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Investimentos em biotecnologia vão determinar o futuro do setor médico e farmacêutico

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Por Euclides Matheucci Jr.
Atualização:
Euclides Matheucci Jr. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Vivemos um período de inovação tecnológica constante e ela tem andado lado a lado com a ciência para solucionar problemas no setor de saúde em âmbito mundial. Hoje, a biotecnologia é uma ferramenta que ajuda a promover essa inovação no mercado pelo fato de ser uma ciência que combina a tecnologia com o uso de sistemas biológicos e seres vivos, como plantas e bactérias. Com isso, ela consegue criar soluções e produtos específicos que podem auxiliar todo o segmento.

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O sequenciamento de DNA também faz parte da biotecnologia e contribui com inúmeras pesquisas científicas que servem para prevenir doenças ou criar tratamentos específicos. O processo de sequenciamento de genomas tem avançado pelo mundo e o Brasil acompanha este movimento de forma promissora. Em 2020, pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL), que pertence ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), finalizaram um estudo de 10 anos de sequenciamento genético que avaliou mais de mil idosos.

O levantamento representou o maior banco de dados genômicos da América Latina. Com este banco será possível estudar mutações que influenciam no surgimento de doenças na velhice. Tal estudo é essencial, visto que a população tem envelhecido cada vez mais, justamente por investimentos em ciência e biotecnologia, sendo preciso criar tratamentos adequados para que esta parcela consiga envelhecer de maneira mais saudável. Um exemplo mais claro é em relação ao Alzheimer e outros tipos de demência senil, dependendo da tipo de doença que um idoso pode ter, os medicamentos utilizados são diferentes, o que torna o refinamento de diagnóstico por meio da biotecnologia essencial para otimizar os tratamentos.

Cerca de 50 milhões de pessoas sofrem de demência no mundo, e aproximadamente 70% desses casos são de Alzheimer, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2020. Atualmente, a população da terceira idade no Brasil compõe mais de 37,7 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estima-se que 1 milhão desses idosos possuam algum tipo de demência, sendo Alzheimer a principal, e ainda existe uma previsão de daqui 30 anos esse número suba para 4 milhões de brasileiros, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Queensland, na Austrália. Ter essas informações nos ajuda com o gerenciamento e planejamento da saúde em termos governamentais e privados.

Seria muito interessante caso um convênio médico, por exemplo, conseguisse identificar quantos pacientes em sua base possuem uma propensão a desenvolver Alzheimer. Isso permitiria a realização de tratamentos preventivos eficazes que poderiam postergar o surgimento dos primeiros sintomas, melhorando a saúde dos pacientes e ainda economizando recursos do plano de saúde. Podemos afirmar que o exemplo de uso de dados médicos de predisposição ao Alzheimer por parte dos convênios contempla o conceito de medicina de precisão, que já é utilizada há muito tempo no setor.

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Em um artigo para o The New England Journal of Medicine, os doutores Francis S. Collins e Harold Varmus afirmam que o conceito não é novo, já que o processo de tipagem sanguínea serviu para nortear as transfusões de sangue por mais de um século. A partir desta tipagem, a transfusão sanguínea só pode acontecer se o sangue do doador for equivalente ao de quem está recebendo. Pode até ser curioso imaginar que as transfusões ocorressem de forma diferente dessa, mas para isso ser possível foi necessário esse investimento na medicina de precisão.

Outra aplicação da biotecnologia é a farmacogenética, que consiste na ciência que avalia como o metabolismo absorve determinados remédios segundo a variação genética de cada indivíduo. Essas informações poderiam ser utilizadas por parte dos médicos como forma de receitar os medicamentos mais adequados aos seus pacientes, acelerando assim os tratamentos. É claro que ainda é necessária a avaliação de todas as questões éticas em relação ao uso destes dados dos pacientes por parte das empresas privadas e até pelo sistema público de saúde, mas saber como utilizar a biotecnologia no setor médico será determinante para promover uma maior qualidade de vida para as pessoas por meio da medicina preventiva.

*Euclides Matheucci Jr. é cofundador e diretor científico da empresa de biotecnologia DNA Consult, além de professor e orientador no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia na Universidade Federal de São Carlos

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