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Institucionais e FIDCs: por que essa combinação dá certo

Por Ricardo Binelli
Atualização:
Ricardo Binelli. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Movimentos mais relevantes de curva de juros costumam mexer com os processos decisórios de investimento, especialmente quando existem metas de rentabilidade a serem atingidas. Acompanhado pelo aumento nas taxas de juros futuros, o incremento inflacionário tem levado os investidores institucionais, em especial as fundações, a olharem mais atentamente para os FIDCs, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios. As motivações a justificar essa aproximação são diversas e têm se mostrado cada vez mais consistentes.

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Rentabilidade diferenciada

Primeiramente, temos a rentabilidade diferenciada dos FIDCs entre os ativos de crédito privado e de renda fixa. Vivemos um momento de prêmios interessantes, que serão carregados por toda a vida do FIDC, cujo prazo costuma superar os três anos. E com a perspectiva de melhora no cenário de crédito, associado a um CDI crescente, o nível de remuneração praticado pelos FIDCs é altamente competitivo para as metas atuariais dos investidores institucionais.

Outro ponto de sintonia é que a liquidez imediata não é preocupação das fundações, porque trabalham com prazos mais longos, assim como os oferecidos pelos FIDCs. O importante é que, observado um nível de risco adequado, a classe de ativos pague prêmios interessantes e com consistência ao longo do tempo - e isso é o que os FIDCs têm entregado.

Proteção e governança mitigam riscos

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Outro ponto valorizado pelos institucionais é o grau de proteção e governança próprios dos FIDCs, resultando em uma boa relação risco-retorno. A inteligência da estruturação envolve tanto o regramento da política de crédito e a definição de portas de saída para situações de risco previstos no regulamento, como a estrutura de capital, em que cotas subordinadas funcionam como um "colchão de proteção" para as cotas seniores no que diz respeito à inadimplência.

Para fins de fiscalização e acompanhamento das suas operações, ainda há a participação de diversos entes, todos regulados, no processo de controle do FIDC. Assim, periodicamente, gestor, administrador, custodiante, agência de classificação de risco e empresa de auditoria têm obrigação de se manifestar formalmente sobre os ativos da carteira. Fora isso, o gestor de FIDC pode contar com ferramentas e tecnologias especializadas de monitoramento para olhar o recebível em si, mitigar o risco de fraudes e acompanhar a performance de crédito do portfólio.

Dos últimos anos para cá, as cotas seniores e mezaninos que foram atingidas por problemas de inadimplência representam algo perto do desprezível. E a audiência pública que discute as normas dos FIDCs na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trará outros elementos para mitigar substancialmente também o risco de fraude - a minuta prevê, por exemplo, a necessidade de registrar os recebíveis em registradoras terceiras, ficando claro quem é o originador e impossibilitando a venda em duplicidade. Ou seja, o investidor estará ainda mais seguro, sob várias camadas de estruturação, controle e proteção.

Resiliência em crises

A resiliência do FIDC durante momentos de crise é outro aspecto sendo levado em conta pelos institucionais. Ano passado, por exemplo, os FIDCs passaram com mérito por um teste de estresse considerável. Muitos dos FIDCs com captação operam com pequenas e médias empresas (PMEs) e havia uma preocupação de como eles transitariam durante a crise, dada a exposição a esse segmento. O que vimos, no final do ano, é que os FIDCs se comportaram exemplarmente.

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No momento mais incisivo da crise, os gestores foram muito cuidadosos com sua originação, especialmente no período mais ácido da pandemia. Por serem recebíveis de prazo curto, os FIDCs conseguiram ajustar rapidamente suas carteiras e passaram a direcionar as operações para setores mais protegidos. Isso favoreceu a retomada das receitas, beneficiadas ainda pelo aumento das taxas praticadas naquele momento. Agora, o nível de vencidos continua controlado, e o nível de adimplência das carteiras, plenamente satisfatório e dentro do esperado.

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Sustentabilidade

Mais um motivo para a compatibilidade dos institucionais com os FIDCs é a sua capacidade de apoiar o investidor no cumprimento de seus objetivos ESG. A categoria dos FIDCs socioambientais está em vias de ser regulamentada pela CVM - e será a primeira classe de fundos a poder receber o rótulo ESG no Brasil, certificada por critérios ambientais, sociais e de governança. Por exemplo, a ideia de fundos de energia já faz parte da tradição dos FIDCs. Olhando para frente, devemos ter um crescente de FIDCs de energia limpa - solar, eólica e outras possibilidades. Outro exemplo, agora sob a ótica social, são as instituições de microcrédito, que terão nos FIDCs uma ferramenta adicional de funding.

Boas perspectivas

Hoje, vemos dados da Anbima mostrando que os FIDCs já captaram R$ 31,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, praticamente igualando o total de todo o ano de 2020. Em termos de patrimônio total, os FIDCs mostram evolução de 25% no ano. E as perspectivas para a segunda metade de 2021 são ainda melhores, com a progressiva retomada esperada na economia. Estamos vendo um crescente na operação de FIDCs, que estão disputando o bolso dos investidores e, por isso, pagando prêmios interessantes. Esses prêmios vão continuar aparecendo por um bom tempo com a oferta crescente.

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Em um ambiente desafiador para atingir suas metas atuariais, o mercado institucional está atento ao crédito como uma via complementar na alocação de renda fixa. A rentabilidade de títulos públicos deixa de ser zona de conforto e as instituições vêm olhando para várias outras classes de ativos para diversificar. O interesse por FIDCs tem chamado atenção positivamente e os sinais de expansão na oferta de FIDCs são muitos. Volume consistente de ofertas de diversos lastros, precificação atraente e competitiva e perspectivas de recuperação da economia sustentando a boa performance de crédito representam oportunidades que os investidores institucionais podem aproveitar desde já.

*Ricardo Binelli é sócio e diretor responsável pela gestão de produtos de crédito estruturado na Solis Investimentos

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