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Há urgência no desenvolvimento de tecnologias para garantir mobilidade

Por Linamara Rizzo Battistella
Atualização:
Linamara Rizzo Battistella. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A sociedade brasileira ainda trata a mobilidade simplesmente como um deslocamento entre pontos, seja por um veículo ou caminhando. Cabe dizer que, com entusiasmo, assistimos a um grande número de iniciativas voltadas à mobilidade urbana. No entanto, todas quase sempre focadas nas falhas do transporte público e em como melhorá-las. A mobilidade vai bastante além disso, pois interfere e é parte das atividades do nosso cotidiano.

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A questão passa também por melhorar a consciência a respeito do uso do espaço urbano. Isso inclui calçadas, vias públicas em geral e, principalmente, o desenvolvimento do senso e do sentido da sustentabilidade em uma sociedade que envelhece. Devemos assumir a participação e o convívio social como fontes de manutenção da saúde física e mental, direitos de todos os seres humanos.

A Organização das Nações Unidas (ONU) delimitou os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável até 2030. Nessa perspectiva, devemos nos alinhar especialmente ao terceiro, que é assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos em todas as idades, e ao nono, que diz respeito à inovação como forma de construir uma infraestrutura mais resiliente.

É necessário ampliar o debate em busca de soluções parao transporte individual dos usuários de cadeiras de rodas com a mesma prioridade dada ao ciclista. Reconhecer a autonomia na locomoção como um dos pilares da acessibilidade e garantir que novas tecnologias contemplem esta faceta para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida é um grande desafio.

Os órgãos de fomento à inovação e os formuladores de políticas devem se unir nessa empreitada. Empregar tecnologias na mobilidade é algo premente, visto que estamos falando de 45 milhões de pessoas no Brasil e 1 bilhão no mundo, incluindo idosos, todo esse contingente com mobilidade reduzida. De acordo com projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2030, esse número pode chegar a 2 bilhões.

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Uma pesquisa da ComRes, membro do Conselho Britânico de Pesquisa, encomendada pela Toyota Mobility Foundation, revela que no Brasil nove em cada dez pessoas com mobilidade reduzida apontam consequências negativas no ambiente de trabalho como resultado do uso de um dispositivo de mobilidade. Além disso, dois em cada cinco usuários de cadeira de rodas entrevistados no Brasil não conseguiram colocação no mercado por complicações ou sequelas resultantes do uso do dispositivo de apoio à mobilidade.

É maravilhoso andar de bicicleta, dobrá-la para entrar no ônibus ou guardá-la embaixo da cama, mas para o ciclista ou cadeirante é fundamental ter calçadas adaptadas às suas necessidades e, assim, promover a circulação de maneira efetiva e segura. O compromisso de dar autonomia às pessoas, no limite de suas potencialidades, deve ser o objetivo de todos os agentes envolvidos no processo da inovação, do desenvolvimento econômico e na formulação de normas e regulamentos nos âmbitos público e privado.

Isso vem sendo discutido e trabalhado, mas de maneira muito incipiente. Como sociedade, ainda não conseguimos enxergar as pessoas para além da deficiência, como cidadãos produtivos e participantesem variados segmentos, a exemplo de artes, entretenimento, saúde ou esportes.

É nesse contexto que devemos buscar maneiras de incentivar o desenvolvimento dessas tecnologias para projetos sustentáveis, que gerem valor para a economia. Como exemplo, cito aqui Desafio Mobilidade Ilimitada, iniciativa da Toyota Mobility Foundation,que tenho o prazer de ser jurada ao lado de notáveis especialistas do mundo inteiro. Na primeira fase, foram premiados dez projetos com U$ 50 mil. Esse recurso ajudará cada um a desenvolver um protótipo que irá melhorar radicalmente a mobilidade de pessoas com paralisia nos membros inferiores.

O desafio continua buscando equipes ao redor do mundo para criar soluções capazes de contribuir efetivamente para a mobilidade e a independência de pessoas com deficiências, privilegiando o desenvolvimento de tecnologias que incorporem desde soluções básicas, porém inovadoras, até inteligência artificial ou machinelearning. Os prêmios chegam a US$ 4 milhões.

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É urgente o estímulo às pesquisas no âmbito da inovação. Tão urgente quanto a inovação é o respeito aos direitos das pessoas com deficiência. Na esteira desses direitos, estão a garantia do acesso aos bens, produtos e serviços da sociedade.

*Linamara Rizzo Battistella é médica fisiatra, professora titular e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP e Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência

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