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Inclusão e diversidade como potencializadores do desenvolvimento econômico

Por Carlos José Santos da Silva (Cajé) e Victor Santa Cruz
Atualização:
Carlos José Santos da Silva (Cajé) e Victor Santa Cruz. FOTOS: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Não é de hoje que o Brasil é um país desigual, seja entre ricos e pobres, homens e mulheres, negros e brancos, pessoas heterossexuais e aqueles pertencentes à comunidade LGBTQIAP+.

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A desigualdade, em todas as suas faces, se apresenta em números consideráveis e alarmantes no País. Segundo pesquisa do IBGE, em 2020, o desemprego entre a população negra era 71% maior do que em relação à população branca. E não para por aí. Segundo estudo realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, em 2020, o Brasil continuou no topo do ranking de países que mais mata pessoas da comunidade LGBTQIAP+ no mundo.

O relatório sobre a riqueza global de 2020 feito pelo banco Credit Suisse,[1] apontou que 49,6% de toda a riqueza produzida no país ficou na mão de 0,1% da população brasileira. Nosso índice de Gini, responsável por aferir o nosso nível de desigualdade, chegou a pontuar 89 no mesmo ano, o que significa que quanto maior o valor, maior a desigualdade encontrada.

A responsabilidade por termos vários brasis dentro de um só, não se dá apenas em razão da nossa diversidade cultural, mas também em decorrência da grande desigualdade e estratificação social existente, uma vez que pessoas negras, mulheres, indígenas, PCD e LGBTs dificilmente terão as mesmas oportunidades de emprego e estudo que homens héteros brancos.

A promoção da Diversidade e Inclusão no mundo corporativo e da própria Administração Pública, são ações afirmativas capazes de proporcionar uma gama de oportunidades para as pessoas que fazem parte desses grupos, desses pequenos brasileiros. Tal política, além de proporcionar uma maior inserção desses grupos no mercado de trabalho e em posições estratégicas da Administração Pública, não só é a coisa certa a se fazer por atender aos direitos humanos, mas também ao princípio da justiça e isonomia social.

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É indispensável que grandes empresas brasileiras apóiem projetos sociais, capazes de ajudar o desenvolvimento humano em contextos limitantes. Há, de fato, uma nova metodologia de pensamento nas Companhias, com foco exclusivamente na evolução de seus papéis sociais em meio à comunidade. A era da humanização chegou e essa conscientização agrega valor bastante às atividades desempenhadas pelas organizações.

Vivemos em uma época na qual as informações chegam e se vão cada vez mais rápidas, um mundo mais conectado e competitivo, onde o que produzimos e fazemos pode ficar ultrapassado com muito mais facilidade. Por isso, para que as empresas não fiquem paradas no tempo, é preciso ter em mente as necessidades sociais que hoje o mercado exige, pois a realização destas iniciativas demonstra que existe sensibilidade da empresa focada na temática social.

Empresas e Instituições, públicas ou privadas, com homogeneidade de funcionários e cultura, tendem a ser menos inovadoras e, por conseguinte, menos competitivas nesse mercado onde a velocidade de ação e a inovação são cada vez mais importantes. Um ambiente e uma cultura pautada na diversidade é capaz de apresentar inúmeras possibilidades para resolução de inúmeros problemas, pois é capaz de ver a situação problema a partir de várias óticas.

Para se ter uma idéia, de acordo com uma pesquisa feita pelo Hay Group com 170 empresas brasileiras, aproximadamente 76% dos funcionários consultados se preocupam com a diversidade e reconhecem que têm espaço para expor suas ideias e inovar no trabalho. Já nas empresas que não têm a diversidade como pauta e agenda, esse número cai para 55%.

Com uma política pautada na Diversidade e Inclusão as empresas brasileiras e a própria Administração Pública, podem se tornar muito mais eficientes e inovadoras, não à toa, algumas das grandes empresas nacionais e internacionais já apresentam em alguma medida a inserção de tais políticas, o que é uma postura admirável.

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Fato é que uma política de Inclusão e Diversidade por mais que seja recente no Brasil, é algo que vem com muita força internacionalmente, sendo uma tendência de mercado. O Pacto Global da ONU, por exemplo, já reúne diversas empresas mundo afora, construindo uma rede com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável baseadas em práticas ESG, termo que pode ser utilizado para identificar o quanto uma empresa procura reduzir os danos socioambientais e como ela promove o desenvolvimento sustentável.

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Segundo relatório da PwC[2], empresa de consultoria e auditoria, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os critérios ESG, o que representa US$ 8,9 trilhões. Além disso, 77% dos investidores institucionais pesquisados disseram que planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos.

Nas palavras de Valerie Jarrett, presidente da Fundação Barack Obama, em um evento virtual  promovido pela NRF Retail Converge em junho de 2021:"[Essa geração] presta atenção se as empresas são ou não socialmente responsáveis. As empresas se preocupam com o meio ambiente? Se concentram na diversidade e inclusão?". Isso pressiona essas empresas, disse ela, a responder ao que o consumidor e a força de trabalho desejam. E conclui, "Os conselhos corporativos estão cada vez mais falando sobre preconceitos implícitos, oportunidades de mentoria, responsabilidade social etc., e o ativismo está em ascensão. Não se trata apenas de ser a coisa certa a fazer. As pessoas estão reconhecendo que a diversidade é uma força e uma vantagem competitiva."

O estudo "A diversidade como alavanca de performance", produzido pela consultoria McKinsey, apontou os ganhos que uma companhia com um quadro diversificado de colaboradores vale destacar, dentre outros, os seguintes: (i) Probabilidade 33% maior de ter uma performance financeira superior comparado com organizações que não possuem uma representação étnica e diversificada em seus quadros; (ii) um turnover menor entre seus colaboradores; (iii) maior habilidade de atrair talentos, incrementar a experiência dos clientes, e a satisfação dos funcionários

A Inclusão e Diversidade não são apenas uma ação afirmativa para transformar o ambiente institucional mais competitivo frente a essa "nova" globalização, mas sim um instrumento capaz de reverter alguns daqueles dados que mencionamos no começo de nosso texto, se tornando uma ferramenta presente em políticas socioambientais, capaz de trazer desenvolvimento econômico, social e humano ao Brasil. E vai além, pois ela é capaz de mostrar todo potencial, inteligência e garra de todos aqueles grupos que morrem todos os dias nas ruas das cidades brasileiras, apenas por serem quem são ou por não serem "vistos" por boa parte da sociedade.

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O Brasil é uma potência com grandes reservas naturais e diversidade cultural, mas que ainda não está no mercado de trabalho. Diversidade essa que com políticas de Inclusão podem transformar negócios e realidades, trazendo mais investidores e Desenvolvimento Sustentável, baseado não só no respeito ao meio ambiente, mas também às pessoas e à cultura. Um desenvolvimento que precisa e deve combater as nossas desigualdades.

 * Carlos José Santos da Silva (Cajé) é presidente do Conselho Diretor no CESA (Centro de Estudos das Sociedades de Advogados) e sócio do Machado Meyer Advogados; Victor Santa Cruz é estagiário do escritório e estudante beneficiado do Projeto Incluir Direito

[1] The Global Wealth Report. Disponível em: https://www.credit-suisse.com/about-us/en/reports-research/global-wealth-report.html. Acessado em: 01 de dezembro de 2021.

[2] https://pactoglobal.org.br/pg/esg

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