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Executivo se escondeu na casa de Odebrecht durante buscas, diz PF

Relatório de interceptações telefônicas reforçam as suspeitas de que o presidente da empreiteira teria atuado para prejudicar as investigações

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Por Redação
Atualização:

Qualificação do executivo Rogério Araújo, da Odebrecht, nos autos da Lava Jato / Foto: Reprodução

Por Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo

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Interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal revelam que o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, teria escondido em sua casa um dos executivos do grupo Rogério Santos Araújo. Na ocasião, a força-tarefa da Operação Lava Jato fez buscas na residência de Araújo durante a 7ª fase da Lava Jato, em novembro do ano passado, a Juízo Final. Para os investigadores os novos indícios reforçam as suspeitas sobre as anotações no celular de Odebrecht e indicam que havia uma "estratégia da corporação" para se prevenir das investigações da Lava Jato.

As suspeitas da Polícia Federal se baseiam no telefonema entre a esposa e a filha de Marcelo Odebrecht no dia em que foi deflagrada a 14 ª fase da Lava Jato, em 19 de junho de 2015, quando Marcelo foi preso com outros executivos. Na ocasião, a mãe tenta acalmar a filha e afirma:

"Seu pai, o que foi que seu pai te avisou a vida toda? Que se pegassem alguém dele, ele ia fazer o que?", diz a mãe para a filha.

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"Ia lá", responde a jovem, que logo em seguida escuta da mãe: "O dia que ele quis esconder ele escondeu aonde? Ele trouxe Rogério pra casa de quem? Aqui não foi?". Para a PF o nome é uma referência a Rogério Santos Araújo, cuja residência foi alvo de buscas na sétima fase da operação em novembro do ano passado. Na ocasião, os agentes encontraram apenas a esposa de Rogério Araújo em casa.

"Ante o exposto, todas as informações citadas acima, aparentemente, corroboram no sentido de que Marcelo Bahia Odebrecht ajudou a esconder em sua própria residência Rogério Santos de Araújo no dia 14/11/2014", assinala a PF no relatório.

Qualificação de Marcelo Odebrecht, em inquérito da PF / Foto: Reprodução/PF

Rogério Araújo foi citado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás e primeiro delator da Lava Jato, como sendo o responsável por indicar a abertura de contas na Suíça. Por meio dessa conta, o ex-diretor da estatal confessa ter recebido US$ 23 milhões em propinas da Odebrecht. Rogério Araújo foi preso na 14ª fase da Lava Jato e atualmente é réu na Justiça Federal no Paraná.

Os agentes interceptaram também telefonemas da irmã de Marcelo Odebrecht que mostram que ela teria tratado com o filho de Rogério Araújo sobre "auxílio financeiro". "Nesse mesmo contato, (irmã de Marcelo) afirma que os advogados iriam concentrar esforços quanto a soltura de Marcelo no âmbito do Superior Tribunal de Justiça", aponta a PF.

Odebrecht diz 'não ter motivos' para esclarecer anotações em celular

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Para os investigadores, as interceptações reforçam as suspeitas sobre as anotações do celular de Odebrecht que citam as siglas MF/RA, em referência aos ex-diretores da empreiteira Marcio Faria e Rogério Araújo, e as relacionam às expressões "não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim" e "higienizar apetrechos MP e RA".

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Os investigadores estão convencidos de que a empreiteira tentou prejudicar as investigações. "O que nos leva mais uma vez à conclusão de que os atos praticados pelos executivos do grupo Odebrecht não se tratavam de atos isolados de alguns dirigentes, mas de uma estratégia da própria corporação", aponta o relatório da Polícia Federal.

Desde o início da Lava Jato, a Odebrecht tem reiterado taxativamente que não participou do cartel das empreiteiras no esquema Petrobrás. A empresa nega que seus executivos tenham repassado propinas. Por meio de habeas corpus, os advogados da Odebrecht sustentam perante os tribunais que seu presidente e os outros investigados do grupo são inocentes.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT:

"A Odebrecht lamenta que as informações sejam colocadas fora de contexto, traçando conclusões equivocadas que confundem a opinião pública. A empresa também lamenta a exposição desnecessária da intimidade de familiares."

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