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Heleno confirma troca de segurança de Bolsonaro no Rio e enfraquece defesa do Planalto

Ofício do Gabinete de Segurança Institucional enviado à PF mostra que governo trocou, sem dificuldades, o diretor da segurança presidencial no mês anterior à reunião ministerial de 22 de abril

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Por Paulo Roberto Netto , Rayssa Motta/SÃO PAULO e Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA
Atualização:

O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), confirmou à Polícia Federal que foram feitas ao menos duas trocas na segurança pessoal do presidente Jair Bolsonaro, uma delas ocorreu um mês antes da reunião ministerial de 22 de abril. No encontro, o presidente demonstrou insatisfação com a Polícia Federal, mas afirmou que se referia às dificuldades para efetuar mudanças em sua segurança no Rio.

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INQ 4831

De acordo com as informações enviadas por Heleno, no dia 30 de março deste ano, o GSI dispensou o coronel do Exército André Laranja Sá Corrêa da função de Diretor do Departamento de Segurança Presidencial da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial. A saída ocorreu sem dificuldades, fragilizando a defesa do presidente. Laranja Sá assumiu o comando da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada de Pelotas (RS).

A mudança foi noticiada pelo Jornal Nacional em maio, que narrou trocas promovidas por Bolsonaro em sua segurança pessoal, incluindo a promoção do número dois do GSI Rio para o lugar de Laranja Sá sem qualquer dificuldade. Após a reportagem, Heleno alegou que a declaração do presidente da reunião não era uma reclamação da segurança pessoal no Rio, e sim um 'exemplo' de situação em que, caso houvesse oposição à troca, ele poderia demitir o ministro para que sua decisão fosse cumprida.

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O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, conversa com o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto. Foto: Dida Sampaio / Estadão

Durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, tornada pública por decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, o presidente cobrou mudanças no governo e pressionou o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, sob alegação de que não vai esperar 'foder a minha família toda'.

"Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira", disse Bolsonaro.

O ofício de Heleno foi enviado à PF após a corporação cobrar do GSI todas as trocas feitas na segurança pessoal do presidente no Rio. Além do coronel Laranja Sá, o general de Brigada Nilton José Batista Moreno Júnior foi exonerado em janeiro do ano passado, logo após a posse.

Moro acusa o presidente de interferir politicamente no comando da PF para obter informações sigilosas. O inquérito que apura o caso deve avançar nos próximos dias, quando Celso de Mello deverá decidir sobre o pedido da PF para ouvir Bolsonaro. O decano avalia obrigar o presidente a comparecer presencialmente - diferente de prerrogativa adotada com o ex-presidente Michel Temer, na investigação da JBS, em 2017, que depôs por escrito.

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