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Entre a distopia e a utopia: por mais ação em 2022

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Por Carla Furtado
Atualização:
Carla Furtado. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Thomas More lançou luz sobre a palavra utopia no século 16, com a obra homônima que descreve um lugar que não existe simplesmente por ser uma sociedade perfeita. Em contraponto, outros autores mostraram a distopia em suas obras, a pior das sociedades, sendo alguns dos mais famosos Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo e George Orwellem A Revolução dos Bichos e também em 1984. Para além da literatura, na vida real parecemos caminhar com um pé na distopia e outro na utopia.

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Foi a ativista ambiental Greta Thunberg que acendeu em mim essa reflexão ao criticar as promessas de líderes mundiais diante das emergências ambientais durante o Youth4Climate Summit, em setembro, na Itália. Chamou de "blá blá blá" as narrativas esvaziadas de ações para alcançar o compromisso NET-Zero em 2050. Ocorre que o distanciamento cada vez maior entre o discurso e a ação não perpassa apenas os desafios ambientais, está presente em diferentes campos, inclusive na promoção do bem-estar de quem trabalha.

O "blá blá blá" é um risco imenso para qualquer novo esforço no universo organizacional porque o que não traz resultado não pode perdurar nas empresas. Se de um lado a pandemia trouxe, como efeito colateral positivo, a abertura das organizações para as temáticas saúde mental, felicidade e segurança psicológica, do outro vemos crescer insatisfação, esgotamento, afastamento do trabalho por transtornos mentais e comportamentais e, nos Estados Unidos e na Europa, o fenômeno batizado de "The Great Resignation". No hemisfério norte são milhões de pedidos de demissão, especialmente na faixa entre 30 e 45 anos e nas áreas de saúde e tecnologia.

A construção de ambientes de trabalho seguros e saudáveis não se dá no âmbito da narrativa, embora falar sobre felicidade tenha se tornado mainstream. Não são propostas utópicas de conversão das empresas em playgrounds, dos colegas em uma grande família ou o clichê "encontre seu propósito e nunca mais precisará trabalhar" que mudam a realidade tantas vezes distópica de culturas tóxicas e lideranças que escalam para seus times a pressão sobre-humana que recebem.

A pergunta a se fazer é: somos capazes de evidenciar que fazemos o que dizemos que fazemos? A melhor resposta é a verdade. Se sim, é seguir em frente. Se não, é abandonar o "blá blá blá" e começar a agir. Entre minhas mais frequentes falas em 2021 junto a líderes de organizações públicas e privadas estão: reduza o volume de suas narrativas e aumente a potência de suas ações; abrace o trabalho duro e nada glamuroso que é cuidar das pessoas; e lembre-se que o bem-estar humano é uma variável vital para a sustentabilidade da sua organização.

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Nesta década que nos impele a buscar soluções para a sustentabilidade da vida em seus mais diferentes âmbitos, fiquemos com o pensamento de Thomas More: "Todo ideal vive dentro de você, assim como todo obstáculo no caminho deste ideal também vive". Estamos às vésperas de 2022, temos mais uma oportunidade de fazer um ano novo de verdade.

*Carla Furtado é pesquisadora do laboratório Trabalho e Mobilização Subjetiva da Universidade Católica de Brasília, docente em psicologia e fundadora do Instituto Feliciência. É produtora executiva do documentário Manifesto 22 - Entre a Distopia e a Utopia, que estreia em 20 de novembro

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