Janaina Rodrigues Pereira*
13 de março de 2022 | 05h00
Janaina Rodrigues Pereira. FOTO: GUSTAVO MORITZ
Ano passado, por ocasião do Dia das Mulheres, estava curiosa em saber o retrato do Terceiro Setor quanto à perspectiva de gênero. Fui direto ao material produzido pelo IPEA – Perfil das Organizações da Sociedade Civil no Brasil, que evidenciou a predominância das mulheres entre as pessoas empregadas nas Organizações da Sociedade Civil – OSCs (65%). O levantamento evidenciou que a distribuição por gênero leva em consideração a atividade desempenhada do funcionário, sendo notória a presença das mulheres nas organizações de saúde e assistência social, atreladas ao cuidado.
Sabendo que o tema diversidade e inclusão devem ser analisados, sobretudo, dentro do contexto de tomada de decisão, ou seja, qual é o perfil da ocupação dos órgãos deliberativos e da alta direção, tentei localizar, sem êxito, estudos sobre esse viés. Por sorte, no 2º semestre de 2021, importante aporte ao tema foi divulgado pela Gema Consultoria (pesquisa elaborada sobre Governança Inclusiva no Terceiro Setor: gênero e raça nas OSCs2), apresenta-nos os seguintes achados a partir das OSCs entrevistadas:
Fonte: Gema (2021)
Aconselho a todos que, assim como eu, atuam no Terceiro Setor, a se debruçarem sobre a relevante pesquisa da Gema Consultoria que respondeu diretamente a minha indagação, evidenciando que apesar do 3º setor possuir pautas voltadas à redução das desigualdades sociais, promovendo, não raras, ações focadas na igualdade de gênero é perceptível que o setor ainda padece das desigualdades sociais que assolam a nossa sociedade.
Urgem ações concretas nas OSCs para promover e viabilizar diversidade de gênero e raça aos mais elevados cargos de direção e participação, sobretudo, em Conselhos Curadores e Assembleias Geral, o que possibilitará, inclusive, enriquecimento dos subsídios para a tomada de decisão.
Não ignoro o fato de que equidade no mercado de trabalho, lança desafio aos empregadores, pois não se trata de mera criação de vagas, cotas ou outras medidas com viés reparador, e sim de nova cultura, sobretudo, com respeito às diferenças e com canais efetivos para estimular denúncias e ações concretas para tratamento quando essas ocorrem.
Como advogada atuante no 3º Setor, acredito na força do segmento, reconhecido pelo pioneirismo em responder de modo célere e criativo aos problemas sociais, para assumir o protagonismo na concretização da efetiva governança inclusiva.
*Janaina Rodrigues Pereira, sócia-advogada na Covac Sociedade de Advogados
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