Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Evergrande, dragão maior ainda

PUBLICIDADE

Por Sílvio Ribas
Atualização:
Sílvio Ribas. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Os mercados financeiros globais iniciaram a semana muito estressados com o rumor da iminente quebra da Evergrande - a segunda maior construtora chinesa. Como tudo relacionado à China, locomotiva que puxa a economia do mundo e que logo alcançará o topo do ranking de Produto Interno Bruto (PIB), o receio de um colapso sistêmico tem, sim, bases concretas.

PUBLICIDADE

A turbulência desses dias deverá, contudo, ter um desfecho favorável ao regime comunista e bem menos catastrófico que o da crise financeira de 2008 originada nos Estados Unidos, tendo o banco Lehman Brothers como protagonista. Isto tudo porque o papel regulatório do governo chinês sobre um vigoroso capitalismo está sendo mais uma vez sendo colocado à prova. Pequim acabará construindo uma saída que combine Estado e negócios.

Curiosamente, nos últimos anos, o presidente Xi Jinping já vinha sendo forçado a reagir à altura das inéditas e gigantescas situações-limite, que ameaçavam as arrojadas metas quinquenais de crescimento do Império do Meio. Com destaque para a freada da pandemia da Covid-19, os percalços foram enfocados e tiveram de se alinhar rapidamente a uma nova agenda do país, que incluíram alvos tecnológicos, ambientais e, por fim, sociais.

De motivação preventiva, o pesado poder regulatório da China já vinha intensificando ações preventivas para evitar audácias dos conglomerados empresariais multibilionários do país que, no futuro, pudessem se tornar novas situações turbulentas, capazes de demandar controles adicionais. As preocupações transversais incluíram até os impactos perniciosos da longa permanência de jovens sobre índices educacionais e de produtividade.

O caso mais ruidoso dessa escalada de intervenções corretivas ocorreu em novembro de 2020, quando o governo chinês surpreendeu ao suspender o lançamento inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do grupo Ant, braço financeiro do Alibaba, nas bolsas de valores de Xangai e Hong Kong. Foi o cancelamento de antevéspera da que seria a maior abertura de capital da história, de ao menos US$ 34 bilhões. Foi só o começo da grande correção.

Publicidade

Fundada em 1996 por Xu Jiaiyn, a Evergrande foi considerada a maior do mundo em valor de mercado em 2018 e está à beira da falência, com US$ 300 bilhões em dívidas sem perspectiva de pagamento. Suas dificuldades são também reflexo do aperto regulatório contra a especulação imobiliária, além da própria desaceleração nas vendas de imóveis pós-variante delta. O seu calote provável derrubou até mesmo o preço do minério da Vale.

Com uma postura do governo Biden ainda mais agressiva aos interesses chineses do que a do antecessor Trump, com o qual se construía um acordo para mitigar as perdas no intercâmbio comercial entre as duas maiores economias do planeta, Pequim ajusta estratégias para manter a estratégia principal, de crescimento sustentável e de estabilidade do poder central. E assim o dragão do Estado mostra ser maior que as crises do curto prazo.

*Sílvio Ribas, jornalista, escritor e consultor em relações institucionais

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.