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Ex-chefe de gerente da Petrobrás diz que sustou pagamentos de contratos suspeitos

Gerente aposentada da estatal disse à Lava Jato que Geovane de Moraes, ligado a Gabrielli e ao PT da Bahia, não apresentava comprovação de prestação de serviços de negócios de comunicação e publicidade pediu sua demissão em 2008

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e Luiz Vassallo
Atualização:

Geovane de Morais, ex-gerente da Petrobrás. Foto: Reprodução

A ex-chefe de um gerente de comunicação da Petrobrás ligado ao PT da Bahia afirmou em depoimento à Polícia Federal que sustou pagamentos de diversos serviços fechados por ele porque não conseguiu identificar a realização efetiva dos contratos. Geovane de Morais, ex-gerente de Comunicação da Diretoria de Abastecimento da estatal, é figura central da apuração da Operação Lava Jato que investiga suposto pagamento de pelo menos R$ 6 milhões para a Muranno Brasil Marketing, com dinheiro de propina. Parte desse valor foi repassado via doleiro Alberto Youssef.

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Os pagamentos, segundo apura a Lava Jato, teriam sido feitos por ordem direta do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, seu ex-chefe de gabinete Armando Tripodi, com suposto conhecimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Inquirida se tem conhecimento que Geovane de Morais recebia pressão interna para aprovar e pagar vários serviços na Gerência de Comunicação, mormente no ano de 2008, respondeu que desconfiava que sim, por este motivo sustou o pagamento de diversos serviços que não conseguiu identificar sua realização efetiva, ou que tivessem valores elevados sem devida justificação", registra termo de depoimento de Carmem Silvia de Noronha Swire.

Funcionária aposentada da Petrobrás, ela foi ouvida em 13 de outubro em inquérito da Lava Jato, de Curitiba, que tem os pagamentos a Muranno Brasil como alvo. Carmem era chefe imediata de Geovane de Morais. Ela foi gerente de contratos da área de Abastecimento da estatal de outubro de 2004 a novembro de 2005 e gerente-geral de Gestão Corporativa da área de Abastecimento de novembro de 2005 setembro de 2008 - quando se aposentou. Sua chefe imediata era Venina Velosa da Fonseca.

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"Ao assumir a Gerência Geral de Gestão Corporativa, Giovane de Morais já estava na Gerência de Comunicação desde 2004, que segundo o próprio, seria vinculado ao Partido dos Trabalhadores da Bahia", afirmou a testemunha.

"Se recorda, entretanto, que no ano de 2008 devolveu para a Gerência de Comunicação vários processos de pagamento para melhor instrução, visto que, não conseguiu identificar as contrapartidas E maior parte desses processos não retornou declarante para liberação de pagamento."

 

A ex-gerente aposentada afirmou que ficou sabendo, depois de sair da estatal, que Geovane de Morais "teria se aproveitado de uma falha no SAP (Sistema de Liberação de Pagamento) que permitiria qualquer gerente com devida senha liberar qualquer valor, dessa forma, podendo inclusive ultrapassar limite de competência que ele estaria adstrito", ao ser questionada se tinha conhecimento se ele pagava por serviços "sem comprovação que os serviços foram realizados e sem que os limites estabelecidos para o cargo fossem obedecidos".

Investigada. Os pagamentos a Muranno são investigados em inquérito aberto pela Polícia Federal em 2014, no início da Lava Jato, após ela aparecer nos pagamentos feitos por Youssef com recursos desviados da Petrobrás via contratos da Camargo Corrêa - construtora acusada de cartel. Foram feitos pagamentos que totalizaram R$ 1,7 milhão entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 para a agência.

Na versão do doleiro que é peça central na Lava Jato, houve uma suposta chantagem do dono da Muranno, Ricardo Villani, que queria receber valores não oficiais atrasados, em 2010 - último ano do governo Lula. Morais era o gerente da área que contratou a agência, supostamente por serviços de marketing em eventos sem contratação formal.

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Na delação de Youssef, ele afirmou que Lula soube da ameaça, na época, e teria determinado a Gabrielli que usasse o dinheiro "das empreiteiras" para resolver a pendência. O ex-presidente da Petrobrás teria procurado o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, que mandou o doleiro - espécie de contador e financeiro das propinas na Diretoria de Abastecimento - fazer o pagamento.

O ex-diretor de Abastecimento confirmou em depoimento à PF que partiu do ex-presidente da Petrobrás a ordem para o pagamento da Muranno. "Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma 'pendência' da Petrobrás junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida", afirmou Paulo Roberto Costa, no dia 14 de julho de 2015.

 

 

 

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O ex-diretor Paulo Roberto Costa declarou que "não sabe dizer por qual motivo Gabrielli tenha intercedido" pela "empresa Muranno". Youssef contou em um de seus termos de delação história parecida e detalhou como providenciou o pagamento. "Houve a suspensão de contratos pela Petrobrás, prejudicando recebimentos da parte acordada com as empresas, que deveriam ser quitados independentemente de suspensão", afirmou o doleiro.

O doleiro diz em sua delação ter sido "chamado por Paulo Roberto Costa, o qual pediu que esta questão fosse resolvida, pois teria recebido um pedido de Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, para que isso fosse solucionado".

Na versão do doleiro, Costa recomendou que os valores para a Muranno fossem rateados entre PT, PMDB e PP. "Deveria providenciar a quitação dos créditos da empresas, para tanto buscando a contribuição junto a colaboradores do PT, PMDB e PP", afirmou Youssef.

Os pagamentos teriam começado no final de 2010, ano da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. "Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade", explicou Youssef. "Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider." As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobrás.

O doleiro disse ter ficado "receoso" com o pedido de Costa "pois para pagar a dívida toda, teria que retirar da parte que era destinada ao PP. "A sugestão de Paulo (Roberto Costa) foi que então o PP cobrisse uma parte, o PMDB cobrisse outra e que o próprio PT também contribuísse para quitar os valores que estavam sendo cobrado pelas empresas."

Costa afirmou que iria conversar com o operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano "para poder conseguir pagamento da parte que caberia ao PMDB".

O doleiro revelou que cuidou dos pagamentos. "Soube que o PMDB acabou não contribuindo com nada", disse Youssef. "Quanto à parte de deveria ser paga pelo PT, o depoente foi procurado por Júlio Camargo que informou que cuidaria da parte que o PT deveria arcar e então repassou valores ao depoente mediante pagamentos de ordens no exterior em contas indicadas pelo depoente", registrou a PF. Youssef informou que Julio Camargo - lobista ligado ao ex-ministro José Dirceu - também teria citado o nome do então chefe de gabinete de Gabrielli, Armando Tripodi.

Material produzido para a Petrobrás por agência Muranno, que segundo doleiro foi paga com dinheiro de propina a mando de ex-presidente da estatal / Foto: Reprodução
 
 Foto: Estadão
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