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Itu e seu protagonismo

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Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: DANIELA RAMIRO/ESTADÃO Foto: Estadão

A cidade de Itu pode ser comparada a uma dessas fontes das quais jorra inesgotável fluxo de história, de cultura, de tradição e de protagonismo paulista e brasileiro. Nascida no século dezessete, sob a proteção da Virgem Candelária, em cuja homenagem construiu o templo considerado o mais valioso exemplar do barroco e rococó bandeirante.

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Por ser município rico, tanto no ciclo da cana-de-açúcar como no do café, atraiu a nobiliarquia imperial que, paradoxalmente, atuou em prol da República. Em 1873 ali realizou-se a Convenção Republicana, daí resultando que o ituano Prudente de Moraes se tornasse o primeiro Presidente Civil da República, aclamado em eleição direta.

Essa estância turística sediou o Colégio Jesuítico São Luís, cujo imponente prédio hoje é sede militar do Exército. Os quadros do Frei Jesuíno do Monte Carmelo são tesouro à parte e não se encontra similar em todo o planeta. A juventude dourada do final do século XIX e início do século XX estudava no Colégio Nossa Senhora do Patrocínio. Município heráldico, ainda hoje ostenta inúmeras atrações que permitem instigante e sedutora revisita ao passado genuinamente nacional.

Pois essa cidade realizará a sua Primeira FLIC - Feira Literária e Cultural, entre 19 e 22 de maio, com a presença de inúmeros escritores e artistas plásticos. Como todo movimento destinado ao aprimoramento da vida intelectual, nasce do sonho de poucos, acalentado durante muitos anos e levado a cabo com imenso sacrifício pessoal do grupo de responsáveis.

O lançamento da FLIC foi numa noite muito agradável, organizada por Paulo Stucchi, escritor finalista do Jabuti e entusiasta, seguido por Fernanda, Raquel Aranha, a ativista Jéssica, experiente na Feira Literária de Poços de Caldas e um pugilo de poucos idealistas mais.

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Houve uma performance a cargo de Mel Duarte, jovem nascida na primavera de 1988 - junto com a Constituição Cidadã - e que me encantou por seu amor ecológico. Todo poeta se condói com a situação do Brasil que vê seu patrimônio natural incendiado, devastado, convertido em deserto. É a juventude sensível e amante da poesia que pode bradar, com a esperança de abrandar o coração cruel dos dendroclastas.      Mel Duarte estará na FLIC e já deu significativa mostra de seu talento, ao declamar poemas como

"Pense grande": "Hey, você! Já parou para pensar qual a sua contribuição? O que faz pelas pessoas que vivem ao seu redor, pela sua cidade? Qual a sua habilidade? Tenho certeza de que dentro de você pulsa alguma vontade, um querer em fazer diferente, ir além da margem... Há tempos já deram a letra, que há três tipos de gente: as que imaginam o que acontece. As que não sabem o que acontece. E as que fazem acontecer".

E continua: "Você pode escrever pra sua história um melhor roteiro, recolher ideias do seu pensamento canteiro. Acreditar no seu potencial é um começo. Foque num ideal pra não ter retrocesso. Quer saber do futuro? Mas o que tem feito no presente? Querer mudar o mundo, tem que começar primeiro na gente. Então vai, se movimenta. Obstáculos são postos em nossa vida para que a gente os vença!".

Bem apropriado para os desafios da realização de uma FLIC em Itu que, espera-se, venha a ser a primeira de uma série interminável.

Foi muito gostoso revisitar Itu, onde fui Promotor Substituto e depois Juiz titular da Comarca, na década de setenta do século passado. Conversar com o ex-Prefeito Olavo Volpato, que continua a emprestar seu entusiasmo à cidade e que também está animado com a perspectiva de uma FLIC. Mas também conhecer Maitê Velho, Secretária Municipal de Cultura e do Patrimônio Histórico, ora a encetar uma importante empreitada: fazer com que Itu seja reconhecido Patrimônio Universal. O Estado de São Paulo não tem ainda esse galardão e se existe cidade que merece tal reconhecimento é a Itu heráldica, dos templos barrocos, dos colégios tradicionais, o berço da República e de um raríssimo exemplar, praticamente extinto no século 21: um Presidente da República que morreu pobre. Foi o que aconteceu com Prudente de Moraes.

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Nesse empenho ituano hão de mergulhar todos os paulistas, pois é importante para as novas gerações, saber que há coisas de que podemos nos orgulhar, embora elas tenham tudo para acreditar que isto sempre foi assim.

Itu, Patrimônio da Humanidade, esta é uma cruzada em que vale a pena se engajar. Sem prejuízo, prestigiar a FLIC no mês de maio. Itu para todos!

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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