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Investir em tecnologias como cirurgia robótica é tão essencial quanto evitar que as pessoas adoeçam

Por Gustavo Cardoso Guimarães
Atualização:
Gustavo Cardoso Guimarães. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há exatos 20 anos, o Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, aprovava a utilização de robôs em cirurgias por vídeo, um marco da evolução tecnológica da medicina. Oito anos depois, a técnica chegava ao Brasil, com a implantação de três equipamentos no país. Desde então, a cirurgia robótica vem crescendo no mundo com impactos positivos na saúde dos pacientes, na formação dos médicos e derrubando mitos, entre eles questões relacionadas a sua eficiência e custo.

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No mundo, em 2020, são realizadas mais de 1 milhão de cirurgias robóticas. No acumulado desde o surgimento da cirurgia robótica, cerca de 6 milhões de pacientes já foram operados. A técnica traz muitos benefícios para os casos em que tem indicação: é menos invasiva, com menos sangramento, mais rápida recuperação e menor tempo de internação. Qualidades que fazem desta técnica, inclusive, essencial no cenário da pandemia de Covid-19.

Também são evidentes os benefícios em relação a economia de recursos para as organizações de saúde. Embora o investimento seja considerado alto por alguns, quando se coloca na conta os benefícios da tecnologia observa-se o quanto o uso de robô na cirurgia é economicamente sustentável, conforme aponta estudo publicado em janeiro deste ano na revista científica JAMA por pesquisadores do Harvard Medical School, Brigham and Women´s Hospital, Weill Cornell Medical College e do Medical Research Council Centre for Transplantation. A pesquisaavaliou os custos diretos e os pagamentos totais de cinco tipos de procedimentos oncológicos que podem ser realizados usando uma abordagem cirúrgica aberta ou robótica.

A principal conclusão dos autores é que foi encontrada uma variação significativa nos custos perioperatórios (durante a cirurgia) de acordo com a técnica cirúrgica, tanto para pacientes (custos diretos) quanto para pagadores (pagamentos totais), sendo que a abordagem robótica foi associada a custos mais baixos para todos os procedimentos oncológicos estudados.

 E como estamos no Brasil? Em nosso país, a evolução da cirurgia robótica acontece de maneira mais modesta do que em países como os Estados Unidos, mas nosso crescimento acompanha a tendência mundial e pode ser considerado relevante dentro de nossa realidade. A estimativa em janeiro, antes do novo coronavírus, era que até o final deste ano, seriam 100 robôs no país, mas - por conta da pandemia - está em 75. Foram cerca de 13 mil cirurgias robóticas realizadas em 2019, com um crescimento anual/médio de 15%. Das cirurgias que realizamos no Brasil, cerca de 60% são na área de Urologia, mas já se percebe um avanço da técnica em outras especialidades.

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No ano passado, nós, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), realizamos 496 cirurgias com a técnica. O número de procedimentos só não é maior no país porque não é coberto pelos planos de saúde e está presente de maneira ainda tímida no sistema público, apenas em algumas instituições de ponta de poucas capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre etc.

Por sinal, foram as organizações de saúde de ponta as responsáveis pela implementação da tecnologia no Brasil. Nesse contexto, muito relevante foi o papel empreendedor de médicos que tiveram possibilidade de conhecer a técnica no exterior e atuar como formadores de opinião dentro de suas organizações. Eu mesmo vivi esta experiência em 2013, quando era médico chefe do Núcleo de Urologia do A.C.Camargo e fui responsável pela introdução e desenvolvimento da cirurgia robótica no departamento e pela disseminação e treinamento da técnica para outras especialidades da instituição. Agora, realizo trabalho semelhante na BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde sou coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos.

O crescimento da técnica de cirurgia robótica revela a importância de não restringir o aprendizado dos médicos às cirurgias abertas. Para os cirurgiões, a curva de aprendizado é acelerada por meio de treinamentos em simuladores muito realistas e eficientes, que evitam a necessidade de utilizar modelos animais. No simulador, o paciente é virtual, mas os movimentos são como reais e o cirurgião só avança ao módulo seguinte quando mostra destreza e comprova que fará o procedimento, em situações reais, com eficácia e segurança para o paciente.

Portanto, em 20 anos no mundo, sendo 12 anos de Brasil, a cirurgia robótica vem crescendo e, acredito, ser este um caminho sem volta, principalmente por ser evidente que é urgente ao sistema de saúde buscar modelos que garantam sua sustentabilidade. Nesse cenário está cada vez mais claro que investir em tecnologias de ponta, como a técnica de cirurgia robótica, é tão importante quanto em ações de atenção primária para evitar que as pessoas adoeçam.

*Gustavo Guimarães é cirurgião oncológico, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo

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