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Irmã de Aécio caiu no grampo pedindo a delação da Odebrecht

Escutas da Polícia Federal pegaram Andrea Neves insistindo com interlocutor para que repassasse 'a íntegra' das revelações de quatro executivos da empreiteira, entre eles Marcelo Odebrecht e 'BJ', chefão do setor de propinas do grupo

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Por Fausto Macedo , Julia Affonso e Luiz Vassallo
Atualização:

 

Andrea Neves. Foto: Reprodução

A irmã do senador Aécio Neves (PSDB/MG) caiu no grampo da Operação Patmos - que mira o tucano, o deputado Rocha Loures (PMDB/PR) e o presidente Michel Temer - insistindo a um interlocutor para que providenciasse 'a íntegra' das delações premiadas de quatro altos executivos da Odebrecht, entre eles o ex-presidente do Grupo Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 na Lava Jato, e Benedicto Júnior, o 'BJ', do setor de propinas.

'Tem três que são fundamentais. É o Benedito Junior, aliás quatro, Benedito Junior, Marcelo Odebrecht, Sérgio Neves, Henrique Valadares. Esses quatro", indica a irmã de Aécio em ligação de 11 de abril, às 18h36.

 Foto: Estadão

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A delação da Odebrecht é a maior da Lava Jato, uma das maiores do mundo. Ao todo, 77 executivos e ex-dirigentes da empreiteira firmaram acordo com a Procuradoria-Geral da República e denunciaram dezenas de políticos como supostos beneficiários de valores ilícitos no esquema de cartel instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.

A partir desses relatos, o Supremo abriu cinco inquéritos para investigar Aécio.

Andrea foi presa no dia 18 de maio por suspeita de operar propinas para o irmão.

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"Andrea Neves da Cunha, irmã do senador Aécio Neves, além de ser alguém da sua extrema confiança, mostra-se, pelas provas carreadas aos autos, ser a responsável por tratar dos interesses mais caros ao senador, inclusive os ilícitos", assinala o procurador-geral da República Rodrigo Janot no recurso ao Plenário do Supremo Tribunal Federal por meio do qual pede a decretação da prisão preventiva decorrente de flagrante de Aécio.

Andrea Neves, Foto: Cristiane Mattos/Reuters

Janot havia pedido a prisão do tucano, no início da Operação Patmos, mas o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, negou a medida - apenas determinou a suspensão do mandato do senador. A investigação revela que Andrea procurou o empresário Joesley Batista, acionista da JBS, 'para solicitar o pagamento de R$ 2 milhões a titulo de propina'. Joesley fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e passou a gravar diálogos com Aécio e Andrea - além de ter gravado até o presidente Temer no Palácio do Jaburu.

O empresário marcou reunião com Aécio no dia 24 de abril por meio de contato com Andrea 'para tratar da propina solicitada' - o tucano alegou a Joesley que precisava daquele valor para custear despesas com advogados.

A partir de 10 de abril, a Polícia Federal entrou no caso e passou a interceptar as ligações de Aécio e Andrea.

"Nos diálogos captados pela Policia Federal, vê-se que Andrea Neves não só tem plena ciência do envolvimento de Aécio Neves nas ilicitudes, como também o auxilia diretamente nas suas tratativas", assinala o procurador.

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No dia 11 de abril, Andrea caiu no grampo pedindo a seu interlocutor que repasse a ela 'a íntegra' das delações de executivos da Odebrecht. "Andrea demonstra preocupação com a colaboração de quatro indivíduos, Marcelo Odebrecht, Benedicto Júnior, Sérgio Neves e Henrique Valadares", destaca Janot. "Ora, não haveria razão para demonstração de preocupação destes relatos se Andrea Neves não soubesse que Aécio Neves teve participação nos fatos passíveis de serem trazidos na colaboração."

No grampo da PF, dia 11 de abril, Andrea revela ansiedade em por as mãos no conteúdo das delações dos executivos da Odebrecht; "É, é...a íntegra. É que eu tinha que virar a noite aqui com ele para a gente analisar isso. Vê se você fala com o Alckmin lá, com alguém que tá lá."

O interlocutor da irmã de Aécio, Flávio Henrique, responde. "Não, já tá lá...já tá terminando." Andrea insiste. "Mas só, a íntegra desses quatro...O resto a gente nem quer saber agora."

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