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Futuro da educação executiva: ensino aplicado ao mercado pós-pandemia

Por Bruno Barata e Caroline Francescato
Atualização:
Bruno Barata e Caroline Francescato. FOTOS: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Educação é, sem dúvida, o processo mais importante do qual a sociedade dispõe. É através do conhecimento que nós deixamos o estado de inércia, o tradicionalismo, e nos permitimos criar. Inovação não está relacionada, apenas, à tecnologia mas, sim, à novidade. Em momentos de crise, uma jornada de aprendizado bem aplicada é motor para transformações concretas, capazes de impactar a sociedade positivamente.

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John Kennedy mencionava em seus discursos sobre o significado da palavra "crise" na China. O termo weiji, segundo ele, significava "perigo" e "oportunidade". Estudiosos, contudo, vêm refletindo sobre essa interpretação, e o aceito é que o termo guarde mais relação com "perigo" e "ponto de virada".

O fato é que a pandemia da COVID-19 está remodelando exponencialmente não apenas a pedagogia, o processo de ensino da criança, mas a andragogia, o aprendizado do adulto, termo cunhado pelo educador Malcom Knowles, e especialmente quando observamos os novos contornos da educação executiva.

E nesse processo de transformação, não podemos esquecer dos adultos. O Professor David Wilkins, Vice-Reitor da Faculdade de Direito de Harvard, ensina que devemos ser lifelong learners, ou seja, devemos aprender ao longo de toda a jornada da vida. Mas isso não significa que o estudo técnico deva ser abraçado, apenas, durante a fase tradicional de aprendizado: ele deve acompanhar a trilha profissional completa do indivíduo.

E nesse ponto a andragogia desempenha função fundamental. Não podemos conferir ao adulto o mesmo processo de aprendizado da criança. O cérebro humano se desenvolve até os 20 anos, atingindo, até mesmo comportamentos diversos quando falamos de neuroplasticidade, capacidade de moldar novos níveis estruturais cerebrais com base em vivências.

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Não se trata, portanto, de repetir o método que nos foi aplicado até a faculdade: precisamos de modelos que reativem nossa capacidade de memorização e compreensão daquilo que é lecionado.

E no ponto há alguns caminhos que estão desenhados para esse período pós-pandemia: muitos discutem o retorno às atividades nas exatas formas em que elas existiam (business as usual), outros discutem novas ideias em função do impacto das atuais mudanças obrigatórias que a sociedade teve de incorporar. Nesse sentido, e trazendo o debate para a andragogia, precisamos analisar qual é o futuro da educação do adulto e dos próprios educadores.

A primeira transformação nesse processo de ensino recai no formato das aulas: online ou presencial? A concentração do adulto, sobretudo por não estar participando de uma jornada tradicional e constante em sala de aula, como na primeira infância ou adolescência, não é capaz de absorver conteúdos ministrados de forma constante por muito tempo.

No início da pandemia, o Ministério da Educação da China remodelou todo o sistema de ensino, em cooperação com as principais edtechs, empresas de educação com tecnologia embarcada, do país. Uma das transformações iniciais, para permitir que as aulas online fossem bem aproveitadas, era limitar a duração a, no máximo, 20 minutos cada uma. Esse método ágil de aprendizado é fundamental nessa retomada do processo educacional pós-pandemia, e deverá, também, ser aplicado nas aulas presenciais.

De fato, a existência de viradas em uma aula online são fundamentais para que a atenção do adulto seja mantida. Por essa razão, a Universidade de Harvard é uma das principais do mundo na aplicação do Problem-Based Learning (PBL), método que ensino que se utiliza de estudo de casos, permitindo ao aluno aprender com situações reais e cujas soluções podem ser aplicadas à sua vida profissional de forma imediata.

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Imediatismo, aliás, é outro ponto fundamental nesse novo momento da educação do adulto. A gestão do tempo se tornou tarefa extremamente difícil em função da adoção de tecnologias para a sobrevivência dos negócios na pandemia. Não há mais obstáculos geográficos e temporais. As pessoas estão cada vez mais acessíveis e interagindo a todo o momento através de aplicativos de mensagens. Se, por um lado, essa exponencialidade foi positiva para reduzir os efeitos da crise em muitas atividades, por outro lado, o tempo está cada vez mais escasso, dificultando o aprendizado.

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Esse senso de escassez de tempo encontra relação em outra característica muito presente no ensino do adulto: em qual horário ele rende melhor? Nem sempre aulas ministradas de manhã, à tarde ou à noite rendem da mesma forma para todos. Cada tem o seu melhor horário para determinada atividade.

Nesse sentido, as aulas online funcionam bem, na medida em que permitem um anywhere anytime learning, processo de aprendizado acessível de qualquer lugar a qualquer tempo. Portanto, se o aluno prefere aprender no horário em que sua capacidade cognitiva apresenta melhor resultado, basta acessar a plataforma de ensino virtual.

No entanto, sobretudo considerando o ensino do adulto e sua aplicação na atividade profissional, não podemos esquecer das atividades presenciais, seja para acelerar e tornar mais eficiente o aprendizado, em um importante balanço com a aula online, seja para permitir a criação de uma rede de conexões, o tão conhecido networking.

A pandemia nos trouxe uma nova percepção sobre a importância dessa rede: as atividades colaborativas nunca foram tão importantes para superar momentos de crise. Um estudo da Professora Heidi Gardner, da Faculdade de Direito de Harvard e uma das maiores especialistas do mundo em smart collaboration, concluiu que advogados colaborativos faturam quatro vezes mais do que advogados que não adotam essa prática.

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Isso nos permite observar que a criação de uma rede de conexões é peça fundamental para aceleração de relações de negócios. Portanto, o formato de educação executiva híbrida nos parece ser o modelo ideal do novo mercado pós-pandemia: aulas dinâmicas, em formato virtual, mas com encontros presenciais, mais estratégicos.

O ensino em geral, incluindo-se, aí, a educação executiva, vive um momento de transformação e de decisão: voltar ao modelo pré-pandemia ou ser redesenhado, adequando-se às mudanças da sociedade que, frise-se, foi impactada para sempre e não retornará ao exato estado original de dezembro de 2019.

Um provérbio chinês diz que "a melhor época para plantar uma árvore era há vinte anos. O segundo melhor momento é agora". O novo mercado será dos early adopters, ou seja, aqueles que incorporarem, antes dos demais, essas novas técnicas de aprendizado e, assim, poderem aplica-las aos seus negócios.

*Bruno Barata, cofundador do LinkLei Academy e membro do Conselho Acadêmico da Academia Suíça de Direito Internacional

*Caroline Francescato, CEO e fundadora do LinkLei Academy

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