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ESG: a bola da vez para atenção dos conselheiros de administração

Por Marcello Lopes
Atualização:
Marcello Lopes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Os conceitos ASG, ambientais, sociais e de governança, (ESG - Environmental, Social and Corporate Governance, na sigla em inglês) tornaram-se a "bola da vez". Apesar de ser um tema discutido há pelo menos 10 anos, ganhou notoriedade em razão da pandemia de covid-19.

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Dados recentes da consultoria Morningstar Direct, publicados no Jornal The Wall Street Journal, mostram que de janeiro a abril deste ano, investidores aportaram US$ 12 bilhões em fundos ESG, o dobro captado em comparação ao mesmo período de 2019.

Fato é que grandes fundos de investimento, (como BlackRock e Fundo Soberano da Noruega) decidiram investir em empresas que tenham uma política de ESG definida ou desinvestir em empresas que não tenham essa política em seu radar. Mas aqui temos um outro alerta - o mercado financeiro vem lançando fundos de investimentos lastreados pelo ESG com a retórica de um retorno maior que os investimentos ditos "convencionais".

O assunto relacionado ao ESG pode despertar riscos e oportunidades para as companhias e são "precificadas" baseadas em métricas que poderão demonstrar medidas urgentes a serem tomadas e deverão ser incorporadas na dinâmica de análise, contribuindo para que se tenha uma melhor compreensão da empresa, mantendo-se uma visão de longo prazo.

Em pesquisa realizada pelo MSCI ESG Research 2020/Morgan Stanley Capital International, divulgada em 04 de agosto de 2020 pelo Blog IBGC, 67% dos Millennials acreditam que os investimentos são uma forma de expressar valor social, político e ambiental. Esse percentual cai para 36% aos pesquisados denominados Baby Boomers (pessoas nascidas na década de 50/60). Além disso, essa mesma pesquisa relatou que a geração Millennials é mais propensa a manter-se em investimento ESG por mais tempo do que o habitual, em relação a investidores com mais idade.

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Todos estes fatos tornam o ESG um ponto de grande atenção aos Conselheiros de Administração (CAs), principalmente, de grandes empresas que sofrerão forte pressão do mercado para atingir a esse propósito.

Em recente entrevista com Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, promovida pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU, ela fez o seguinte comentário "Sustentabilidade é um imperativo do negócio. Temos de educar pessoas, o público interno e externo, para mostrar que sustentabilidade e crescimento econômico são complementares". As Nações Unidas e a consultoria Russel Reynolds Associates, mapeou 55 executivos de grandes empresas com atuação no modelo sustentabilidade, com o propósito de traçar o perfil e habilidades dos CEOs e membros de conselho para acelerar o desenvolvimento de novas lideranças sustentáveis.

Terá que existir uma forte conscientização empresarial e cultural por parte das empresas e de todos os stakeholders, além dos objetivos de perpetuidade da empresa e remunerar seus acionistas/quotistas e não se sabe até este momento, exatamente, qual o retorno que o ESG trará efetivamente às empresas, apesar que isto já deveria fazer parte inerente de seu negócio, mas que em épocas anteriores, nunca foi "olhado" com o devido propósito.

Não há dúvida que a integração de métricas ESG pode despertar riscos e oportunidades e demonstrar medidas urgentes a serem tomadas, permitindo um melhor entendimento de toda a atividade da empresa pertinente ao tema, porém sem analistas capacitados e experientes, a análise dos fatores ESG será prejudicada.

Existirá uma enorme dificuldade do mercado na análise dessas informações, uma vez que não existem padrões definidos de métricas para o ESG, nem mesmo o seu conceito, e abrangência são uma unanimidade. Além disso, cada segmento deverá ter sua visão do que representa o ESG. O ESG tem diferentes significados para os stakeholders e isto por si só já é um problema. Some-se a isso diferentes regimes regulatórios ao redor do mundo e isto dificultará a obtenção de informação consistente, comparável e que possa ser verificada/auditada de forma adequada. Além disso, não há definição clara e objetiva se o ESG deverá ser utilizado com avaliação de risco ou avaliação de desempenho ou ambos.

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Surgem aqui algumas questões para reflexão: Que métricas deverão ser escolhidas? Qual a melhor análise a fazer? Análise das métricas ESG ou do produto ESG? Como o mercado realizará essa análise? Deverão ser criados índices de referência?

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A questão é complexa e deverá ter muita atenção dos CAs, revisitando a estrutura cultural das empresas aliada as expectativas de seus stakeholders. Serão tempos de ouvir muito e debater uma nova realidade a qual o Conselho de Administração terá muita responsabilidade em seu desenvolvimento e na obtenção de resultado favorável, levando-se em consideração termos financeiros e não financeiros. O investimento socialmente responsável está tornando-se dominante.

Cabe aos CAs encorajarem e adotarem procedimentos e análises ESG com o melhor propósito possível e correspondente a cultura empresarial em que está inserido, e integrar toda a informação disponível no mercado, preocupando-se naturalmente e rotineiramente com os riscos associados à empresa, sendo este processo totalmente transparente. O ESG será mais uma variável a ser discutida.

Nesse novo cenário, o desafio será entender rapidamente quais são as métricas e indicadores-chaves de desempenho para cada empresa em relação as demais do setor e estar atentos a um benchmark que garanta comparabilidade com seus pares. A qualidade do reporte será vital para este processo e traz também a preocupação do recurso a ser disponível para isso.

Existe uma tendência para ser mais ESG no mundo e espera-se que isso reverta em benefícios a todos.

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Em várias pesquisas publicadas, aspectos como impacto positivo na confiança dos consumidores em relação a empresa, possibilidade de oferecer e diferenciar produtos e serviços adaptados as expectativas dos atuais e futuros stakeholders, adoção de comportamento responsável pelas empresas, têm sido mencionados com frequência.

O recado está dado!

*Marcello Lopes é sócio e CEO da LCC Auditores e Consultores e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Doutorando em Gestão de Empresas, mestre em Controladoria e Atuariais, professor em cursos de MBA e pós-graduação

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