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Ex-gerente diz que assinou cheques de propina para campanha de senador do PT

Carlos Alberto Ferreira diz que duas empreiteiras do cartel alvo da Lava Jato receberam R$ 14 milhões para repassar a campanha de governador em Pernambuco de Humberto Costa, em 2006; investigadores querem mais detalhes de operações

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Por Redação
Atualização:

Por Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo

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Um ex-gerente aposentado da Petrobrás é um novo personagem das investigações da Operação Lava Jato envolvendo o pagamento de propina para campanhas do PT. Em uma declaração gravada no dia 15 de março - durante os protestos contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff -, em Recife,Carlos Alberto Nogueira Ferreira afirmou que assinou dois cheques nominativos para as construtoras do cartel no valor total de R$ 14 milhões destinados à campanha ao governo de Pernambuco, em 2006, do atual senador Humberto Costa (PT-PE).

"Assinei um cheque de R$ 6 milhões nominativo a Schahin Construtora e outro cheque de R$ 8 milhões nominativo a Odebrecht. Esses R$ 14 milhões de reais em 2006 foram para a campanha do senhor Humberto Costa, candidato a governador de Pernambuco em 2006 e arrecadador financeiro do PT aqui", afirma Ferreira.

Ex-gerente da Petroquímica Suape, em Pernambuco - subsidiária da Petrobrás, que fica ao lado da Refinaria Abreu e Lima -, Ferreira está aposentado e foi subordinado a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento da estatal que virou peça central da Lava Jato.

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 Foto: Estadão

No vídeo que circulou na internet à partir do dia 16, Ferreira acusa ainda o empresário pernambucano Mário Beltrão de ser o PC Farias do senador petista - referência a Paulo César Farias, pivô do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. 

"Quem recebeu o dinheiro em nome de Humberto Costa foi o senhor Mário Beltrão. Ele é o amigo de infância de Humberto Costa, arrecadador financeiro dele. É o PC Farias do senador Humberto Costa", afirma Ferreira.

As declarações do ex-gerente vão servir no inquérito aberto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o recebimento de propina pelo senador, em sua campanha de 2010. Beltrão também é alvo desse inquérito.

Delator. Em sua delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa já havia apontado o envolvimento do senador com propina proveniente da unidade.

Segundo ele, a campanha do senador em 2010 recebeu R$ 1 milhão do esquema de propinas e corrupção na Petrobrás. O dinheiro foi solicitado pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (Assimpra).

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Paulo Roberto Costa afirmou que o dinheiro saiu da cota de 1% do PP - Partido Progressista que tinha o controle político da diretoria Abastecimento da estatal. Segundo o delator, o PP decidiu que tinha que ajudar na candidatura de Humberto Costa, razão pela qual teria cedido parte de sua comissão. Paulo Roberto Costa afirmou ainda que, se não ajudasse, seria demitido.

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Humberto Costa foi eleito em 2010, o primeiro senador pelo PT de Pernambuco. Antes, havia exercido cargo de secretário das Cidades de Pernambuco (2007 a 2010) no governo Eduardo Campos - depois de perder a disputa ao governo em 2006 - e foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Lula, de janeiro de 2003 a julho de 2005.

Reação. O senador Humberto Costa entrou no Tribunal de Justiça de Pernambuco com um pedido para que o vídeo fosse retirado da internet. A gravação circulou na internet à partir do dia 16. " Tão logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa feita contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto Costa (PT-PE) determinou aos seus advogados que buscassem a identificação do autor e o interpelassem judicialmente", informou a assessoria de imprensa do senador.

"O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no vídeo", diz a nota. O senador ressaltou ainda que "recebeu pouco mais de R$ 5 milhões para custeá-la e que, desse total, não houve qualquer doação por parte das construtoras Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de contas, julgada e aprovada pela Justiça Eleitoral".

 A Schahin informou, por meio de nota, que "não tem conhecimento dos fatos mencionados".

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A Odebrecht, também por nota, disse que "não comentará ilações levantadas de forma questionável e sem qualquer fundamento".

Mário Beltrão não foi encontrado nesta quinta-feira, 26, para comentar o assunto. No ano passado, quando foi apontado pelo delator referente à campanha de 2010, o empresário informou que era "uma leviandade" a acusação.

"Eu sou um homem que preza a transparência e a honestidade. O dia em que eu mentir eu morro do coração. Humberto Costa é meu amigo de infância, mas nunca me pediu colaboração de campanha." Ele afirmou que "jamais pediu um centavo para Paulo Roberto".

COM A PALAVRA, O SENADOR HUMBERTO COSTA

Por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Humberto Costa negou qualquer irregularidade. Leia íntegra da nota: "Tão logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa feita contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto Costa (PT-PE) determinou aos seus advogados que buscassem a identificação do autor e o interpelassem judicialmente;

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O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no vídeo - gravado, reitere-se, no meio da rua, por não se sabe quem, com que interesse e em que condições;

 Sobre a campanha ao Governo de Pernambuco, em 2006, o senador Humberto Costa - que não passou do 1º turno da disputa - ressalta que recebeu pouco mais de R$ 5 milhões para custeá-la e que, desse total, não houve qualquer doação por parte das construtoras Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de contas, julgada e aprovada pela Justiça Eleitoral;

 Nesse sentido, o senador Humberto Costa repudia de forma veemente as acusações criminosas feitas contra ele e, da mesma forma que acionou a Justiça para que elas sejam postas à prova ante as autoridades responsáveis, acredita que outras esferas de investigação poderão ajudar na elucidação dos fatos."

 

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