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Informante avisou Procuradoria sobre 'container de quadros' na casa de ex de Sérgio Cabral

Alvo de busca e apreensão, Susana Neves Cabral é investigada pela força-tarefa da Lava Jato; Ministério Público Federal recebeu relatos sobre ‘diversas caixas de papelão, plásticos bolha e embalagens’ em imóvel na cidade histórica de São João Del-Rei, Minas

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Por Julia Affonso
Atualização:

Susana Cabral em janeiro de 2017. Foto: Fábio Motta/Estadão

Informantes alertaram o Ministério Público Federal sobre 'movimentação de grande quantidade de obras de arte' em um imóvel pertencente à Susana Neves Cabral, ex-mulher do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), em São João Del-Rei, Minas Gerais. Endereços ligados à Susana Cabral no Rio e em Minas foram alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em investigação da força-tarefa da Operação Lava Jato.

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OBRAS DA EX

O Ministério Público Federal apura se o imóvel em São João Del-Rei está sendo usado para guardar bens de valor adquiridos com recursos ilícitos do esquema atribuído ao ex-governador Sérgio Cabral, como obras de arte.

Segundo a Procuradoria da República, no Rio, os informantes 'solicitaram sigilo de suas qualificações' e relataram que, 'por volta de janeiro e fevereiro de 2017, teriam sido entregues e pendurados diversos quadros no imóvel localizado na Praça Professor José Batista, nº 32, Centro, São João Del Rei/MG'.

"Um dos informantes relatou ter avistado o descarregamento de um "container de quadros" na referida casa, enquanto outro narrou ter visto um quadro grande sendo pendurado em parede do imóvel e ouvido intenso barulho de furadeiras ao longo de vários dias, a indicar a instalação de diversos quadros", narrou a força-tarefa da Lava Jato ao juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, do Rio, que autorizou as buscas.

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"Além disso, um dos informantes observou que, nos dias que se seguiram, foram paulatinamente descartados no lixo diversas caixas de papelão, plásticos bolha e embalagens, situação que perdurou até o momento da diligência (abril/2017)."

Susana Neves Cabral já havia sido alvo da Lava Jato em janeiro deste ano. A Procuradoria afirmou que o endereço de Minas, no entanto, não foi alvo de mandado de busca e apreensão na ocasião, 'uma vez que o imóvel somente se tornou conhecido a partir da análise dos dados de afastamento de sigilo fiscal da empresa Arara Empreendimentos, em nome da qual foi adquirido'.

A Araras Empreendimentos é controlada por Susana. O imóvel, segundo a força-tarefa, foi comprado por R$ 600 mil 'sem que, aparentemente, tivesse recursos de origem lícita compatível'.

A Receita detectou que a Araras teve movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada e distribuiu lucros e dividendos incompatíveis com as receitas auferidas, nos exercícios de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015. O levantamento demonstra que a sede da empresa é a própria residência de Suzana, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, e que não há nenhum empregado registrado.

As investigações também apontam que a ex de Cabral utilizou sua empresa para ocultar a origem ilícita de R$ 1.266.975,00.

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Entre 25 de outubro de 2011 e 13 de dezembro de 2013 foram identificadas 31 transferências bancárias de recursos oriundos do grupo de empresas da empreiteira FW Engenharia, por intermédio da empresa Survey Mar e Serviços Ltda, que realizou pagamentos à Araras Empreendimentos a título de serviços de consultoria em valor quase duas vezes maior que a sua renda bruta declarada. Quase 50% dos valores recebidos pela Survey da FW no período analisado pela investigação foram repassados logo em seguida para a empresa de Suzana Neves.

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"Toda a movimentação aponta para lavagem de dinheiro pago como propina à organização criminosa em contratos que o Governo do Estado do Rio de Janeiro firmou com a FW Engenharia", diz a Procuradoria. "Em diligências de busca e apreensão autorizadas durante a Operação Calicute, foram apreendidas diversas anotações que indicam o pagamento de propina pela empreiteira FW Engenharia em benefício da organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral. Um dos contratos firmados com a empresa, no valor de R$ 35 milhões, teve por objeto a elaboração de projeto executivo e a execução de obras complementares de urbanização no Complexo de Manguinhos, comunidade beneficiada pelo PAC Favelas. A contratação foi financiada com recursos da União provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento."

As oito denúncias já apresentadas pela força-tarefa da Lava Jato, no Rio, apontam 'como Sérgio Cabral instituiu, ao assumir o Governo do Rio de Janeiro, em 2007, um esquema de cartelização de empresas e favorecimento em licitações, mediante pagamento de propina de cerca de 5% em todas as grandes obras públicas de construção civil contratadas junto ao ente público, quase sempre custeadas ou financiadas com recursos federais'.

As investigações demonstram que a organização desviou mais de US$ 100 milhões dos cofres públicos mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO SÉRGIO RIERA, QUE DEFENDE SUSANA CABRAL

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NOTA DE ESCLARECIMENTO

Susana Neves Cabral esclarece que nunca ocultou obras de arte ou outro bem de quem quer que seja. Como afirmado em seu depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em 26 de janeiro último, sempre esteve, e está à disposição das autoridades para prestar quaisquer informações, não sendo necessária a adoção de medida extrema.

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