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Gabrielli nega ordem de pagamento para agência Muranno, após pressão

Ex-presidente da Petrobrás disse à Lava Jato que delator mentiu e que nunca recebeu ameaças de que esquema de propina do PT na estatal denunciado publicamente

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Por Julia Affonso e FAUSTO MACEDO E RICARDO BRANDT
Atualização:

Estatal quer saber sobre reuniões de Gabrielli com Costa Foto: Estadão

O ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli negou à Polícia Federal que tenha dado ordem, em 2010, para que a agência de publicidade Muranno Brasil Marketing fosse paga, após suposta ameaça do empresário Ricardo Villani de que o esquema de propinas para o PT fosse denunciado publicamente. A Operação Lava Jato apura o uso de pelo menos R$ 6 milhões do dinheiro desviado da estatal para quitação dessa dívida.

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"Indagado se já recebeu cobranças ou pressões de Ricado Marcelo Villani (dono da Muranno) no sentido de que o mesmo iria denunciar o pagamento de vantagens indevidas feitas em beneficio do PT, o declarante (Gabrielli) afirma que jamais recebeu qualquer tipo de cobrança ou pressão", afirmou o ex-presidente da Petrobrás, em depoimento prestado à PF no dia 9, em Brasília.

"Jamais realizou ou determinou o pagamento de valores a Ricardo Villani ou qualquer de suas empresas", disse Gabrielli, em depoimento ao delegado Josélio Azevedo de Souza. O documento foi anexado ao inquérito em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ouvido como informante, na semana passada.

Os R$ 6 milhões foram pagos a Muranno pelo doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato - a partir de 2010. Tanto o doleiro como ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmaram em suas delações premiadas que os pagamentos foram feitos a mando do ex-presidente Gabrielli por "pendências" da estatal com a agência.

 Foto: Estadão

Segundo o doleiro afirmou, a agência de propaganda era contratada pela Petrobrás e tinha dívidas a receber. Villani estaria pressionando o governo Lula para obter os valores atrasados e ameaçava denunciar os esquemas de corrupção e propina na estatal - que era controlado pelo PT, PMDB e PP.

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O ex-diretor de Abastecimento confirmou que partiu do ex-presidente da Petrobrás a ordem para o pagamento da Muranno. "Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma 'pendência' da Petrobrás junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida", afirmou, no dia 14 de julho.

Youssef detalhou como providenciou o pagamento. "Houve a suspensão de contratos pela Petrobrás, prejudicando recebimentos da parte acordada com as empresas, que deveriam ser quitados independentemente de suspensão", afirmou o doleiro. Os pagamentos teriam começado no final de 2010, ano da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. "Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade", explicou Youssef.

"Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider." As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobrás.

O doleiro revelou que cuidou dos pagamentos por parte do PP. "Soube que o PMDB acabou não contribuindo com nada", disse Youssef. "Quanto à parte de deveria ser paga pelo PT, o depoente foi procurado por Júlio Camargo que informou que cuidaria da parte que o PT deveria arcar e então repassou valores ao depoente mediante pagamentos de ordens no exterior em contas indicadas pelo depoente", registrou a PF.

 

 
 

Mentira. Ouvido pela PF em Brasília, Gabrielli negou tudo. "São absolutamente mentirosas as afirmações feitas por Paulo Roberto Costa." Ele afirmou que não "conhece e jamais teve qualquer contato, publico ou particular, com o dono da Muranno.

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A Muranno prestou serviços de divulgação para a Petrobrás em eventos da Fórmula Indy, nos Estados Unidos. Documentos entregues no mês passado pela estatal à Lava Jato mostram que no ano de 2008 foram feitos 22 pagamentos oficiais para a agência, por 'pequenos serviços' - que dispensam licitações -, no total de R$ 2,5 milhões.

Em depoimento à PF, Villani afirmou no ano passado que prestou serviços para a Petrobrás e teria a receber R$ 7 milhões. Ele afirmou que em duas ocasiões procurou o ex-diretor de Abastecimento, após sua saída da estatal, em 2012, para receber valores não pagos.

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Os contratos da Muranno integram um pacote de pagamentos considerados irregulares pela própria companhia, que resultaram na demissão de um apadrinhado de Gabrielli, o ex-gerente de Marketing da área de Abastecimento Geovanne de Morais.

Villani entregou para a Lava Jato o material produzido pela agência nos eventos de Fórmula Indy, bem como as trocas de e-mails, entre 2006 e 2009, que comprovariam a contratação e suas relações internas na estatal, em especial com o ex-gerente de Marketing.

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Morais foi citado ainda pela ex-subordinada de Costa, Venina Velosa da Fonseca, como responsável pelos pagamentos de serviços não prestados para a a Muranno.

Gabrielli nega também que tenha sido avisado pela ex-gerente da Petrobrás Venina Velosa da Fonseca, subordinada de Paulo Roberto Costa, sobre corrupção. "As discussões existentes neste período diziam respeito ao valor elevado dos contratos e não a possível obtenção de vantagens indevidas."

O ex-gerente de Marketing é da Bahia e ligado ao grupo político petista do ex-presidente da Petrobrás. Gabrielli nega e diz que o ex-funcionário foi punido com a demissão, assim que se comprovou internamente sua responsabilidade e irregularidades em contratos da área, no ano de 2008.

LEIA A ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO DE JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI À PF

 

 

 
 
 
 
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