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Filho de Cerveró diz que advogado lhe entregou R$ 50 mil em nome de Delcídio

Bernardo Cerveró foi o pivô da prisão do senador Delcídio Amaral

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:

Delcídio do Amaral foi preso no dia 25. Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que o advogado Edson Ribeiro, que atuava para sua família, lhe entregou R$ 50 mil em espécie durante uma reunião entre os dois. Segundo o filho de Cerveró, o criminalista disse que o dinheiro foi enviado pelo senador Delcídio Amaral (PT/MS), ex-líder do Governo. O parlamentar foi preso na quarta-feira, 25, por tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato.

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A base da custódia do senador é uma conversa gravada por Bernardo Cerveró. Em 4 de novembro, o filho do ex-diretor da Petrobrás gravou uma conversa de 1h35 na qual Delcídio Amaral tentava atrapalhar uma possível delação premiada do executivo, preso desde janeiro. O senador ofereceu R$ 50 mil mensais para comprar o silêncio de Nestor Cerveró. Em 18 de novembro, o ex-diretor da estatal petrolífera fechou sua delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.

Nestor Cerveró está preso desde o início de janeiro. Foto: André Dusek/Estadão

Em depoimento aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Bernardo Cerveró narrou a atuação do senador Delcídio Amaral e do então advogado da família, Edson Ribeiro - também preso por atrapalhar as apurações. Segundo o filho de Nestor Cerveró, um dos encontros entre ele e Edson Ribeiro ocorreu no escritório do advogado Nelio Machado. O filho do ex-diretor da Petrobrás afirmou que o criminalista Nelio Machado, advogado do lobista Fernando Baiano durante parte da Lava Jato, não participou da reunião.

 

Ao Ministério Público Federal, Bernardo Cerveró contou que Edson Ribeiro 'sempre seguia prometendo um habeas corpus' para o pai, preso desde janeiro deste ano. Em determinado momento, contou o filho do ex-diretor da estatal, ele procurou o irmão de Fernando Baiano, 'porque o Nestor Cerveró e Edson Ribeiro diziam que quem tinha provas era Fernando Baiano, já que ele é que cuidava das contas bancárias'.

"Procurou Gustavo para tentar compor colaboração premiada simultânea de Nestor Cerveró e de Fernando Baiano; que Nestor Cerveró e Fernando Baiano eram amigos", relatou.

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"Naquela altura o depoente participou de algumas reuniões, inclusive com a presença do advogado Nélio Machado em seu escritório; que Nélio Machado também era reticente em fazer colaboração premiada; que em uma dessas reuniões em uma sala do escritório do advogado Nélio Machado, presentes apenas Edson Ribeiro e o depoente, Edson Ribeiro entregou cinquenta mil reais em espécie para o depoente, dizendo que foram enviados pelo Senador Delcídio Amaral; que o depoente ficou incomodado, pois o que ele queria não era auxílio financeiro, menos ainda espúrio, e sim a liberdade de seu pai."

Edson Ribeiro foi preso ao desembarcar em aeroporto do Rio. Foto: José Lucena/Futura Press

Nestor Cerveró e Fernando Baiano já foram condenados em processos na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Em uma das ações, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato na primeira instância, impôs 12 anos e 3 meses de prisão para ex-diretor da Petrobrás. O lobista pegou 16 anos. Em sua primeira condenação, Nestor Cerveró foi condenado a 5 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro na compra de um apartamento de luxo em Ipanema, no Rio.

O lobista deixou a cadeia, no Paraná, em 18 de novembro. Fernando Baiano ficou preso por 1 ano.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA NÉLIO MACHADO

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O criminalista Nélio Machado, que defendeu Fernando Baiano - até quando o lobista decidiu fazer delação premiada - , afirmou que desconhece 'esse pagamento (de R$ 50 mil ), a tratativa entre o advogado Edson Ribeiro e o filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, Bernardo, em seu escritório. "Quando esse fato aconteceu eu não estive na sala onde eles estavam. Minha posição sempre foi de repúdio à delação premiada. O advogado Edson Ribeiro também se posicionou do mesmo modo durante os processos da Lava Jato."

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Machado disse que 'houve algumas reuniões (no escritório dele)'. "O menino (Bernardo Cerveró) estava meio desamparado, foi lá (no escritório) algumas vezes, provavelmente numa dessas vezes foi realizado (o repasse de R$ 50 mil)."

"São muitas salas no meu escritório, não sei quantas. Eu não presenciei isso, nunca soube, nunca passou por mim, jamais passaria por mim. Eu jamais participaria desse tipo de conversa. O Edson (Ribeiro) foi recebido por mim e o Bernardo é possível que tenha estado junto. Mas desconheço por completo essa tratativa. Reitero que desconheço qualquer tratativa de honorários sobre conversas nesses termos que estão vindo à baila."

Nélio Machado confirmou que o advogado Sérgio Riera trabalhou em seu escritório 'durante muitos anos'. Aproximadamente, em 2011 Riera deixou a sociedade, segundo Nélio Machado. "Eu respeito a atuação dele (Riera), mas eu não trabalho com delação. Isso viola os meus princípios. Em agosto perdemos um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal. Depois dessa derrota no STF, um irmão de Fernando Baiano, o Gustavo, resolveu buscar apoio de um advogado que se dispusesse a fazer isso (delação). É essa a história. Eu não acompanhei absolutamente nada, tenho absoluta aversão à delação. Se o caminho da advocacia for esse (da delação) é o fim."

Nélio Machado afirmou que Riera não esteve em seu escritório, 'em nenhum momento'.

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O criminalista não soube precisar a data do encontro realizado em seu escritório, no Rio. "Eu não sou capaz de precisar datas. Sei que nas audiências (da Lava Jato, diante do juiz federal Sérgio Moro) o Edson adotava uma postura idêntica à minha."

Nélio Machado disse que Edson Ribeiro esteve em seu escritório porque Gustavo, irmão de Fernando Baiano, foi procurado pelo Bernardo Cerveró. "O Bernardo e o Gustavo conviviam bastante."

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