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Hábitos e expectativas da população dão pistas para o planejamento da saúde no mundo pós-covid-19

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Por Thyago Mathias
Atualização:
Thyago Mathias. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Uma das mudanças regulatórias mais visíveis que a covid-19 trouxe para o setor de saúde no Brasil foi a liberação expressa do uso da telemedicina. Encarada como aliada fundamental para desafogar o pronto-atendimento em hospitais e evitar expor pacientes a riscos de contaminação desnecessários, entretanto, ela não está entre os hábitos que os brasileiros parecem mais propensos a manter quando a pandemia passar.

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O índice de pessoas que pretende usar mais a telemedicina no Brasil (46%) é o único que não chega a alcançar metade da população, na comparação com mexicanos (57%) e norte-americanos (52%). Este é um dos dados que marca particularidades muito próprias de nosso país, reveladas na pesquisa Expectativas de Mudança (Shifting Expectations no original em inglês) realizada pelo segmento de Comunicação Estratégica da FTI Consulting nos três países.

Lançada na segunda metade de abril, a pesquisa ouviu cerca de 3,6 mil pessoas nos três países, sendo 1,2 mil distribuídas nas cinco regiões do Brasil e refletindo as segmentações do IBGE de modo a compreender a realidade de toda a população. Ela também incluiu entrevistas com 427 de investidores de varejo e 577 líderes comunitários, de modo a dar indicações de hábitos, medos e expectativas que podem mudar o mundo como conhecemos quando a covid-19 estiver controlada. São dados que contribuem para as discussões para planejamento dos próximos passos e que ajudam reguladores e empresários em seus processos de tomada de decisão.

Entre as tendências que devem impactar diretamente a produtividade, os custos e a gestão de talentos das empresas no médio prazo está, por exemplo, a expectativa de que as corporações venham a adotar políticas e uma comunicação voltada à saúde mental de seus colaboradores. Isso pode culminar na contratação de chief medical officers (CMOs) pelos maiores grupos, com o objetivo de desenhar estratégias de atenção e resposta à saúde tanto de funcionários quanto de clientes e outros stakeholders - medida apoiada por 51% dos brasileiros e 52% dos americanos.

Neste mesmo cenário, a discussão sobre o uso da telemedicina ganha novos contornos, uma vez que o tema vem sendo discutido no âmbito do Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 2002, sem chegar ainda a uma regulamentação definitiva. Entre muitos prós e contras, ele se impôs como uma realidade no mundo da covid-19. Saber se veio para ficar, depois que pacientes e outros pagadores do setor - entre governos, planos e gestores de saúde - a tenham experimentado é uma discussão que ainda passa por ações maior de esclarecimento e mudança de percepção, apesar de partir de um patamar nada ignorável.

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É natural que, vivendo a pandemia no auge das medidas de isolamento social, a população dê uma atenção maior para questões relacionadas ao setor de saúde. Com os hospitais em primeiro lugar e a indústria farmacêutica em segundo, as empresas que atuam neste setor estão no centro das atenções da população tanto no Brasil quanto no México. Nisto, os dos países diferem ligeiramente dos Estados Unidos, onde se nota uma preocupação maior com o enfrentamento da crise pelo setor de alimentação.

De qualquer modo, em um momento em que diversos indicadores mostram que as pessoas têm dedicado mais tempo ao consumo de notícias, isso mostra a existência de uma enorme expectativa (67% no caso do Brasil) sobre as respostas que hospitais e farmacêuticas darão à população. E isto se dá não apenas em relação a fatos inerentes a suas operações (como a capacidade de atendimento ou o desenvolvimento de vacinas), mas também à forma como comunicam seus avanços. Ou seja, os efeitos e a visibilidade da resposta que setores altamente visados dão à crise hoje devem impactar profundamente sua reputação. É um equilíbrio delicado entre o fazer e o contar de modo a evitar o oportunismo, uma vez que os consumidores estão mais atentos.

Ao todos, 82% dos 1,2 mil entrevistados estão mais interessados do que o comum em saber como as organizações estão cuidando da saúde e do bem-estar de seus funcionários. Já 80% dizem buscar saber mais sobre como as empresas estão tratando os consumidores durante a crise. Em relação aos fornecedores, 75% acompanham mais agora do que antes da pandemia sobre como e onde as empresas estão organizando suas cadeias de suprimentos. Além disso, 79% estão mais atentos a como os líderes empresariais estão ajudando a sociedade em geral.

*Thyago Mathias, diretor sênior para Setores Altamente Regulados e líder da FTI Consulting Comunicação Estratégica para o Brasil

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