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Esquema de despachantes e servidores do Detran para clonar veículos com chassis do Exército causou prejuízo de R$ 500 milhões, diz PF

Operação Fiat Lux aberta nesta quinta-feira, 24, mobilizou 400 policiais federais para desarticular organização criminosa sob suspeita de fraudar mais de três mil registros de automóveis

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Por Rayssa Motta
Atualização:

A investigação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que levou à deflagração da Operação Fiat Lux nesta quinta-feira, 24, teve início no final de 2020. Ao longo de mais de um ano, a força-tarefa identificou fraudes em registros e financiamentos de veículos na ordem de R$ 500 milhões.

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O ponto de partida do inquérito foram ocorrências registradas em fiscalizações nas rodovias federais. Com o avanço das apurações, os investigadores chegaram a uma organização criminosa que agiria em conluio com despachantes e servidores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo, Minas Gerais e Tocantins. A PF não descarta a exigência de braços do esquema em outros Estados.

O esquema seria operado em duas frentes. A primeira consistiria na clonagem de chassis para legalizar carros roubados e também para registrar veículos inexistentes em financiamentos. A segunda envolveria a revenda de automóveis comprados na Zona Franca de Manaus, com isenção de PIS e Confins, e emplacados indevidamente em outros Estados - o que na prática burla o recolhimento de impostos. De acordo com a investigação, mais de 300 veículos foram revendidos pela organização criminosa mediante fraudes fiscais.

Operação Fiat Lux cumpre mandados de busca e apreensão e prisão em 11 Estados. Foto: Polícia Federal/Reprodução

Para clonar os carros, o grupo usava chassis de veículos do Exército e notas fiscais falsas emitidas por empresas de fachada. Embora a frota militar obtenha o número de identificação, os automóveis não são efetivamente emplacados. "Essa foi a brecha encontrada para esquentar os carros roubados ou criar veículos de papel", afirma o delegado federal Elmer Coelho Vicenzi, que coordenou a investigação.

Até o momento, a PF identificou mais de três mil veículos cadastrados fraudulentamente no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). Não há indícios de envolvimento de servidores do Exército. Os elementos reunidos indicam que os números dos chassis eram obtidos pelos próprios servidores do Detran no sistema interno. Em alguns casos, a numeração de um ciclomotor, por exemplo, foi usada para registrar veículos de mais de R$ 500 mil, segundo a Polícia Federal.

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Há indícios dos crimes de inserção de dados falsos, financiamento fraudulento, lavagem de dinheiro, organização criminosa e, possivelmente, receptação.

A operação aberta mais cedo mobilizou 400 policiais e fez buscas em 11 Estados. Os agentes apreenderam veículos de luxo e R$ 500 mil em espécie. Ao todo, 85 servidores do Detran foram afastados por ordem judicial, a maioria deles estava lotada em São Paulo.

COM A PALAVRA, O DETRAN DE SÃO PAULO

"O Detran informa que todos os servidores públicos foram afastados imediatamente das funções de registro de veículos, fiscalização correlata, vistoria ou emplacamento. Houve ainda a imediata suspensão dos despachantes citados na intimação de iniciar processos de registros de veículos, realizar o emplacamento ou realizar laudos de vistoria. Foram inativados 20 despachantes.

A autarquia promoveu também a imediata suspensão de uma franqueada da empresa Dekra Vistorias e Serviços de realizar laudos de vistoria para o Detran.SP. Por último, o Detran.SP determinou o bloqueio imediato de acesso aos sistemas informatizados do Detran de veículos dos servidores, despachantes e de uma franqueada da empresa Dekra."

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