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Empresário alvo de diligências do TSE tinha motorista como laranja

Ex-motorista de Carlos Roberto Cortegoso, dono da segunda empresa que mais recebeu dinheiro da campanha de Dilma/Temer em 2014, acionou a Justiça contra o antigo patrão e negociaram um "cala boca"

Foto do author Julia Affonso
Por Mateus Coutinho , Ricardo Brandt , Julia Affonso e Fabio Serapião
Atualização:
 

Alvo da diligências autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e cumpridas pela Polícia Federal nesta terça-feira, 27, o empresário Carlos Roberto Cortegoso já foi alvo da Lava Jato e teve um motorista como laranja. O Estado revelou a história do laranja de Cortegoso em julho de 2016. Leia abaixo a íntegra da reportagem:

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Após 10 anos trabalhando como motorista pessoal de Carlos Roberto Cortegoso, dono da Focal Comunicação, segunda maior fornecedora da campanha de Dilma, da qual recebeu R$ 25 milhões nas eleições de 2014, Jonathan Gomes Bastos admite ter atuado como laranja do empresário que está na mira da Polícia Federal e tentou negociar na Justiça um acordo com seu ex-chefe para receber uma indenização mensal de R$ 6 mil por 12 anos e ficar em silêncio.

O acordo foi proposto no fim do ano passado, ao mesmo tempo em que ele acionou a Justiça contra seu antigo patrão pedindo uma indenização de ao menos R$ 4 milhões por não ter recebido dinheiro movimentado em uma das empresas de Cortegoso na qual aparecia como sócio até 2011: a CRLS Consultoria e Eventos, que está na mira da Procuradoria da República por suspeita de caixa 2 do PT.

O valor é referente ao lucro que a empresa teria obtido ao adquirir e depois revender em 2010 sete terrenos do pecuarista José Carlos Bumlai, em São Bernardo do Campo.

Os advogados de Cortegoso e de Jonathan tentaram negociar os termos do acordo. Nele, contudo, o valor que seria acertado ficaria em menos de um quarto do que foi pedido pelo ex-motorista inicialmente: R$ 846 mil em 144 parcelas mensais depositadas na conta da advogada de Jonathan.

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Cortegoso teria ainda que pagar todas as dívidas que Jonathan tivesse herdado por conta da empresa. Uma das cláusulas previa que cada um dos envolvidos devia manter o sigilo das informações "quer pessoais, profissionais, não podendo um falar do outro, para com terceiros, funcionários e, afins", diz o documento, que foi encaminhado ao juiz da 4ª Vara Cível de São Bernardo do Campo, onde está a ação contra Cortegoso.

Em caso de descumprimento desta cláusula, que proíbe qualquer uma das partes de falar sobre o assunto também com "credores, clientes, comerciais, funcionais, partidários" eles estariam sujeitas a pagar multa.

Cortegoso nunca chegou a assinar o acordo, mas fez os pagamentos para Jonathan até maio deste ano. No documento do acordo encaminhado à Justiça há apenas as assinaturas de Jonathan e sua advogada, e sequer há espaço para a assinatura do nome do empresário e de seus advogados.

Outra cláusula do documento prevê ainda que um dos imóveis de Cortegoso ficasse como garantia do pagamento e que o ex-motorista iria desistir de outras ações, referentes as outras empresas que estavam em seu nome.

Em outra ação movida por Jonathan, referente a outra empresa na qual ele atuou como laranja, o juiz da 5ª Vara Cível de São Bernardo, diante das acusações de financiamento ilegal de campanha feitas pelo motorista, determinou que o material fosse encaminhado ao Ministério Público Federal em São Paulo para apurar as suspeitas de irregularidades.

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Perante o juiz, a defesa do empresário não comentou nada sobre o acordo. Ela ainda contesta as alegações de Jonathan e diz que a CRLS se tornou alvo de ações trabalhistas somente após a saída do ex-motorista do quadro societário da companhia.

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Além disso, os defensores do empresário alegam que Jonathan não tem nenhum processo trabalhista nem execução fiscal em seu nome devido a CRLS, pedem a anulação da ação contra Cortegoso e que a advogada de Jonathan seja multada por litigância de má fé - quando uma das partes é acusada de usar manobras protelatórias ou mesmo usar a Justiça para conseguir benefícios ilegais.

Diante do imbróglio, o juiz marcou uma audiência para ouvir os dois lados e decidir sobre a homologação do acordo. O processo, contudo, corre em segredo de Justiça.

Relação. Hoje com 35 anos, Jonathan começou a trabalhar como office boy para Cortegoso em 2004 e foi ganhando confiança do empresário que fez carreira atuando em campanhas petistas em todo o Brasil desde a década de 1990. A pedido do chefe, forneceu seu nome para a composição de quatro empresas.

Destas, uma já foi encerrada e outra, a CRLS, está na mira da Operação Custo Brasil apontada como uma das firmas que teria sido usada para movimentar propina da Consist para o PT no esquema que desviou R$ 100 milhões em operações de créditos consignados de servidores do Ministério do Planejamento. Diferente da Focal que produz material gráfico, a CRLS realiza eventos, ajuda na montagem de palanques eventos para campanhas eleitorais, sobretudo do PT.

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Relatório da Receita Federal repassado à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal revela que, entre 2010 e 2014 a CRLS Consultoria e Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, de créditos e débitos, mas declarou apenas R$ 10 milhões no período.

A residência de Cortegoso chegou a ser alvo de buscas na Custo Brasil, mas antes mesmo da PF chegar ao seu antigo patrão, Jonathan começou a se preocupar com o avanço das investigações sobre o PT e as empresas de seu ex-chefe. No ano passado, ele foi notificado em uma ação trabalhista envolvendo outra empresa na qual figurou como laranja e buscou a ajuda de uma advogada para tentar provar que não se envolveu com o esquema de corrupção, tendo sido apenas um nome usado nas empresas de seu ex-chefe.

À Justiça em São Bernardo do Campo, os advogados de Cortegoso chegaram a afirmar que Jonathan foi o "filho" que o empresário nunca teve.

Procurados para comentar o assunto, os advogados de Jonathan e Cortegoso não quiseram comentar o caso que corre em segredo de Justiça. Jonathan também não está dando entrevistas.

COM A PALAVRA, O PECUARISTA JOSÉ CARLOS BUMLAI

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Por meio de sua defesa, o pecuarista José Carlos Bumlai informou que vendeu terrenos para a CRLS, mas que nunca tratou com Carlos Cortegoso. Leia a nota

"José Carlos Bumlai de fato foi proprietário de alguns imóveis em São Bernardo do Campo, recebidos em pagamento de dívidas e posteriormente vendidos à empresa CRLS Consultoria e Eventos. No entanto, a negociação sequer foi tratada com a pessoa de Carlos Cortegoso, sendo que a venda foi concretizada dentro da mais estrita observância da legislação, de modo que não há nenhuma irregularidade no negócio.

Ademais, Bumlai já foi inquirido pelos Delegados Federais de Curitiba sobre o assunto, ocasião que esclareceu devidamente os fatos."

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