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Encruzilhada democrática

Por Lúcio Flávio de Paiva
Atualização:
Lúcio Flávio de Paiva. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quem hoje examinar a democracia brasileira dificilmente discordará da redefinição que o economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter deu ao termo: a democracia é menos um método de autogoverno do que uma luta competitiva pelo voto do povo.

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Nessa competição, será vencedor aquele que mais agradar ao povo, mormente pelas mais variadas distribuições de benesses. Mais de um século após Bismarck inventar o chamado estado de bem-estar social (welfare state), a cada vez mais ampla extensão desses benefícios, motivada exatamente pela luta pelo voto, ameaça colapsar as finanças públicas.

Problema: o sistema de manutenção e ampliação desses benefícios pressiona fortemente o orçamento público, pois seus custos se elevam constantemente, sem que a arrecadação do governo - cada vez mais voraz, diga-se de passagem - consiga fazer frente aos gastos. Mas na luta pelo voto, aquele mandatário que não agrada ao povo perde a eleição. Daí decorre uma consequência nefasta desse processo: governantes tomam emprestado do futuro, ou seja, daqueles que ainda não nasceram, para beneficiar os vivos, fazendo um déficit público cada vez maior, a ponto de se tornar, algum dia, cedo ou tarde, impagável.

Poucos se dão conta, mas esse mecanismo nada mais é do que uma externalização de custos; futuras gerações é que pagarão pelos gozos presentes. Em outros termos, o governante atual, em sua luta pelo voto, tende a jogar para os próximos o pagamento dos benefícios que antecipa hoje.

Claro que esse comportamento não é correto. Não é justo fazer graça com o chapéu alheio, diz a sabedoria popular. Entretanto, aí se apresenta a encruzilhada democrática: a responsabilidade do gestor público com os gastos impõe controle e mesmo redução das benesses estatais, limitadas que devem ser à capacidade de pagamento presente. Todavia, esse comportamento responsável e correto gera impopularidade do governante e diminui drasticamente a competitividade na batalha democrática; lado outro, a irresponsabilidade com os gastos, que externaliza os custos e os joga para o futuro, incrementa a competitividade eleitoral.

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Examine o leitor, com a imparcialidade devida, a democracia brasileira dos últimos trinta anos e constatará que estamos afundados nesse círculo vicioso ao qual, lamento dizer, nenhuma reforma política - que é necessária, claro - dará cabo.

A solução, como sempre, está nas mãos do eleitor, cuja consciência cívica e o compromisso com o futuro da nação brasileira precisam se aguçar. A escolha é objetiva: de um lado, os que prometem o céu na terra via aumento das benesses de um Estado plenipotenciário, mas à custa de se hipotecar o futuro do país; de outro, os que encaram os desafios do presente e lidam com as necessidades da população com responsabilidade e respeitando as forças do orçamento público. A eleição de 2018 está aí. E então, eleitor, qual será sua opção?

*Presidente da OAB Goiás

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