com um cartel de empreiteiras. O esquema, que teria sido sistematizado a partir do governo Lula, tinha como objetivo garantir a governabilidade e a permanência no poder, sustenta a força-tarefa da Lava Jato. Bilhões em propina teriam sido arrecadados, bancando os cofres de campanhas e de partidos da base e da oposição.

O Ministério Público Federal reúne elementos para apontar que o ex-ministro, mesmo depois de preso e condenado no mensalão, passou a usar "recursos ilícitos" para custear uma operação de propaganda política para levantar sua imagem.

Dirceu tem negado, veementemente, envolvimento em qualquer tipo de irregularidade.

COM A PALAVRA, BRENO ALTMAN

Fui surpreendido, na manhã de hoje, com a notícia de que a Policia Federal havia comparecido à minha casa, em São Paulo, com um mandado de condução coercitiva e outro de busca e apreensão.

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Tinha viajado a Brasília para participar de atividades da Jornada Nacional pela Democracia, que ontem reuniu duzentas mil pessoas apenas na capital do país.

Atendendo a orientação dos próprios agentes federais, compareci à sede brasiliense da instituição. Meu depoimento foi tomado durante cerca de uma hora, em clima cordial e respeitoso.

Minhas declarações sobre a investigação em curso, no entanto, poderiam ter sido tomadas através de intimação regular, com data e horário determinados pelas autoridades. O fato é que jamais tinha recebido qualquer convocação prévia para depor.

Aliás, assim foi procedido com demais depoentes do inquérito que envolve meu nome: nenhum deles tinha sido levado a depor sob vara, até esta sexta-feira, respeitando norma legal que estabelece coerção somente para quem foge de comparecer a atos judiciais ou oferece risco à ordem pública.

Só posso reagir com indignação ao regime de exceção que o juiz Sérgio Moro resolveu estabelecer para alguns dos intimados da chamada Operação Carbono 14.

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Infelizmente não é novidade. O atropelo de garantias constitucionais é a prática predominante do magistrado Sérgio Moro e de procuradores que atuam em sua corte.

Desde a condução coercitiva do ex-presidente Lula, tem ficado mais claro aos brasileiros que a Lava Jato faz da intimidação, do espetáculo e do arbítrio suas principais ferramentas de intervenção.

Sob a bandeira de combate à corrupção, trata-se de investigação seletiva e contaminada, cujo objetivo derradeiro é a derrocada do governo da Presidenta Dilma Rousseff, a interdição do ex-presidente Lula e a criminalização do Partido dos Trabalhadores.

Depois das multitudinárias concentrações de ontem e da revogação de decisões arbitrárias do juiz Moro pelo Supremo Tribunal Federal, era de se esperar que a República de Curitiba revidasse. Seu papel principal, afinal, é fabricar fatos que alimentem os meios de comunicação alinhados à oposição de direita.

Sou apenas mais um dos alvos deste tornado antidemocrático.

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Não foi apresentada, durante o interrogatório, qualquer prova ou indício de meu eventual envolvimento no caso investigado, de suposto empréstimo ao empresário Ronan Maria Pinto.

A falta de solidez na inquirição também se revela, por exemplo, pelas perguntas que diziam respeito às atividades de antiga editora da minha propriedade, fechada há quase vinte anos, com indagações até sobre o tipo de livros que publicávamos, e à doação eleitoral de dois mil reais que fiz, em 2006, a Renato Cinco, então candidato a deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro.

O que importava, afinal, era a criação de fato político que realimentasse tanto a Operação Lava Jato quanto a ofensiva por um golpe parlamentar contra a presidente da República.

Apesar de ultrajado em meus direitos de cidadão, continuarei à disposição da Justiça e confiante que, mais cedo ou mais tarde, retornaremos à plena vigência do Estado de Direito.

Mas minha situação pessoal é de pouca relevância. Como jornalista e militante das causas populares, tenho a obrigação de denunciar o esculacho ao qual nossa Constituição e nossas leis têm sido submetidas.

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Também é meu dever, ao lado de milhares e milhares de outros lutadores, continuar nas ruas contra a escalada golpista da qual faz parte a Operação Lava Jato.

Estou orientando meus advogados a entrarem com uma ação no Conselho Nacional de Justiça contra o juiz Sergio Moro, pela ilegalidade de minha condução coercitiva, em decisão prenhe de ilações e especulações.

O Brasil não pode aceitar que um estado policial se desenvolva nas entranhas de nossas instituições democráticas.

COM A PALAVRA, RONAN MARIA PINTO

Nota - Esclarecimentos - Ronan Maria Pinto

Sobre a Fase da Operação Lava Jato Nota Ronan Maria Pinto Há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava Jato, assim como a citação indevida de seu nome. Inclusive ampla e abertamente oferecendo-se de forma espontânea para prestar as informações que necessitassem.

Mais uma vez o empresário reafirmará não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas.

Solicitamos à imprensa atenção a essa nota e mais seriedade e sobriedade na apresentação do empresário, assim como nas informações e afirmações que vêm sendo feitas e divulgadas. Todas as denúncias que o envolveram ao longo dos anos foram ou estão sendo investigadas e Ronan Maria Pinto vem sendo defendido e absolvido. A mais recente, uma sentença de primeira instância, onde houve condenação, encontra-se em grau de recurso.

Essas são as informações.

Aguardamos mais detalhes sobre a totalidade da Operação. Cordialmente,

Assessoria de Imprensa

Atenciosamente,

 

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