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Gerenciamento de riscos: como as empresas estão lidando com os desafios durante a crise

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Por Rodrigo Mendes
Atualização:
Rodrigo Mendes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Há um bom tempo, as exigências regulatórias vêm se tonando mais rigorosas e amplas e a necessidade de gerenciamento de riscos evoluindo para atender questões cada vez mais urgentes, acompanhando as consequências de crises financeiras e do avanço da tecnologia em todo o mundo. Não diferente, em 2020, enquanto a pandemia da Covid-19 surpreendia todos os países, empresas e cidadãos do mundo, exigindo pronta resposta e adaptação à mudança de cenário, a importância de gerenciar com eficácia as questões-chave relacionadas aos riscos existentes e emergentes, cresceu em disparada.

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A Deloitte realizou nesse período desafiador a 12ª edição da pesquisa Global Risk Management, para entender como as instituições financeiras estão avaliando suas necessidades e redefinindo a gestão de riscos de forma a obter maior resiliência em meio à incerteza dos acontecimentos. Meu papel aqui é analisar e entender como a gestão de riscos apoia na resposta das instituições brasileiras e para onde vamos evoluir.

Em um esforço para conter o novo coronavírus, governos em todo o mundo impuseram uma série de bloqueios e outras restrições à atividade econômica: mesmo quando permitida a abertura, muitas empresas fecharam suas operações voluntariamente ou tiveram grande parte dos funcionários trabalhando remotamente; os consumidores também mudaram de maneira rápida seus padrões de comportamento e consumo; e houve uma forte desaceleração econômica. Todas essas mudanças geraram amplas consequências para o gerenciamento de riscos. Com as economias em ritmo de desaceleração e o aumento do desemprego, o risco de crédito cresceu significativamente, tanto para pessoa física como jurídica.

Os conselhos de administração das instituições estão dedicando mais tempo e assumindo um papel mais ativo na supervisão da gestão de riscos, principalmente os não financeiros. No Brasil, o que gostaria de destacar como pontos principais são as áreas de Cyber, Digital, Crédito e ESG.

Segundo a pesquisa de Gestão de Riscos, 87% dos respondentes disseram que investir na melhoria da capacidade de gerenciar o risco de segurança cibernética será prioridade extrema ou muito alta em 2021. Com o aumento do uso de computadores e outros dispositivos de acesso remoto, as empresas ficaram mais sujeitas a ataques cibernéticos. De acordo com outro levantamento - a "Agenda 2021" - realizado pela Deloitte no último ano, com 663 empresas brasileiras, 48% afirmaram que mantiveram os investimentos de segurança digital e 47% aumentaram (em 2021, esse número crescerá para 56% das empresas).

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Outro ponto de atenção é a governança sobre a inovação. Para acompanhar novos negócios enquanto trabalham remotamente por um período prolongado, as instituições precisarão explorar novas abordagens. Cerca de 50% das organizações, segundo a pesquisa de Gestão de Riscos, relataram que ferramentas para gestão de riscos digitais serão prioridade extrema ou muito alta em 2021, mas a maioria ainda não implementou essas tecnologias. Isso mostra que as empresas precisarão continuar a se dedicar em implementar soluções digitais. A pesquisa também apontou que todos os participantes disseram que resiliência operacional e monitoramento de conduta e cultura estão incluídos em seus relatórios de gerenciamento de risco.

A "Global Resilience Report", divulgada pela Deloitte em janeiro, no Fórum Econômico Mundial, mostrou que os executivos brasileiros se sentem mais preparados e confiantes do que a média global: 56% disseram se sentir prontos para liderar suas organizações diante de qualquer incerteza ou interrupção que possa surgir e 49% consideram que suas empresas conseguiriam se adaptar rapidamente em resposta aos atuais eventos adversos. O estudo identificou ainda 5 atributos das organizações resilientes que podem se recuperar de desafios inesperados: elas são preparadas, adaptáveis, colaborativas, confiantes e responsáveis.

Algumas empresas brasileiras já declararam que não voltarão mais a trabalhar presencialmente e a tendência é justamente seguir por esse lado, investindo em tecnologia. Em 2020 na Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária, a Deloitte identificou que os bancos aumentaram em 48% os investimentos em tecnologia, puxados tanto por software (58%), como por hardware (38%). A pandemia facilitou e acelerou muitos processos, principalmente os já previstos na área bancária, como o PIX e o Open Banking.

A mensuração do risco de crédito será prioridade extrema ou muito alta para 62% das instituições respondentes da pesquisa de Gestão de Riscos e 20% apontaram este risco como sendo o mais importante. Com isso, as empresas precisam focar em reavaliar os relatórios de exposições ao risco de crédito, incorporando novas tecnologias de modelagem baseadas em dados mais precisos, abrangentes e tempestivos. Paralelamente, é importante também estar mais atento ao gerenciamento de dados e à criação de uma infraestrutura corporativa que permita sua utilização no desenvolvimento de modelos de forma ágil e consistente. Grande parte (69%) das empresas que participaram da pesquisa de Gestão de Riscos disse que melhorar a qualidade, disponibilidade e tempestividade dos dados para gestão de riscos será prioridade extrema ou muito alta em 2021.

E não posso deixar de mencionar um dos riscos mais citados nos últimos meses, que é o de ESG (Environmental, Social and Governance). Em 2020, com manifestações generalizadas em favor da diversidade e maior atenção aos aspectos de responsabilidade social por parte das empresas, o tema ganhou destaque e prioridade no gerenciamento. As instituições devem então incorporar programas de gestão destes riscos e se prepararem para realizar testes com o objetivo de determinar a sua capacidade de resposta a mais este desafio.

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O risco não deve ser somente gerenciado, ele deve ser identificado, avaliado e desafiado. As incertezas e eventos adversos vivenciados, sejam eles de natureza cibernética, financeira, operacional ou regulatória, nos ajudam a manter as instituições mais bem preparadas, prevenidas e protegidas em relação às ameaças que podem surgir.

*Rodrigo Mendes é líder da prática de Riscos Financeiros da Deloitte

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