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Executivo diz que Camargo Corrêa pagou R$ 110 mi em propinas na Petrobrás

Dois executivos presos pela Lava Jato revelaram, em delação premiada, pagamentos feitos entre 2007 e 2012, em três obras de refinarias; leia depoimentos em que presidente e vice de empreiteira citaram ainda pedidos de valores para o PT, em 2010, por Vaccari e Paulo Roberto Costa

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Por Redação
Atualização:

Por Ricardo Brandt e Fausto Macedo

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Os executivos da Camargo Corrêa Dalton Avancini e Eduardo Leite - presos pela Operação Lava Jato, desde 14 de novembro de 2014 - revelaram ter pago R$ 110 milhões em propinas na Petrobrás para os ex-diretores de Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento), ao longo de seis anos, por contratos em três obras de refinarias. Os dois ex-diretores, já denunciados criminalmente, eram indicações do PT e do PP, no esquema de corrupção na estatal.

"Entre 2007 e 2012 a construtora pagou R$ 110 milhões em propinas, sendo R$ 63 milhões para a Diretoria de Serviços e R$ 47 milhões para a Diretoria de Abastecimento", afirmou Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações (leia abaixo termo Eduardo Leite 5). Para provar o que diz, ele apresentou aos delegados da Lava Jato uma planilha com valores.

Leite disse ainda que o ex-tesoureiro Leite o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto o procurou "por volta de 2010? e pediu R$ 10 milhões para o partido, conforme havia revelado o Estadão (leia abaixo termo Eduardo Leite 9).

O executivo da empreiteira afirmou que, naquele ano, Vaccari lhe disse que "tinha conhecimento, por meio da Área de Serviços da Petrobrás, que a Camargo Corrêa estava atrasada no pagamento das propinas relativas a contratos (com a Petrobrás)".

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Os executivos da Camargo Corrêa Eduardo Leite (esq.) e Dalton Avancini, que terão que usar tornozeleira eletrônica em prisão domiciliar/Reprodução 

"Eduardo Leite relatou que João Vaccari o procurou, por volta de 2010, dizendo que tinha conhecimento, por meio da Área de Serviços da Petrobrás, que a Camargo Corrêa estava atrasada no pagamento das propinas relativas a contratos com a Petrobrás, e solicitou que a propina atrasada fosse paga na forma de doações eleitorais, em montante superior a R$ 10 milhões."

Preso na última quarta-feira, Vaccari pode levar as investigações da Lava Jato a novas provas envolvendo o pagamento de propinas ao PT. Leite afirmou que, além do ex-tesoureiro, quem pediu dinheiro para o Partido dos Trabalhadores na campanha de 2010 foi o ex-diretor de Abastecimento - primeiro delator do processo a fechar acordo em agosto do ano passado.

Segundo Leite, em 2010, o doleiro Alberto Youssef o procurou e disse que Costa queria uma reunião privada com ele. Os três teriam se encontrado em uma suíte do hotel Tivoli Monfarrej, em São Paulo. "Na ocasião, ele foi questionado por Paulo Roberto Costa sobre a possibilidade da Camargo Corrêa realizar doações de campanha para o Partido dos Trabalhadores, para as eleições de 2010", registra a PF.

"Paulo Roberto disse que a captação do recurso a ser doado seria 'como se ele estivesse trabalhando para o Partido dos Trabalhadores para fazer essa captação", explicou Leite, que encaminhou o assunto para outra diretoria. Ele afirma que a doação não teria sido efetiva, pois se tivesse sido paga, ele teria sido comunicado.

Na extensa denúncia criminal feita em janeiro contra 27 alvos, entre eles Vaccari e o ex-diretor Renato Duque, o Ministério Público Federal é taxativo ao se referir ao tesoureiro do PT. "Não há qualquer dúvida de que João Vaccari tinha plena ciência, na qualidade de tesoureiro e representante do Partido dos Trabalhadores, do esquema ilícito e, portanto, da origem espúria dos valores."

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Leia trecho da delação do vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite ; Reprodução Foto: Estadão

Os procuradores federais da Lava Jato estão convencidos do envolvimento do tesoureiro do PT no vasto esquema de corrupção que se instalou na Petrobrás. Os termos de delação dos executivos da Camargo Corrêa reforçaram essa convicção.

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"Além de tudo isso, no tocante a João Vaccari, há evidências de que os esquemas estabelecidos no seio da Petrobrás serviam a partidos políticos e a projetos pessoais de enriquecimento ilícito de detentores de cargos públicos, inclusive dele próprio."

As delações dos dois executivos da Camargo Corrêa são importantes para os processos da Lava Jato, por serem os primeiros executivos de uma grande empreiteira a confirmarem o amplo esquema de corrupção em contratos da Petrobrás, envolvendo ex-funcionários ligados a partidos. Segundo as denúncias, PT, PMDB e PP cobravam de 1% a 3% de propina nas contratações da estatal.

Leia trecho da delação que cita cobrança de doação ao PT em 2010 por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef Foto: Estadão

Depoimentos. Em depoimentos prestados entre os dias 6 e 16 de março, anexados nesta sexta-feira aos processos criminais da Lava Jato, que correm em primeira instância, sem sigilo, os dois executivos confirmaram e detalharam como funcionava o cartel de empreiteiras que fatiava obras na Petrobrás, mediante prévio acerto e pagamento de propinas a agentes públicos.

Leite e Avancini, que cumprem pena em regime domiciliar, concordaram nos acordos em pagar multa de R$ 5 milhões, cada um. Ambos são réus por corrupção ativa, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

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Um terceiro dirigente da Camargo Corrêa, João Ricardo Auller, presidente do Conselho de Administração, também está preso na PF pela mesma acusação. Mas ele ficou de fora do acordo com a força-tarefa.

Cartel. Os delatores detalharam como funcionava o cartel de empreiteiras e apontou os nomes dos envolvidos.

Avancini explicou que o grupo eram comandado pelas maiores empreiteiras, sendo elas Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez, UTC e Queiroz Galvão.

Segundo as delações de Avancini, a Odebrecht era a principal empreiteira do grupo. Segundo ele, "quem capitaneava a organização e tinha maior influência na decisões devido ao seu porte" era a construtora o Odebrecht - que ainda será alvo de denúncia da Lava Jato.

A empreiteira nega qualquer relação com propina e esquemas ilegais denunciados na Lava Jato.

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Avancini confirmou ainda o papel da UTC, do empresário Ricardo Pessoa - também preso desde 14 de novembro -, como organizadora dos "ajustes" feitos nos contratos da Petrobrás, pelo cartel.

O pagamento de propina "era a parte do jogo". Segundo os delatores, uma das peças centrais da cobrança de propina na Diretoria de Serviços - cota do PT no esquema - era o lobista Julio Gerin Camargo, do grupo Toyo Setal.

Castelo de Areia. Leite afirma que conheceu Renato Duque em 2009 em um encontro na Diretoria de Serviços agendado pelo lobista Julio Camargo. Segundo Leite, o motivo do encontro era uma obra na Refinaria Abreu e Lima estratégica para a empreiteira naquele momento, por ela ser alvo das investigações da Operação Castelo de Areia - que foram anuladas pela Justiça.

"Se fazia importante a assinatura de um contrato, mostrando que embora investigada, a empresa ainda detinha credibilidade para assinar contratos públicos", declarou Leite. O executivo afirmou que, nessa época, assumiu a frente de uma operação para melhorar o relacionamento da empreiteira com a Petrobrás.

Leite disse acreditar que a Camargo Corrêa passou a representar certo risco, inclusive no tocante à descoberta dos pagamentos indevidos que já eram feitos.

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Naquele ano, o executivo da Camargo Corrêa diz ter sido convidado para um jantar na casa do lobista Julio Camargo, no Morumbi, em São Paulo, onde estavam Duque e Barusco.

Foi quando o ex-gerente de Engenharia e braço-direito de Duque afirmou que a Camargo Corrêa estava em débito com seus compromissos e que queria um prazo para que isso fosse sanado.

"Barusco disse que a Camargo devia cerca de R$ 50 milhões".

Os executivos apontaram que, além da obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a Camargo Corrêa pagou essa propina referente às obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São Paulo.

Consultoria. O vice-presidente revelou ainda que disse, em  2012, quando Duque saiu da Petrobrás, procurou a Camargo Corrêa e disse que a empreiteira devia R$ 13 milhões em propinas.

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"Duque gostaria de receber isso de forma dissimulada, num futuro breve, como suposta consultoria, e que para tanto enviaria por e-mail contrato social da empresa de consultoria que ele havia constituído que se chamava DT3M, para celebração de um contato fictício."

LEIA OS TERMOS DE DELAÇÃO DO PRESIDENTE DA CAMARGO CORRÊA, DALTON AVANCINI, E DO VICE, EDUARDO LEITE, DA LAVA JATO

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