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Estupro de menina indígena em Dourados: um crime anunciado

Por Stefania Molina e Amanda Sadalla
Atualização:
Stefania Molina e Amanda Sadalla. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Um crime bárbaro é sempre acompanhado de espanto e indignação, mas nem sempre de respostas satisfatórias. Em mais um episódio dramático, ocorrido em Dourados (MS) no dia 8 de agosto, uma menina indígena de 11 anos foi morta após ser vítima de um estupro coletivo.

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O crime, em sua brutalidade, reproduz alguns traços típicos da violência sexual contra a mulher no Brasil. Em 2018, 53,8% das 66.000 mulheres e meninas vítimas de estupro no país tinham até 13 anos de idade. Em 2019, quatro meninas com até 13 anos de idade foram estupradas a cada hora. Populações mais vulneráveis, como meninas indígenas ou negras, estão particularmente expostas a esse tipo de violência.

Chamou a atenção, no caso ocorrido em Dourados, a participação do tio da menina. Contudo, trata-se de um traço comum da violência sexual contra crianças. O Ministério da Saúde estima que 68% dos casos envolvendo crianças ocorrem no próprio domicílio, incluindo a participação de pessoas próximas da vítima.

A identificação e punição dos culpados, ainda que necessária, não ataca raiz do problema. Apenas reproduz ciclos de responsabilização e penalização. Tal tragédia tem suas origens em uma cultura de violência, machismo, sexualizarão e objetificação de corpos de mulheres e crianças.

A resposta efetiva para esse tipo de barbárie passa por políticas de prevenção à violência sexual, em grande parte baseadas na educação e conscientização de jovens, crianças e adultos, por meio do desenvolvimento de políticas educacionais para que meninas e meninos aprendam desde muito cedo as raízes desse tipo de violência.

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Formar agentes públicos, na implementação de programas e políticas e em pesquisas, sempre baseadas em dados e evidências empíricas, são só apenas algumas iniciativas para a mudança de paradigmas e conceitos ultrapassados.

Apenas quando todos, mulheres e homens, compreenderem a gravidade da violência sexual poderemos evitar que isso aconteça. Meninas e mulheres, principalmente negras e indígenas, sofrem violências diárias, erguendo barreiras sociais, econômicas, físicas e psicológicas que as impedem de viver de sonhar.

É preciso trabalhar nas raízes da violência, através da educação, justamente para que essas barreiras deixem de existir e meninas possam buscar seus sonhos.

*Stefania Molina é mestre em Políticas Públicas pela Hertie School em Berlim e cofundadora da organização Serenas, organização que atua na prevenção e enfrentamento de violências contra meninas e mulheres e na promoção e efetivação de seus direitos sexuais e reprodutivos

*Amanda Sadalla é mestre em Políticas Públicas pela Escola de Governo da Universidade de Oxford e cofundadora da organização Serenas

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