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Infertilidade e saúde global do homem vão muito além de um espermograma

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Por Leonardo Seligra Lopes
Atualização:
Leonardo Seligra Lopes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A infertilidade é definida como a dificuldade que um casal tem em conseguir uma gestação por concepção natural em um determinado tempo. É considerado estado de alerta quando essas tentativas frequentes e, sem resultado, permanecem em um período de seis meses a um ano, considerando também que este período inclui a fase fértil da mulher, e o principal fator a ser considerado é a idade. Parece simples, mas é só a ponta do iceberg.

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Estima-se que 15% da população mundial passem por esse processo, o que significa que 1, em cada 5 casais, esteja atravessando uma etapa que tem influência na saúde como um todo, na parte física, psicológica e social. Entre as causas de infertilidade, o fator masculino pode estar envolvido em até 70% das vezes, sendo que, em 20% dos casos, de maneira exclusiva, sem fatores femininos identificados. Isso já justifica e intensifica a mensagem que, em caso de dificuldade de gravidez, ambos os parceiros devem buscar uma avaliação com especialista. O urologista é o médico que deve ser buscado pelo homem.

Enquanto fazemos a história clínica e exame físico, buscamos possíveis causas que podem ser genéticas, hormonais ou anatômicas. E, para alguns não especialistas, essa análise se resume ao exame e análise seminal conhecido por espermograma. Porém, esse exame é muitas vezes mal realizado e mal interpretado, causando decisões equivocados em como conduzir o problema.

O espermograma alterado não é um atestado de esterilidade, mas a infertilidade é um alerta de saúde. Sabemos que o homem infértil tem mais chance de desenvolver outras doenças como diabetes, alterações metabólicas e inclusive alguns tipos de câncer. Quando esse paciente vem ao meu consultório, é a janela de oportunidade para entender melhor como esse individuo está cuidando da sua saúde e quais os riscos que ele tem em relação a saúde no futuro.

Entre as causas mais comuns, hoje, associado à infertilidade é uma outra pandemia que já está entre nós há algum tempo que é a obesidade. O indivíduo obeso tem seu metabolismo em constante desequilíbrio, em fatores de radicais livres de oxigênio, e um processo inflamatório sistêmico que interfere em diversos órgãos e sistemas, ele também tem alterado o eixo hormonal da testosterona, que tem importante contribuição nas questões sexuais e de fertilidade do homem. Além disso, os riscos associados de diabetes, hipertensão, doenças vasculares e apneia do sono.

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Casais inférteis têm maiores índices de distúrbios emocionais como ansiedade e depressão, e afeta ambos os sexos. Isso ocorre não só pelo fator estressado da dificuldade de gravidez, mas também quando iniciam a jornada de investigação e tratamento para uma questão que deve sim ser considerada como um problema de saúde pública. Os aspectos emocionais ainda interferem nos aspectos sociais.

Sentimentos como culpa, incapacidade e desesperança somam-se a impactos sociais de cobrança quanto a ter filhos.

Os casais de meia idade começam a ser excluídos de eventos de amigos da mesma idade porque não tem filhos, até julgados erroneamente sobre cuidados e precauções com crianças.

A boa notícia é que podemos ajudar esses homens em diversos cenários. Desde o início da vida e adolescente, quando ainda eles nem pensam nessa questão. É possível fazer diagnósticos de fatores anatômicos, como a presença de varicocele, dilatação das veias que drenam o sangue testicular ou, ainda, prevenções em relação às infecções sexualmente transmissíveis. Além disso, orientar quanto o uso de medicações e substâncias com potencial tóxico para fertilidade, no futuro, como esteroides anabolizantes e drogas como maconha e cocaína.

Já na vida adulta, identificar fatores como baixos níveis de testosterona por questões funcionais como obesidade, diabetes e síndrome metabólica são potenciais fatores reversíveis de infertilidade. Também podemos avaliar as questões anatômicas e presença de obstruções das vias seminais ou a presença da varicocele, não corrigida na infância, e às vezes, procedimentos cirúrgicos podem ser a solução dos problemas.

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Mas, também ainda entender fatores específicos como alterações genéticas de cariótipo ou do cromossomo Y, responsável pela produção de espermatozóides. Ainda assim, com o passar dos anos e desenvolvimento de novas tecnologias e melhor conhecimento das alterações que causam infertilidade outros cenários antes considerados fim da linha têm opção de tratamento. Hoje, mesmo para homens que não tem espermatozóides no ejaculado, conhecido por azoospermia, temos como ajudá-los com técnicas de reprodução assistida, nesse caso a fertilização in vitro, com uso de espermatozóide extraído diretamente dos testículos e com injeção intracitoplasmática no óvulo.

As pesquisas continuam, e cada vez mais evoluímos para encontrar tratamentos e possibilidades reais de ajudar esses pacientes. A mensagem final é que o tema infertilidade não pode ser negligenciado por nenhuma esfera da sociedade pacientes, médicos e governantes. O número de pessoas impactadas, apesar de já elevado, pode estar ainda subdimensionado, com impactos relevantes na saúde global do homem.

*Leonardo Seligra Lopes, urologista e andrologista, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia de SP

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