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Grampo pega diretor da Riotrilhos tramando para ocultar patrimônio

Interceptação telefônica da Polícia Federal na Operação 'Tatuzão' flagra diálogo de Heitor Lopes, preso nesta terça-feira, 14, com gerente de banco

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Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Fausto Macedo , Mateus Coutinho , Ricardo Brandt e Luiz Vassallo
Atualização:

 

Na decisão que mandou abrir a Operação Tolypeutes, novo desdobramento da Lava Jato no Rio, o juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal apontou para uma possível ocultação de patrimônio do diretor de Engenharia da Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio de Janeiro (Riotrilhos), Heitor Lopes de Souza Junior. Grampo da Polícia Federal pegou Heitor Lopes, preso nesta terça-feira, 14, ao telefone com a gerente de seu banco.

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Documento

DECISÃO

"O monitoramento telefônico de Heitor Lopes, também autorizado depois da deflagração da denominada Operação Calicute, demonstrou que o investigado parece estar atuando para ocultar seu patrimônio, como se extrai de sua conversa com a requerida Patrícia Gomes Cavalcante, gerente do Banco Santander Select, agência Copa Posto V, em que recebe orientação para utilizar previdência privada a fim de que tal valor fique protegido de possível bloqueio judicial", destacou o magistrado.

"Surge do referido diálogo a suspeita de que, de fato, o patrimônio do investigado requerido, Heitor Lopes, é maior do que o informado à Receita Federal."

A conversa foi capturada às 14h14 de 27 de dezembro de 2016. No diálogo, a gerente afirma 'alguma coisa eles podem bloquear sim, saldo em conta né'.

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O juiz Bretas viu 'preocupação do investigado Heitor Lopes na ocultação de sua real situação financeira'. O magistrado destacou um trecho da conversa em que a gerente afirma 'Porque no Imposto de Renda aparece a renda só de 21 mil, que sua renda não é só essa, sua renda é muito maior né?'. Heitor Lopes responde 'Tá'.

Este diálogo, para Marcelo Bretas, 'é mais um indício de que a ele é irregularmente direcionada grande quantidade de dinheiro'.

"Ainda em conversa monitorada por ordem do Juízo, o investigado Heitor Lopes de Souza menciona a existência de um local fora a residência onde estariam guardados alguns objetos, tendo os investigadores identificado esse local com sendo um "box" junto à empresa Guarde Perto Self Storage, situado na Rua Paulino Fernandes, nº 59 - 4º andar, Quadra 5, Box 523, Botafogo. Tais evidências demonstram um provável receio do investigado Heitor Lopes de Souza com uma possível investigação que lhe seja dirigida, o que explicaria o comportamento de tentar ocultar seu patrimônio prevenindo-se de eventual bloqueio judicial de bens", aponta Bretas.

LEIA O DIÁLOGO

HEITOR:Alô. PATRÍCIA:Oi Heitor, Patrícia querido. (...) PATRÍCIA:Que que eu ia te perguntar... porque eu queria fazer com você exatamente aquilo HEITOR:Hum PATRÍCIA:Pra gente ver, se você não conseguir vir hoje, vir amanhã mais pra gente ver a questão da...da previdência. Porque que eu tô te perguntando, falando isso, apesar da LU ser sua esposa, lógico que pode, podem consultar ligar seu CPF com o dela também, tá? HEITOR:Certo. PATRÍCIA:Você me perguntou se a previdência é uma aplicação? A previdência, realmente em último instante é a que eles menos olham, tá? HEITOR:Certo. PATRÍCIA:Se é um fundo, se tiver um CDB. se tiver alguma coisa eles podem bloquear sim, saldo em conta né... HEITOR:Claro. PATRÍCIA:Previdência é o que mais fica guardadinho... HEITOR:Você vai ficar até que horas aí? (...) HEITOR:Eu te aviso. tá? PATRÍCIA:Tu me fala então, tá? HEITOR:Tá bom , pode deixar. PATRÍCIA:Que aí a gente vê direitinho. HEITOR:Tá. PATRÍCIA:Deixa eu perguntar, o teu contador chegou a fazer mais ou menos os cálculos dessa transferência... HEITOR:Nada, eu não consegui fazer nada. PATRÍCIA:Ele não chegou a falar nada pra você de cálculos? HEITOR:Não, nem eu. Ele se operou também , eu nem conversei com ele.Ele colocou aquela prótese... PATRÍCIA:Entendi. Porque essa transferência...o que que eu queria te mostrar? QUE COM ESSA TRANSFERÊNCIA DE UM MILHÃO PRA CONTA DA LU, o que que você pode fazer, pode declarar ou como empréstimo, aí você só paga... HEITOR:Não não...ela declara junto comigo. PATRÍCIA:É, mas assim mesmo tem que declarar, vai ter que declarar ou como doação ou como empréstimo... HEITOR:É, pois é. PATRÍCIA:Como doação você vai pagar mais imposto, entendeu? HEITOR:Certo... PATRÍCIA:É melhor pagar, porque como doação você pagaria você dando e ela recebendo. HEITOR:Certo. PATRÍCIA:Como empréstimo pagaria só nela, no caso os 15%. HEITOR:Certo. PATRÍCIA:Então seria menos custo entendeu? HEITOR:entendi. PATRÍCIA:Porque no Imposto de Renda aparece a renda só de 21 mil, que sua renda não é só essa, sua renda é muito maior né? HEITOR:Tá. PATRÍCIA:vai ver como é que o contador declara direitinho pra ele poder recalcular... HEITOR:Tá PATRÍCIA:aquele PGBL que eu te falei, no caso do VG é realmente pra diversificação. O PG é quando você declara completa e pra conseguir desconto, e pra conseguir até 12% de desconto no próximo Imposto de Renda. HEITOR:Certo, tá.

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Tolypeutes. A nova etapa foi aberta por ordem do juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio e com base no acordo de leniência da Carioca Engenharia. A investigação apura R$ 5,4 milhões em propinas e 31 transferências para empresas de Heitor Lopes.

Os alvos da operação são Heitor Lopes de Sousa Junior e Luiz Carlos Velloso, que foram presos. A ação mira em pagamento de propina sobre contratos da linha 4 do Metrô.

Segundo o site do Governo do Rio, Luiz Carlos Velloso é, atualmente, subsecretário de Turismo do Estado. Já Heitor Lopes de Sousa Junior é diretor de Engenharia da Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio de Janeiro, a Riotrilhos.

Luiz Carlos Velloso foi subsecretário de Transportes no Governo Sérgio Cabral (PMDB - 2007/2014).

Em nota, a PF informou que as investigações começaram há 4 meses e apontam a participação do um ex-subsecretário de Transportes do Governo do Rio e de diretor da Companhia de Transporte sobre Trilhos do RJ (Riotrilhos) no grupo criminoso, 'os quais procuravam as empreiteiras interessadas em assumir obras de infraestrutura no estado, cobrando vantagens indevidas com o objetivo de garantir a contratação para os serviços'.

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"A propina era paga, principalmente, de forma dissimulada a partir de aditivos que aumentavam os valores devidos, bem como alteravam o escopo técnico das obras", diz nota da PF.

Os presos serão indiciados por corrupção e lavagem de dinheiro. Após os procedimentos de praxe, eles serão encaminhados ao sistema prisional do estado.

O nome da Operação é uma referência ao "Tatuzão", equipamento utilizado nas escavações das obras do metrô.

COM A PALAVRA, O BANCO SANTANDER

"O Santander informa que Patrícia Gomes Cavalcanti não pertence mais ao quadro de funcionários."

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