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'Habilidoso', 'diplomático' e 'com experiência no contato político'

Léo Pinheiro, chefão da OAS e amigo de Lula, foi descrito por delatores como 'líder' das tratativas de pagamento de propina para partidos, a pedido do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), como 'blindagem' contra a CPI da Petrobrás; juiz Sérgio Moro abriu nova ação penal na Lava Jato contra o empreiteiro

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Habilidoso, diplomático e com experiência no contato político. Com esses predicados, pelo menos três delatores da Operação Lava Jato descreveram aos procuradores da República o empresário José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, presidente da OAS, um das lideranças das empreiteiras acusadas de cartel e corrupção na Petrobrás nas tratativas de compra de parlamentares da CPI da Petrobrás - que levou o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) para a prisão.

"Léo Pinheiro era uma pessoa muito diplomática e tinha muita experiência no contato com a área política", relatou o empresário Julio Gerin Camargo, acusado pela Lava Jato de ser um operador de propinas do esquema de cartel e corrupção na Petrobrás.

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Léo Pinheiro - como é conhecido o empreiteiro amigo do ex-presidente Lula - virou réu nesta terça-feira, 10, em mais uma ação penal sob a guarda do juiz federal Sérgio Moro. A ação envolve a cobrança de R$ 5 milhões de sete empreiteiras acusadas de corrupção na Petrobrás, por Argello em parceria com Léo Pinheiro, para que eles não fossem convocados para depor na CPI da Petrobrás.

Léo Pinheiro foi condenado em outro processo da Lava Jato, em agosto de 2015, a 16 anos e 4 meses de prisão.

"A OAS era uma das maiores empreiteiras do setor e Léo Pinheiro era muito habilidoso e tinha uma liderança sobre os empresários", afirmou Júlio Camargo, em dois depoimentos complementares prestados nos dias 14 e 15 de abril nos autos da Operação Vitória de Pirro - transformada em ação penal, nesta terça, 10.

O empresário diz que foi Léo Pinheiro que ligou para Argello lr tratar das convocações que seriam feitas de empreiteiros do cartel alvo da Lava Jato, resultando no primeiro encontro, um jantar na casa do ex-senador no Lago Sul, em Brasília, entre maio e junho de 2014 - após ser deflagrada a Lava Jato, em março daquele ano.

 

Amigo de Lula. Para os investigadores da Operação Lava Jato, Léo Pinheiro era o mais próximo dos empresários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No círculo de empreiteiros beneficiados pela política de compadrio investigada pela Procuradoria, ele seria o detentor do maior número de segredos. Léo Pinheiro negocia um acordo de delação premiada com a Lava Jato, desde o final do ano passado. Até o início do ano, o que o empreiteiro tinha a oferecer aos investigadores, não era considerado suficiente para oferecer-lhe os benefíficos do acordo. O empresário foi condenado em primeira instância pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba - sede da Lava Jato.

"A OAS, por Léo Pinheiro, tornou-se uma liderança desse movimento" de empresários alvos da Lava Jato que estavam preocupados com a CPI da Petrobrás e suas convocações. "Uma outra (liderança) foi o Otávio Azevedo da Andrade Gutierrez," diz Camargo.

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Iniciativa. Segundo Julio Camargo, foram feitas reuniões semanais entre ele e o presidente da OAS, após o primeiro contato com Gim Argello.

O delator diz que foi Léo Pinheiro que "começou a perguntar sobre a eleição e queria saber se Gim Argello seria candidato a vice-governador" de José Roberto Arruda ou a outro cargo. "Léo Pinheiro perguntou se seria solicitada contribuição política ao setor para sua candidatura."

Na avaliação de Júlio Camargo, registrada pela Procuradoria, "Léo Pinheiro deu uma entrada para que Gim Argello solicitasse eventual contribuição"

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Estrutura. Ia para Brasília no avião de Léo Pinheiro, saindo de São Paulo do terminal da TAM-Executiva, em Congonhas, ou do Santos Dumont. O presidente da OAS tinha dois aviões, prefixos: CMP-PT e MPP-PR Julio relata que em pelo menos duas vezes viajou no mesmo avião com Léo Pinheiro e que ambos se hospedaram no hotel Golden Tulip, em Brasília. O local virou o QG do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos últimos dias.

 Foto: Estadão

 

 
 
 

Outros delatores. Ouvido no dia 7 de abril, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, outro procurado para pagar R$ 5 milhões a Gim Argello para evitar a convocação, afirmou que não aceitou em um primeiro momento "para tentar negociar o valor". Mas cedeu. "Quando se entra em um negócio destes não sai mais e por isso acabou depois concordando."

Quem prestou depoimento também foi o dono do Grupo Setal, Augusto Ribeiro Mendonça, também delator da Lava Jato. Parceiro de Julio Camargo na Toyo Setal, ele disse que o lobista tratou da doação de R$ 2 milhões feita por ele. O valor teria sido repassado para o PR, a pedido de Argello. Ele foi ouvido no dia 6 de abril.

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