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Governo Bolsonaro acumula trocas polêmicas na PF

Mudanças frequentes em cargos sensíveis na Polícia Federal nem sempre têm uma explicação da cúpula da corporação e até já são alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal

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Por Davi Medeiros
Atualização:

O STF abriu inquérito para apurar suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil e Adriano Machado/ Reuters Foto: Estadão

Desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, a Polícia Federal acumula um histórico de mudanças controversas em cargos da corporação. Funcionários do órgão já foram exonerados ou remanejados de suas funções após tomarem decisões tidas como sensíveis para o chefe do Planalto ou membros de sua família, embora uma relação de causa e efeito nunca tenha sido anunciada nas justificativas do órgão para as demissões. As trocas levantaram suspeita no Supremo Tribunal Federal (STF), que abriu inquérito para apurar suposta interferência política do presidente na instituição.

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Quando pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz Sérgio Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF para ter acesso a informações sigilosas sobre o andamento de investigações. "O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação", disse, à época, o jurista.

Veja as mais controversas mudanças na PF durante a gestão Bolsonaro:

Delegada sai da Interpol em meio à polêmica envolvendo o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e a lista vermelha de procurados em todo o mundo

Nesta quarta-feira, 1, Dominique deixou os quadros da unidade, onde atuava há 16 meses. Em mensagem aos colegas, a delegada se disse surpreendida e 'incrédula' ao receber determinação para retornar à Superintendência Regional da PF no Distrito Federal. Na prática, a delegada apenas recebeu o mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal, reviu a documentação relacionada, produziu a minuta e encaminhou o pedido para publicação. Em nota, a Polícia Federal negou que o remanejamento tenha relação com o processo de extradição de Allan dos Santos, mas não explicou o motivo da troca. 

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Delegada da PF responsável por extradição de blogueiro é exonerada

Em 10 de novembro, a delegada da Polícia Federal Silvia Amelia da Fonseca foi exonerada do cargo de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) após ter sido responsável pela extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, criador do site Terça Livre. A demissão foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e vista dentro da corporação como uma represália ao andamento do processo. Segundo apurou o Estadão, a ação foi interpretada como mais uma investida do governo em aparelhar os órgãos ligados às investigações.Aliado de Bolsonaro no campo ideológico, Allan dos Santos é alvo de um mandado de prisão e extradição expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das milícias digitais.

Troca no comando da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal

Em outubro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública oficializou uma substituição na chefia da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal.  O delegado Hugo de Barros Correia, que havia sido nomeado para o cargo há cinco meses, foi substituído por Victor César Carvalho dos Santos, que vem do Rio de Janeiro, reduto político do clã Bolsonaro. A superintendência do DF é responsável por duas das principais investigações que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro (PL): o inquérito das fake news, que mira apoiadores e aliados bolsonaristas sem prerrogativa de foro, e o que apura se Jair Renan, filho '04' do presidente, cometeu tráfico de influência. A unidade também toca o inquérito administrativo sobre os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral.

PF demite superintendente que pediu investigação de Ricardo Salles

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Em abril, o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, decidiu substituir o superintendente regional do Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, um dia depois que este enviou ao STF notícia-crime contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.Na peça enviada ao STF, Saraiva acusa Salles e o senador Telmário Mota de atuarem em favor de investigados da Operação Handroanthus GLO, que mirou extração ilegal de madeira na Amazônia no final de 2020. A justificativa do órgão foi que o delegado já havia sido sondado sobre a mudança.

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Bolsonaro defende trocas na PF em reunião ministerial

Em 22 de abril de 2020, durante reunião com ministros, o presidente Bolsonaro defendeu fazer mudanças no comando da Polícia Federal do Rio de Janeiro para blindar seus familiares das investigações em curso na unidade. No vídeo da reunião, divulgado posteriormente, o presidente revelou a intenção de substituir o superintendente do órgão no Estado para evitar uma suposta "perseguição" a seus filhos. "Vou interferir e ponto final", disse, à época, o mandatário."Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar prejudicar a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!", afirmou.

Bolsonaro nomeia amigo da família para comandar a PF

Também em abril de 2020, Bolsonaro indicou Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para o comando da Polícia Federal. O delegado coordenou a segurança do presidente na campanha de 2018 e se tornou próximo de sua família, tornando-se presença constante em sua casa. Ramagem chegou, inclusive, a passar o réveillon de 2019 junto ao vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.No dia seguinte à escolha do nome por Bolsonaro, o STF emitiu decisão liminar suspendendo a nomeação e alegou desvio de finalidade na indicação, citando a proximidade de Ramagem com o presidente. Horas depois, o chefe do Executivo recuou e tornou sem efeito a nomeação do delegado em publicação no Diário Oficial da União.

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