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'Esse crime eleitoral todo mundo praticou', diz Odebrecht sobre caixa 2

Empreiteiro depôs sobre suas relações com presidente do PSDB, senador Aécio Neves, e declarou aos procuradores da Lava Jato que 'o político que disser que não recebeu caixa dois tá mentindo'

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fabio Serapião e Breno Pires
Atualização:

Aécio Neves. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O empreiteiro Marcelo Odebrecht disse em delação premiada à Procuradoria-Geral da República que todos os políticos trabalham com caixa dois nas campanhas eleitorais. "Todo mundo sabia que tinha caixa dois", afirmou Odebrecht, em depoimento à força-tarefa do Ministério Público Federal especificamente sobre suas relações com o presidente nacional do PSDB Aécio Neves.

"Eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha conseguido fazer qualquer eleição sem caixa dois. Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa dois. O cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era caixa dois. Não existe, não existe."

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"Esse crime eleitoral todo mundo praticou", enfatizou o empreiteiro. "Todo mundo tratava caixa dois como uma coisa necessária, fazia parte. Parece que também teve uma parte desse caixa dois aí das contribuições do PSDB de Minas, não sei quanto de Aécio ou não, parece que teve alguma coisa de marqueteiro, que não era pra ser, aquele princípio nosso não era pra ter."

Odebrecht relatou sobre suas ligações com Aécio e os negócios da empreiteira em Furnas. "Quem cuidava da relação de contribuições, qualquer pedido naquela época, estou falando de 2000, era o Henrique, responsável pelo nosso negócio de energia. Tinha interesse e, principalmente, lidava com Dimas (Toledo, ex-presidente da estatal de energia e antigo aliado de Aécio). Dimas, na época, era um operador informal do PSDB."

"Então, nesse momento foram feitas contribuições relevantes", seguiu o delator. "Praticamente, com a assunção do governo Lula, passou a ser grande a interface nossa com o PSDB. Eu não sei precisar quantas dessas contribuições do PSDB foram para o Aécio, para os candidatos, quanto isso foi de caixa dois. Como é coisa antiga...sei que eram montantes relevantes, a gente tá falando da ordem de pelo menos 50 milhões. O Henrique comentou uma época, eu até estimulei, 'olha, é o único ponto que a gente tem hoje de relacionamento com o PSDB, Aécio é uma pessoa importante, vai ser importante, eu acho que vale a pena você assumir essas contribuições."

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"Pelo menos 50 milhões pelo negócio de energia foram pagos ao PSDB barra esse núcleo que tinha ingerência sobre Cemig e Furnas."

Odebrecht citou Osvaldo Borges, outro quadro ligado ao PSDB. "Aí entra o governo estadual de Minas, Aécio é eleito governador. A partir daí essas contribuições de Dimas e Aécio governador, quem passou a ser, assim, tesoureiro informal era mais o Osvaldo Borges. Bom, a partir desse momento eu também comecei a criar uma relação crescente com Aécio, comecei a ter contatos mais constantes com ele. Não só pra discutir política, tudo que é tipo de coisa.

"Eu me lembro de ter tido várias reuniões com Aécio", declarou.

O empreiteiro abordou a campanha de 2014, quando Aécio disputou a Presidência com Dilma.

"Começamos a definir valores."

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Segundo ele, a 'primeira conversa' com o tucano foi ainda na pré-campanha do PSDB. "Precisavam ter gastos de pré-campanha aí acertei com ele valor de gastos para a pré-campanha. Aparentemente, pode até ter sido com doação oficial para o PSDB. Bancou durante dez meses valores, era 500 mil por mês, durante dez meses."

"Eram valores relevantes na pré-campanha para 2014, esse foi o valor que eu acertei com Aécio um momento, depois fizemos doação oficial a Aécio, mais ou menos o mesmo montante de Dilma", relatou o delator.

"Do ponto de vista oficial a gente equilibrou o valor de Aécio com o valor de Dilma", ele prosseguiu no depoimento gravado em vídeo pela força-tarefa da Lava Jato.

O empresário disse que, na véspera do primeiro turno da eleição 2014, ganhou força a possibilidade de a petista levar já no primeiro turno. Segundo ele, o tucano 'precisava de um fôlego' e o procurou.

"Pediu um encontro comigo. Eu falei 'Aécio, é complicado, eu não posso aparecer doando mais pra você do que pra Dilma'. Ele também tinha assumido compromisso de apoiar algumas candidaturas e coincidiu algumas pessoas que a gente tinha relação, eu lembro, ele falou alguns nomes. Agripino. Eu disse 'pô Aécio, esse é um candidato que não tem nenhum problema, então a gente apoia'.

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Odebrecht contou ter combinado com o diretor da empreiteira em Minas, Sérgio Neves. "Olha Sérgio, procura o Osvaldo e acerta o valor de 15 (milhões)."

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