'Só estou ligando para dizer que estou aqui pra qualquer coisa, conte comigo', disse o deputado estadual Campos Machado (PTB) ao reitor da Universidade do Brasil, José Fernando Pinto da Costa, apontado como 'líder da organização criminosa e principal beneficiário' de suposto esquema que envolveu supostas fraudes de R$ 500 milhões no Fies e do ProUni.
O parlamentar, que não é alvo da investigação, fez a chamada três dias depois da deflagração da Operação Asclépio, deflagrada em abril e que prendeu pessoas ligadas a José Fernando, em uma investigação sobre fraudes no vestibular de 2017 para o curso de medicina da Fundação Educacional do Município de Assis (Fema).
Machado explica que 'José Fernando Costa é membro do Conselho consultivo e político do PTB, um órgão que conta com cerca de 50 integrantes, fundado há 5 anos'. "Nessas condições, como líder do partido, e, por considerar o Dr. Fernando um amigo, segui a minha consciência e hipotequei solidariedade a ele, mesmo desconhecendo qual era o problema efetivo que a universidade passava".
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OPERAÇÃO VAGATOMIAEm 2016, o deputado requereu um 'voto de congratulações' à Universidade Brasil e ao seu reitor, que também é dono da Uniesp. "Ante o exposto, e pela magnitude do empreendimento, em prol da educação do País, é que formulamos o presente requerimento de congratulações", diz o longo requerimento, que narra a história de José Fernando.
A Asclépio mandou para a cadeia Adeli de Oliveira, conhecido como 'Picadinho', apontado pelos investigadores como um 'capanga' de José Fernando.
Meses após a Operação Asclépio, foi a vez de o próprio dono da Universidade Brasil ser preso, desta vez, na Operação Vagatomia, que mira supostas fraudes em bolsas concedidas pela instituição, com verbas federais. José Fernando foi preso no dia 3 de setembro.
Entre os fundamentos da Justiça para prender o empresário está a suposta determinação 'a subordinados que promovessem a destruição de provas após a prisão de comparsas na Operação Asclépio'.
Segundo a Polícia Federal, José Fernando também 'procurou levantar informações sobre seus investigadores - procurador da República e delegado da Polícia Civil - a fim de tentar interferir nas investigações; ameaçou alunas que levaram a denúncia ao Ministério Público Federal sobre o excesso de alunos'.
"Éo líder da organização criminosa e principal beneficiário do esquema; já teve problemas no passado envolvendo a prática de crimes da mesma natureza que os ora investigados e com o mesmo modus operandi ora utilizado, mediante a captação de alunos para o programa fraudulento de financiamento de estudos denominado "UNIESP PAGA"", afirma o Ministério Público Federal.
O 'Uniesp Paga' motivou, em 2017, ação civil pública da Procuradoria da República em São Paulo contra José Fernando. Os alunos se inscreviam na instituição, e receberiam o Fies. Em troca, teriam de prestar serviços para ONGs e apresentar bom comportamento.
No entanto, de acordo com o MPF, o programa funcionava como uma espécie de pirâmide financeira, o que teria gerado prejuízo aos estudantes.
Já o esquema alvo da Vagatomia, segundo a PF e a Procuradoria, contava com fraudes no ingresso de alunos no curso de Medicina da instituição, na obtenção do Financiamento Estudantil do Governo Federal (Fies) e de bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) e na venda irregular de vagas de transferência para os cursos de complementação do exame Revalida - para revalidação de diploma.
Ao solicitar judicialmente ordens de prisão e de busca e apreensão, a PF indicou que haveria um 'balcão de negócio de vagas ocorrendo sem nenhum tipo de receio'.
COM A PALAVRA, CAMPOS MACHADO
Dr. José Fernando Costa é membro do Conselho consultivo e político do PTB, um órgão que conta com cerca de 50 integrantes, fundado há 5 anos.
Nessas condições, como líder do partido, e, por considerar o Dr. Fernando um amigo, segui a minha consciência e hipotequei solidariedade a ele, mesmo desconhecendo qual era o problema efetivo que a universidade passava.