Em depoimento prestado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano passado, o empresário Eike Batista afirmou que foi educado "com o conceito de comunidade", fazendo doações eleitorais "voluntárias" a diferentes partidos e candidatos, e disse admirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O empresário também comentou que, devido ao crescimento dos seus negócios, tornou-se persona non grata na Petrobrás.
Eike foi uma das testemunhas ouvidas no âmbito do processo do TSE que apura se a chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger nas eleições de 2014. Caso a Corte Eleitoral decida cassar a chapa neste ano, serão realizadas eleições indiretas para escolher o sucessor de Temer no Palácio do Planalto.
O empresário prestou depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator do processo da chapa Dilma/Temer no TSE no dia 7 de outubro de 2016. A íntegra do depoimento de Eike consta em um dos 20 volumes que atualmente constituem o processo.
"Eu fui educado com o conceito de comunidade e acho que você tem que dividir e contribuir para que as instituições funcionem. Então, esse é o meu lema", disse Eike, ao ser questionado sobre as doações feitas a campanhas eleitorais de diferentes candidatos e partidos.
"Era um milhão para o PT, um milhão para o PSDB, para o PMDB, e aí eu escolhia algumas pessoas de que eu gostava, gostava das ideias, enfim. Como, por exemplo, o Cristovam Buarque, por quem eu sempre tive admiração", afirmou Eike, ao referir-se ao senador do Distrito Federal.
O empresário também disse que "admirava" Lula. Sobre a relação com Dilma Rousseff, foi mais frio: "A presidente Dilma conhecia de eventos da empresa onde ela esteve presente aqui no Superporto do Açu, e algumas vezes indo a Brasília, relatando do andamento de projetos."
Tratamento.No depoimento ao TSE, o empresário também afirmou que com a expansão dos seus negócios, se tornou um "concorrente formidável" para a Petrobrás.
"Eu, pessoalmente, sempre fui tratado como persona non grata na Petrobras, porque quando nós criamos a OGX, em 2008, entramos no leilão, só para lembrar, quinze dias antes do leilão tiraram vários blocos do pré-sal. Uma das razões, entendo eu, foi o fato de a OGX ter feito... Iria criar uma Petrobrás, enfim, paralela, até porque muitos executivos eram oriundos da Petrobrás", afirmou Eike Batista.
"Nós seríamos um concorrente formidável, porque o setor privado, eventualmente, iria mostrar eficiência de uma maneira diferente. A OGX chegou a furar cento e dez poços em campos offshore. Uma performance que, no prazo, excelente. Só que as áreas que nós ganhamos, não tivemos a sorte. Se tivéssemos, eventualmente, ganho uma área do pré-sal, com cento e dez postos, pode apostar que a história seria uma outra história."
Em um novo capítulo da história de Eike, os procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Eficiência, deflagrada nesta quinta-feira (26) afirmam que o empresário é o "autor intelectual do ato de corrupção do então governador Sérgio Cabral". Eike segue foragido.