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Ex-diretor do Metrô delata o trensalão na Assembleia de São Paulo

Ex-diretor do Metrô relata propina de empreiteiras a siglas da base do então governador Alckmin e diz ter feito repasse a atual vice-governador

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Por Fausto Macedo , Luiz Vassallo , Pepita Ortega , Pedro Prata e Fabio Leite
Atualização:

 Foto: Felipe Rau / Estadão

O ex-diretor do Metrô paulista Sérgio Corrêa Brasil afirmou em acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público Federal que partidos da base aliada do então governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia Legislativa recebiam um "mensalinho" das empreiteiras com recursos desviados de contratos da estatal para apoiar o governo.

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Em um dos depoimentos prestados aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, Sérgio Brasil disse ter feito repasses ilícitos ao atual vice-governador paulista, Rodrigo Garcia (DEM), por intermédio do deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania). Os pagamentos teriam ocorrido entre 2003 e 2006, quando eles eram deputados estaduais.

Funcionário de carreira do Metrô, onde trabalhou por 42 anos, Sérgio Brasil disse que só chegou ao cargo de diretor da companhia por causa do "apadrinhamento político" de Garcia. O ex-diretor já havia sido delatado por ex-executivos da Odebrecht e da Camargo Corrêa como destinatário de propinas em São Paulo. Em junho do ano passado, começou a negociar um acordo de delação, que foi homologado neste mês pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6.ª Vara Criminal Federal.

Aos investigadores, o ex-diretor do Metrô descreveu pagamentos ilícitos relativos às obras das linhas 2 - Verde, 5 - Lilás e 6 - Laranja do Metrô entre 2003 e 2014. Em depoimento, Sérgio Brasil detalhou como fazia os supostos repasses aos políticos do dinheiro que recebia em espécie das empreiteiras contratadas pela estatal.

"Por vezes, entreguei tais valores para a assessora de Arnaldo Jardim, a qual se chamava Roxana. Acredito que, ao todo, fiz cerca de 15 ou 20 entregas de valores indevidos no escritório político de Arnaldo Jardim, sendo que os valores entregues variavam de R$ 40 mil a R$ 60 mil, e, algumas vezes, entreguei valores próximos a R$ 100 mil", relatou o delator.

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Sérgio Brasil afirmou que, embora as entregas fossem no escritório de Arnaldo Jardim, na Rua Veneza, no bairro dos Jardins, manteve contato durante o período com Rodrigo Garcia, especialmente porque fazia visitas a ele em seu gabinete na Assembleia Legislativa. "Estimo que cerca de 50% daquilo que recebi foi destinado a tais pessoas", afirmou.

Ao todo, Sérgio Brasil confessou ter recebido cerca de R$ 6 milhões em pagamentos ilícitos das cinco maiores empreiteiras do País para beneficiá-las em contratos de obras do Metrô. Na planilha de propinas da Odebrecht, era identificado com os codinomes "Encostado" e "Brasileiro". No início do mês, ele e 13 ex-executivos das construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e OAS viraram réus em denúncia de corrupção na estatal do governo paulista.

Esquema. Sérgio Brasil disse ter sido procurado, inicialmente, pelo executivo da Odebrecht Fábio Gandolfo para receber 0,5% dos contratos da Linha 2 - Verde, ainda em 2003. A propina era para que o Metrô mantivesse em vigor contratos assinados na década de 1990 com as empreiteiras para executar a obra, que não havia sido iniciada por falta de dinheiro. Em vez de fazer uma nova licitação, o Metrô fez novos aditivos para retomar os contratos, como queriam as empresas.

Segundo o ex-diretor, o esquema abastecia diversos partidos e campanhas políticas e era coordenado por Gandolfo, um dos delatores da Odebrecht. "Fábio narrou que havia um sistema implantado de financiamento político-partidário em favor dos partidos de sustentação do governador Geraldo Alckmin (PSDB), quais sejam, PPS, PSDB, PFL e PTB. Era pago um valor mensal a cada um dos partidos para que eles dessem sustentação às propostas e aspirações do governo na Assembleia Legislativa", afirmou Sérgio Brasil.

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Além de Jardim e Garcia, também são citados pelo delator o ex-deputado estadual Edson Aparecido (PSDB), atual secretário da Saúde da gestão Bruno Covas (PSDB) na capital paulista, e o deputado estadual Campos Machado (PTB).

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"Tive conhecimento, por intermédio de Fábio Gandolfo, que havia internamente nos partidos políticos PTB, PFL, PSDB e PPS uma espécie de 'loteamento de arrecadação', de modo que os valores advindos do Metrô-SP seriam destinados ao PFL (atual DEM) e ao PPS (atual Cidadania), enquanto os valores advindos da CPTM/EMTU seriam destinados ao PSDB e ao PTB. Campos Machado seria a liderança do PTB na Assembleia Legislativa", afirmou Sérgio Brasil em depoimento.

Campanhas. Em outro depoimento, o delator relatou que os recursos desviados de obras da estatal também teriam beneficiado candidaturas de José Serra e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Sérgio Brasil, no entanto, não informou quem entregou ou mandou entregar valores ilícitos em mãos do atual senador e do ex-governador.

Em 2010, ainda de acordo com o ex-diretor, recursos desviados das obras da Linha 5 - Lilás do Metrô, executadas pelas cinco empreiteiras, teriam sido destinados às campanhas de Serra a presidente e de Alckmin a governador. O delator disse que era "procurado rotineiramente" por Silvio Ranciaro, Carlos Alberto Balotta Barros de Oliveira e João Câmara, todos do PSDB, a fim de que pudesse colaborar com a arrecadação de valores para as campanhas politicas.

Já na campanha de 2014, quando Alckmin se reelegeu governador de São Paulo, Sérgio Brasil afirmou que o então tesoureiro de Alckmin, o ex-secretário Marcos Monteiro, era o arrecadador da campanha do tucano em contratos do Metrô. Na planilha da Odebrecht, Monteiro era identificado com o codinome M&M.

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COM A PALAVRA, JOSÉ SERRA

"O senador José Serra não é citado como beneficiário na delação e reafirma que jamais recebeu vantagens indevidas em 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação em relação aos gastos públicos."

COM A PALAVRA, GERALDO ALCKMIN

"Apesar de desconhecer o teor das declarações ora divulgadas, o ex-governador Geraldo Alckmin reitera que não houve qualquer contribuição ilegal às suas campanhas, muito menos qualquer vinculação entre doações eleitorais alegadamente efetuadas e atos ou contratos administrativos cumpridos durante o seu governo."

COM A PALAVRA, RODRIGO GARCIA

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"Trata-se de uma acusação sem fundamento. Rodrigo Garcia já foi inocentado no STF por falsas acusações referentes ao metrô de São Paulo e lutará novamente contra essa injustiça."

COM A PALAVRA, O METRÔ

"O Metrô é o maior interessado na apuração de todos os fatos e, se comprovada qualquer irregularidade, apoia a punição dos envolvidos e o ressarcimento dos eventuais prejuízos dos cofres públicos."

COM A PALAVRA, O ADVOGADO DANIEL CASAGRANDE, QUE DEFENDE SÉRGIO BRASIL

"Sérgio Brasil é colaborador da Justiça e está cumprindo com as obrigações que assumiu quando da assinatura de seu acordo com a Força Tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo, acordo esse, inclusive, já homologado pela Justiça Federal de São Paulo. Nesta linha, aguarda a apuração dos fatos pela Justiça e se coloca à disposição do Poder Judiciário."

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COM A PALAVRA, O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

"O senhor Eduardo Bittencourt está desligado do Tribunal de Contas desde 1 de abril de 2012, portanto não possui mais vínculos com o órgão. Todas as questões acerca de supostos atos praticados estão sendo conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo e pela Justiça. O Tribunal de Contas desconhece o teor das supostas delações e permanece à disposição para prestar eventuais esclarecimentos."

COM A PALAVRA, A ANDRADE GUTIERREZ

"A Andrade Gutierrez informa que apoia toda iniciativa de combate à corrupção, e que visa a esclarecer fatos ocorridos no passado. A companhia assumiu esse compromisso público em um manifesto veiculado nos principais jornais do país e segue colaborando com as investigações em curso dentro dos acordos de leniência firmados com o Ministério Público Federal (MPF), com a Controladoria Geral da União (CGU), com a Advocacia Geral da União (AGU) e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

Cabe ressaltar que a empresa tem total interesse em esclarecer os fatos que abrangem as obras do metrô e já se coloca à disposição das autoridades competentes para uma colaboração ampla e irrestrita das informações de que tem conhecimento.

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A Andrade Gutierrez reforça anda que incorporou diferentes iniciativas nas suas operações para garantir a lisura e a transparência de suas relações comerciais, seja com clientes ou fornecedores, e afirma que tudo aquilo que não seguir rígidos padrões éticos será imediatamente rechaçado pela companhia."

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

"A Odebrecht tem colaborado de forma permanente e eficaz com as autoridades, em busca do pleno esclarecimento de fatos do passado. Hoje, a Odebrecht está inteiramente transformada. Usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente".

COM A PALAVRA, O ADVOGADO GUILHERME CORONA, QUE DEFENDE MARCOS MONTEIRO

"O advogado Guilherme Corona, responsável pela defesa de Marcos Monteiro, informa que não teve conhecimento do teor das declarações prestadas e nem do seu contexto de modo que não irá comentá-las. Reitera que seu cliente sempre pautou sua vida pública dentro da legalidade."

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COM A PALAVRA, O PSDB

"O PSDB de São Paulo desconhece os fatos narrados pelo delator/réu e reafirma que jamais recebeu recursos provenientes de desvios ou permitiu que os mesmos fossem negociados em seu nome. O PSDB reitera seu total apoio às investigações, sua confiança no ex-secretário Marcos Monteiro e a convicção de que, ao término das investigações, culpados serão punidos e a lisura do comportamento institucional será comprovada."

COM A PALAVRA, A CAMARGO CORRÊA

"A Construtora Camargo Corrêa teve papel determinante nas investigações de irregularidades envolvendo obras do metrô de São Paulo. A empresa informa que as denúncias ora investigadas são resultado direto do acordo de leniência e dos acordos de colaboração firmados, respectivamente, entre a companhia e ex-executivos com o Ministério Público do Estado de São Paulo e com o CADE."

COM A PALAVRA, O PTB

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"O PTB nunca recebeu recursos ilegais ou indevidos e sempre teve suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral. Da mesma forma, o partido desconhece as afirmações de Sérgio Brasil."

COM A PALAVRA, ARNALDO JARDIM

"Fui informado pela reportagem e nenhuma comunicação judicial recebi! De qualquer forma menciona fatos e procedimentos que desconheço e um comportamento que nunca tive! Lamento esta irresponsável divulgação sem fundamento e averiguação!"

COM A PALAVRA, O CIDADANIA (ANTIGO PPS)

A reportagem entrou em contato com o Partido. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, LUIZ FRAYZE

A reportagem entrou em contato com a defesa de Luiz Frayze. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, FÁBIO GANDOLFO

"A informações trazidas agora pelo Sr. Sérgio Brasil apenas corroboram os fatos narrados anteriormente na colaboração de Fábio Gandolfo, homologada pela Justiça em fevereiro de 2017, sendo importante consignar que Fabio apenas atuou nas obras da linha 02 do Metrô até janeiro de 2007, quando foi transferido para atuar no exterior, não tendo qualquer participação em obras das linhas 05 e 06."

COM A PALAVRA, EDSON APARECIDO

A reportagem tenta contato com Edson Aparecido. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, CAMPOS MACHADO

A reportagem tenta contato com Campos Machado. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, JOSÉ ANÍBAL

"Desconheço totalmente o teor desta calúnia acolhida como "delação". Mais um vazamento seletivo do Ministério Público Federal. Em 2013 fui vítima de um canalha delator que disse que nunca falou comigo e não me conhecia. Insisti com o STF que julgasse a farsa. Um ano e três meses depois, o Supremo julgou e arquivou o processo. Farei o mesmo agora. Chega de impunidade de bandidos delatores, de quem os emula e de quem divulga os seus crimes aleatoriamente. José Aníbal Peres de Pontes CPF 106.629.522-00"

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