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'Jamais houve qualquer articulação', reage ex-presidente da Eletrobrás

Valter Cardeal, que caiu no grampo da Polícia Federal na Operação Radiotividade, diz que 'não combinou' versões com o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro, e que empreiteiro Ricardo Pessoa 'inventou uma história para se vingar'

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Fausto Macedo , Mateus Coutinho e Ricardo Brandt
Atualização:

Valter Cardeal foi presidente da Eletrobrás em 2007. Foto: André Dusek/Estadão

O ex-presidente da Eletrobrás, Valter Cardeal, que caiu no grampo da Polícia Federal na Operação Radioatividade - desdobramento da Lava Jato -, afirmou que jamais fez articulação para combinar versões com o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso desde 28 de julho por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Cardeal disse que a menção a seu nome nos autos da investigação da PF 'é uma invenção' do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia e delator da Lava Jato. O ex-presidente da Eletrobrás é categórico: nas obras de Angra 3 obteve uma redução de custo da ordem de R$ 200 milhões.

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Na entrevista ao Estadão, Valter Cardeal respondeu a todas as perguntas, não se esquivou a nenhuma delas. Ele foi incisivo.

ESTADÃO: Houve articulação para combinar versões do sr. com a do almirante Othon?

VALTER CARDEAL: Não, jamais houve qualquer articulação política. Do ponto de vista que a Eletronuclear é uma empresa controlada da Eletrobrás, nós participamos, sim, dos trabalhos sobre a questão do da contratação das empresas que iriam montar Angra 3. Minha obrigação como gestor público, é aprofundar o conhecimento dos custos, reduzir custos, única e exclusivamente. Quando apareceu a citação do dr. Othon (Luiz Pinheiro da Silva) e, em seguida, o Ricardo (Pessoa, empreiteiro da UTC Engenharia e delator da Lava Jato) também me citou, eu queria saber do dr. Othon sobre aquele documento que ele mandou à imprensa, um documento público, nada mais que isso, para usar na minha defesa. O que o senhor Ricardo Pessoa colocou, eu reafirmo, é uma mentira. Não são verdadeiras. Usando o contrato que estabelecia uma redução de 6%, a minha intenção era reduzir 20%. Se você acessar o relatório do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), lá consta detalhadamente o acordo de leniência da Camargo Corrêa. Nada consta a minha pessoa, a não ser a minha intensa luta para reduzir custos. De 20% que acabou em 6%. Ele (Pessoa) inventou uma história para se vingar, porque essa redução de 6%, deu praticamente R$ 200 milhões de redução de custo. É isso, mais nada. A minha ligação ao Othon, presidente da empresa subordinada, e na minha obrigação como gestor público, é ver se esses custos realmente estavam adequados para uma contratação deste porte. E no qual a cláusula contratual previa uma redução de 6% quando a administração desse contrato, eram dois consórcios, fosse feita conjuntamente. É mentira a afirmação do sr. Ricardo, da UTC, não é verdadeira, de que eu sugeri que doasse uma diferença de 10%, que ele concedeu 6%. Na realidade, ele não ia conceder nada, tem toda a documentação. Propuseram 3 de 94, tá tudo escrito no relatório do Cade. Nós não aceitamos, e depois eles concordaram 6, porque era uma cláusula contratual. Não tem uma acusação sequer contra mim neste caso, tanto relatório do Cade, quanto o relatório do Ministério Público Federal do Paraná, força-tarefa da Operação Lava Jato.

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ESTADÃO: O sr foi presidente em que período?

VALTER CARDEAL: Em 2007 e início de 2008. Estou em licença (desde agosto) para uma investigação interna, que está sendo realizada na Eletrobrás, quero que verifiquem tudo. Sou um homem de bem , nunca fiz nada errado na minha vida. Fui 46 anos do setor elétrico, sou diretor de empresas há quase três décadas. Estou em licença até que as investigações sejam concluídas.

ESTADÃO: Prestou algum depoimento no Ministério Público Federal?

VALTER CARDEAL: Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca sequer fui à Polícia Federal na minha vida. Não sou investigado pela Polícia Federal, não sou réu, não sou indiciado. O que tem aqui é realmente uma escuta por telefone normal, que eu liguei para o Othon para saber aquele documento que ele enviou à imprensa, que é um documento público, se ele podia me alcançar uma cópia, só isso, para usar na minha defesa.

ESTADÃO: A PF diz em relatório que vocês teriam combinado suas histórias...

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VALTER CARDEAL: Ela pode dizer o que quiser, só que a verdade é a minha verdade, não dela. E eu parto do princípio, o seguinte, quando eu liguei para o Othon: princípio constitucional, a presunção de inocência tem que ser resguardada.

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