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JBS deu R$ 24 milhões para liberar créditos no governo Cid Gomes, diz delator

Wesley Batista revelou à Lava Jato que ex-governador do Ceará foi à sede da empresa pedir dinheiro para campanha de seu sucessor, em 2014, Camilo Santana (PT); pagamentos teriam sido feitos via contratos fictícios e doações eleitorais, como condição para que dívida do Estado com a empresa, de mais de R$ 110 milhões, fosse quitada

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:

Cid Gomes, citado em delação da JBS. FOTO ED FERREIRA/ESTADAO 

O dono da JBS, o empresário Wesley Batista, afirmou aos investigadores da Operação Lava Jato que em 2010 e 2014 deu R$ 24 milhões de propinas, a pedido do ex-governador do Ceará e ex-ministro da Educação Cid Gomes (PDT) para conseguir que o Estado liberasse créditos fiscais de mais de R$ 110 milhões que tinha a receber e estavam atrasados.

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O império empresarial dos delatores que abalaram a República na última semana, tem na cidade de Cascavel, no Ceará, um dos maiores cortumes, para produção de couro para sapatos, vestuário, parte dos ativos comprados da Bertin.

Em 2010, o grupo tinha valores a receber do governo do Estado por créditos de ICMS, segundo conta Wesley. Os pedidos foram feitos em dois momentos, nessa eleição de reeleição de Cid Gomes e depois, em 2014, quando ele apoiou Camilo Santana (PT). O petista foi eleito, ao derrotar o senador Eunício Oliveira, do PMDB.

Em 2010, narra Wesley, o governador Cid Gomes solicitou, via seu secretário da Casa Civil Arialdo Pinho, recursos para a campanha de reeleição. O pedido foi feito ao seu irmão e também sócio da JBS Joesley Batista.

 

"O Joesley concordou em dar R$ 5 milhões, que foram pagos R$ 3,5 milhões por notas frias e R$ 1 milhão por meio de doação oficial. Foram R$ 4,5 milhões, não R$ 5 milhões", afirmou o delator. As doações, "eram propina", afirmou o delator.

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Wesley disse que não se recorda qual era o crédito. E em 2014, o mesmo problema se repetiria. De 2012 a 2014 o governo do Estado não teria liberado nenhuma restituição desses créditos.

Pessoalmente. Wesley contou que em 2014 o então governador Cid Gomes foi pessoalmente fazer o pedido, dessa vez para o candidato que era apoiado por ele na disputa de sucessão.

"Entre junho e julho de 2014, o então governador do Ceará, Cid Gomes, esteve na sede da JBS, em São Paulo, e pediu ao depoente contribuição para a campanha de Camilo Sobreira de Santana ao governo daquele Estado", registra o termo 18, da delação premiada de Wesley, denominada "Ceará", referente ao anexo 20 entregue por sua defesa.

"Nós perguntamos quanto ele esperava de doação, ele falou que esperava de nós R$ 20 milhões.Eu falei 'governador, impossível eu contribuir com R$ 20 milhões, enquanto o Estado me deve R$ 110 milhões e não me paga. Difícil trabalhar no Estado", contou Wesley.

 
 
 

 

O delator afirmou aos procuradores da Lava Jato que os valores eram de restituição de créditos do programa Proapi, de incentivo dado pelo Estado e que prevê restituição de valores investidos com abatimento de ICMS.

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"Ele não falou nada. Saiu, falou 'tá bom, deixar eu ver o que posso fazer sobre esse assunto."

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Duas semanas depois, narra o delator, o secretário chefe da Casa Civivl do Estado Arialdo Pinho e o deputado federal Antonio Balhmann (PROS-CE) os procuraram na sede da JBS. "Com a proposta de liberação da integralidade dos créditos de ICMS a que fazia jus a empresa em troca de R$ 20 milhões, alegando que o dinheiro se destinaria à campanha eleitoral"

Segundo o delator, os emissários de Cid Gomes teriam dito: "O negocio é assim, você paga os R$ 20 milhões e o Estado lhe paga os R$ 110 milhões que tem de crédito. Se você não paga, o Estado não libera. Se você paga os R$ 20 milhões para a campanha, o Estado libera".

O empresário aceitou. "Simples como isso. Eu me vi numa situação que preferia receber os R$ 110 milhões e concordei a pagar 20 milhões para a campanha do candidato Camilo Santana,"

Segundo ele, foram pagos R$ 9,8 milhões por meio de contratos fictícios de prestação de serviços. Wesley entregou na delação todas as notas das empresas que emitiram para esquentar o dinheiro da propina e os valores.

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Os R$ 10,2 milhões restantes foram pagos de forma dissimulada via doações oficiais de campanha para o candidato Camilo Santana e para candidatos do PROS, antiga legenda dos irmãos Cid e Ciro Gomes.

COM A PALAVRA, CID GOMES

O ex-governador Cid Gomes divulgou nota em que negou recebimento de propinas. "Repudio referências em delação que atribuem a mim o recebimento de dinheiro. Nunca recebi um centavo da JBS. Todo o meu patrimônio, depois de 34 anos trabalhando, é de 782 mil reais (IRPF2016), tendo sido duas vezes deputado, duas vezes prefeito e duas vezes governador."

COM A PALAVRA, O GOVERNADOR DO CEARÁ CAMILO SANTANA

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), informou que as doações para sua campanha foram legais e defendeu o ex-governador Cid Gomes.

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"As informações que tenho sobre esse assunto são as veiculadas pela imprensa. O que posso afirmar de forma categórica é que o ex-governador Cid trata-se de um homem sério, honrado e que não compactua com coisas erradas."

"Sobre as doações realizadas na campanha eleitoral, as informações que tenho são de que foram feitas de forma absolutamente correta e dentro da lei. Tanto que todas as contas foram devidamente aprovadas pelo TRE", disse o governador Camilo Santana

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