Fausto Macedo, Andreza Matais, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Mateus Coutinho
24 de novembro de 2015 | 14h34
Atualizada às 20h45
A força-tarefa da Operação Lava Jato mira em financiamentos concedidos pelo BNDES a empresas do pecuarista José Carlos Bumlai. São alvos da investigação a São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1, empresas sob administração dos filhos do amigo do ex-presidente Lula. Bumlai foi preso nesta terça-feira, 24, na Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato.
A São Fernando Açúcar e Álcool foi beneficiária de um primeiro empréstimo, no montante de R$ 64 milhões, em fevereiro de 2005, quatro meses depois do empréstimo de R$ 12 milhões concedido pelo Banco Schahin a Bumlai – dinheiro que teria sido destinado ao PT, segundo a investigação.
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“A Receita constatou que a empresa estava inativa na época, não tinha empregado, nem receita operacional quando ocorreu o primeiro empréstimo”, assinala o procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa do Ministério Público Federal.
Em 2008 foi realizado um segundo empréstimo em favor da São Fernando Açúcar e Álcool, no valor de R$ 388 milhões. “Naquele ano já havia pedido de falência dessa empresa, já havia sido protocolado pedido de falência contra a São Fernando Açúcar e Álcool”, informou o procurador.
Em 2013, ainda de acordo com a Lava Jato, a São Fernando Açúcar e Álcool entrou em recuperação. Os investigadores relatam que, em agosto de 2015, o BNDES pediu falência da empresa, com dívidas acumuladas de mais de R$ 1 bilhão. A dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, segundo os investigadores, chega a R$ 400 milhões, ‘créditos foram sendo concedidos e não pagos ao longo do tempo’.
A outra empresa de Bumlai, a São Fernando Energia, consta na base de dados da Receita como beneficiária de novo aporte do BNDES, em 2012, no valor de R$ 101 milhões. “Em 2012, (a São Fernando Energia) contava com apenas 7 funcionários. Ela dá um aporte no capital social de R$ 10 mil para R$ 30 milhões e começa a ter atividade operacional. Os fatos ainda estão sob investigação, por isso a diligência de hoje para obtenção de contratos no próprio BNDES. Temos que saber se a liberação desse crédito seguiu as normas.”
COM A PALAVRA, O BNDES
Diferentemente das informações que têm circulado por meio da imprensa, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enfatiza que não realizou qualquer operação de crédito com as empresas São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1 no ano de 2005.
Na verdade, o financiamento de R$ 64,6 milhões, ao qual as reportagens se referem, ocorreu em 03/02/2009. O objetivo era a implantação do primeiro sistema de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar, complementar ao processo de produção de açúcar e álcool da usina São Fernando Açúcar e Alcool. Na ocasião da assinatura do contratao, também de maneira diversa ao que vem sendo afirmado, o cadastro da empresa na Receita encontrava-se ativo.
Com relação ao contrato de R$ 101,5 milhões, celebrado em 23/07/2012 com os agentes financeiros Banco do Brasil e BTG, para repasse de recursos à São Fernando Energia, trata-se da implantação do segundo sistema de cogeração, também acoplado aos demais processos produtivos da unidade São Fernando Açúcar e Álcool.
Portanto, não faz sentido a afirmação de que o financiamento teria sido direcionado a uma empresa que possuía menos de uma dezena de funcionários. Qualquer avaliação de grau de atividade da unidade de cogeração ou de seu contingente de empregados não pode ser feita de forma isolada e independentemente dos demais processos da usina como um todo. Tal modelo de operação é usual no setor sucroalcooleiro, havendo diversos clientes do BNDES com financiamento concedido para unidades de cogeração acopladas, similares à operação em questão.
Histórico – O histórico de relacionamento do BNDES com o Grupo São Fernando é o seguinte: o BNDES possui dois tipos de operações de financiamento com o Grupo. Os primeiros créditos, no valor de R$ 395,17 milhões, foram concedidos de maneira direta, em 2008 e 2009, para a São Fernando Açúcar e Álcool. Já a operação indireta, no valor de R$ 101,5 milhões, foi contratada em 2012 com a São Fernando Energia.
Os agentes financeiros da operação indireta foram Banco do Brasil e BTG Pactual. Como é de praxe nesse tipo de operação, os agentes foram responsáveis pela análise cadastral do cliente e assumiram o risco da operação.
A concessão dos créditos à São Fernando seguiu todos os procedimentos do BNDES, com total lisura e sem qualquer irregularidade. Os detalhes das operações são os seguintes:
A São Fernando Açúcar e Álcool Ltda. obteve créditos do BNDES para financiar a implementação de uma usina produtora de açúcar e etanol no município de Dourados-MS e a implantação do primeiro sistema de cogeração de energia elétrica. O crédito para a construção da usina, de R$ 330,509 milhões, foi contratado em 12/12/2008, e o empréstimo para a cogeração, de R$ 64,664 milhões, foi firmado em 3/2/2009. O valor total dos contratos foi de R$ 395,173 milhões. Em relação a tais contratos, cumpre destacar:
Em 2013, a São Fernando, que até então se encontrava adimplente com o BNDES, ingressou com pedido de recuperação judicial e interrompeu os pagamentos ao Banco e demais credores. A renegociação no âmbito da Recuperação Judicial teve as seguintes características:
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