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Empréstimo do Schahin a Bumlai é concomitante ao Mensalão, afirma procurador da Lava Jato

Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa da Lava Jato, vê ligação entre os dois esquemas; Operação Carbono 14 investiga o empresário Ronan Maria Pinto, que seria destinatário de parte dos R$ 12 milhões

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Foto do author Andreza Matais
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Andreza Matais e Fausto Macedo
Atualização:

Pecuarista José Carlos Bumlai, preso na Lava Jato, embarca para Curitiba 

O procurador Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa da Operação Lava Jato, disse nesta sexta-feira, 1, que o empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é concomitante ao usado no caso do mensalão. A Polícia Federal deflagrou hoje a Operação Carbono 14, desdobramento 27 de Lava Jato, que prendeu o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.  O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, próximo do ex-ministro José Dirceu e um dos pensadores do PT, foram conduzidos coercitivamente a prestar depoimento.

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"Há, no meu ponto de vista, alguma ligação. Não é o mesmo esquema, mas são esquemas relacionados. Se você analisar a época desses fatos, em 2004 ainda vigia o esquema do mensalão, que consistia basicamente na manutenção de empréstimos fraudulentos junto ao Banco Rural e ao Banco BMG em troca de favores do governo. Claro que era um esquema muito mais complexo. A grosso modo havia na época empresas do sr Marcos Valério obtiam empréstimos junto a instituições financeiras. Esses empréstimos eram simulados, porque não eram pagos. Havia a rolagem sucessiva das dívidas e, posteriormente, as instituições financeiras eram agraciadas com algum favor do governo federal", explicou o procurador.

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Em dezembro de 2015, em depoimento de mais de seis horas, Bumlai admitiu à Polícia Federal em Curitiba, base da Lava Jato, que os R$ 12 milhões que tomou de empréstimo junto ao Banco Schahin, em 2004, foram destinados ao PT. O pecuarista apontou os nomes de dois ex-tesoureiros do partido, Delúbio Soares e João Vaccari Neto, como envolvidos no negócio.

Metade do valor, segundo disse Bumlai à Polícia Federal, teriam sido destinados a quitar dívidas da campanha petista em Campinas, em 2002 e 2004. A força-tarefa diz também que a operacionalização do esquema se deu inicialmente com o Frigorífico Bertin. De acordo com os investigadores, os outros R$ 6 milhões do montante foram destinados a Ronan Maria Pinto. Os procuradores agora querem saber o porquê.

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"Nesse caso envolvendo o Banco Schahin, a tipologia é muito parecida. Havia um empréstimo fraudulento obtido junto a uma instituição financeira e, posteriormente, acertado um esquema de favorecimento dentro do governo federal, dentro da Petrobrás, inclusive, um favorecimento que ocorreu muito depois de o Mensalão ter sido descoberto. Estamos analisando fatos de outubro de 2004. O Mensalão veio à tona em maio de 2005. Era uma época em que esse esquema ocorreu concomitantemente ao mensalão, por isso você vai ter alguma semelhança de alguns personagens, inclusive o Marcos Valério", afirmou Diogo Castor de Mattos.

"Já é de conhecimento público há alguns anos que, segundo o Marcos Valério, o Silvio Pereira teria o procurado em 2004 pedindo pra operacionalizar mais esse esquema de lavagem de capitais envolvendo o empréstimo fraudulento junto a uma instituição financeira muito parecido com o esquema do mensalão."

O advogado de Delúbio Soares não foi localizado. O espaço está aberto para a defesa do ex-tesoureiro do PT se manifestar.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE SILVIO PEREIRA

A advogada Mariângela Tomé, que defende Silvio Pereira, afirmou: a defesa não vai se manifestar, pois não tomou conhecimento do caso.

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COM A PALAVRA, RONAN MARIA PINTO

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Nota - Esclarecimentos - Ronan Maria Pinto

Sobre a Fase da Operação Lava Jato Nota Ronan Maria Pinto Há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava Jato, assim como a citação indevida de seu nome. Inclusive ampla e abertamente oferecendo-se de forma espontânea para prestar as informações que necessitassem.

Mais uma vez o empresário reafirmará não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas.

Solicitamos à imprensa atenção a essa nota e mais seriedade e sobriedade na apresentação do empresário, assim como nas informações e afirmações que vêm sendo feitas e divulgadas. Todas as denúncias que o envolveram ao longo dos anos foram ou estão sendo investigadas e Ronan Maria Pinto vem sendo defendido e absolvido. A mais recente, uma sentença de primeira instância, onde houve condenação, encontra-se em grau de recurso.

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Essas são as informações.

Aguardamos mais detalhes sobre a totalidade da Operação. Cordialmente,

Assessoria de Imprensa

COM A PALAVRA, BRENO ALTMAN

Fui surpreendido, na manhã de hoje, com a notícia de que a Policia Federal havia comparecido à minha casa, em São Paulo, com um mandado de condução coercitiva e outro de busca e apreensão.

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Tinha viajado a Brasília para participar de atividades da Jornada Nacional pela Democracia, que ontem reuniu duzentas mil pessoas apenas na capital do país.

Atendendo a orientação dos próprios agentes federais, compareci à sede brasiliense da instituição. Meu depoimento foi tomado durante cerca de uma hora, em clima cordial e respeitoso.

Minhas declarações sobre a investigação em curso, no entanto, poderiam ter sido tomadas através de intimação regular, com data e horário determinados pelas autoridades. O fato é que jamais tinha recebido qualquer convocação prévia para depor.

Aliás, assim foi procedido com demais depoentes do inquérito que envolve meu nome: nenhum deles tinha sido levado a depor sob vara, até esta sexta-feira, respeitando norma legal que estabelece coerção somente para quem foge de comparecer a atos judiciais ou oferece risco à ordem pública.

Só posso reagir com indignação ao regime de exceção que o juiz Sérgio Moro resolveu estabelecer para alguns dos intimados da chamada Operação Carbono 14.

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Infelizmente não é novidade. O atropelo de garantias constitucionais é a prática predominante do magistrado Sérgio Moro e de procuradores que atuam em sua corte.

Desde a condução coercitiva do ex-presidente Lula, tem ficado mais claro aos brasileiros que a Lava Jato faz da intimidação, do espetáculo e do arbítrio suas principais ferramentas de intervenção.

Sob a bandeira de combate à corrupção, trata-se de investigação seletiva e contaminada, cujo objetivo derradeiro é a derrocada do governo da Presidenta Dilma Rousseff, a interdição do ex-presidente Lula e a criminalização do Partido dos Trabalhadores.

Depois das multitudinárias concentrações de ontem e da revogação de decisões arbitrárias do juiz Moro pelo Supremo Tribunal Federal, era de se esperar que a República de Curitiba revidasse. Seu papel principal, afinal, é fabricar fatos que alimentem os meios de comunicação alinhados à oposição de direita.

Sou apenas mais um dos alvos deste tornado antidemocrático.

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Não foi apresentada, durante o interrogatório, qualquer prova ou indício de meu eventual envolvimento no caso investigado, de suposto empréstimo ao empresário Ronan Maria Pinto.

A falta de solidez na inquirição também se revela, por exemplo, pelas perguntas que diziam respeito às atividades de antiga editora da minha propriedade, fechada há quase vinte anos, com indagações até sobre o tipo de livros que publicávamos, e à doação eleitoral de dois mil reais que fiz, em 2006, a Renato Cinco, então candidato a deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro.

O que importava, afinal, era a criação de fato político que realimentasse tanto a Operação Lava Jato quanto a ofensiva por um golpe parlamentar contra a presidente da República.

Apesar de ultrajado em meus direitos de cidadão, continuarei à disposição da Justiça e confiante que, mais cedo ou mais tarde, retornaremos à plena vigência do Estado de Direito.

Mas minha situação pessoal é de pouca relevância. Como jornalista e militante das causas populares, tenho a obrigação de denunciar o esculacho ao qual nossa Constituição e nossas leis têm sido submetidas.

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Também é meu dever, ao lado de milhares e milhares de outros lutadores, continuar nas ruas contra a escalada golpista da qual faz parte a Operação Lava Jato.

Estou orientando meus advogados a entrarem com uma ação no Conselho Nacional de Justiça contra o juiz Sergio Moro, pela ilegalidade de minha condução coercitiva, em decisão prenhe de ilações e especulações.

O Brasil não pode aceitar que um estado policial se desenvolva nas entranhas de nossas instituições democráticas.

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