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Em e-mail a Picciani, Sérgio Cabral pediu cargo na Assembleia para o marido da prima

‘Acabaram de ter um filho’, justificou, em fevereiro de 2015, o ex-governador em mensagem enviada aos ‘amigos’ deputados do PMDB, ora presos na Operação Cadeia Velha; para investigadores, solicitação reforça suspeita de nepotismo cruzado

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Por Julia Affonso
Atualização:

 Foto: Reprodução/MPF

A Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato que pegou os deputados do PMDB do Rio Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, reforça uma suspeita do Ministério Público Federal de nepotismo cruzado envolvendo o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB).

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Documento

CADEIA VELHA

Mensagem apreendida pela investigação aponta que Sérgio Cabral pediu a Picciani e a Albertassi que mantivessem o marido de uma prima na Assembleia Legislativa do Rio. Os dois parlamentares, presos nesta quinta-feira, 16, são velhos caciques peemedebistas da Casa de leis fluminense.

"As investigações revelam que são constantes os pedidos para ocupação de cargos e empregos públicos, inclusive de Sérgio Cabral, que interveio para que Albertassi e Picciani mantivessem parente do ex-governador trabalhando na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro", indicam os investigadores.

O e-mail enviado por Sérgio Cabral é de 4 de fevereiro de 2015. "Amigos, Priscila é minha prima e filha do meu tio que é irmão da minha mãe. Se puder manter seu marido eu agradeço. Acabaram de ter um filho. Forte abraço."

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A Controladoria-Geral da União (CGU) define nepotismo direto como 'aquele em que a autoridade nomeia seu próprio parente'. O órgão aponta como nepotismo cruzado a situação em que 'o agente público nomeia pessoa ligada a outro agente público, enquanto a segunda autoridade nomeia uma pessoa ligada por vínculos de parentescos ao primeiro agente, como troca de favores, também entendido como designações recíprocas'.

Em agosto do ano passado, Susana Neves, ex-mulher de Sérgio Cabral e investigada pela Lava Jato, do Rio, foi nomeada assessora de Picciani, no cargo de chefe de gabinete. Recebia, à época, R$ 13.651,48 líquidos. Quando a notícia do nepotismo cruzado veio à tona, durante as investigações da Lava Jato, ela era considerada funcionária-fantasma: ganhava salário sem trabalhar no gabinete.

Na ocasião, a Assembleia informou que embora constasse como chefe de gabinete na folha de pagamento da Assembleia, Susana não exercia a função. O Legislativo estadual afirmou que 'o cargo ocupado tem salário que corresponde ao salário de chefe de gabinete'.

Susana Neves foi denunciada pelo Ministério Público Federal, em junho, por lavagem de dinheiro. Também foram acusados Sérgio Cabral e outros quatro investigados. A denúncia pediu a condenação de Susana por 31 atos de lavagem.

A ex-mulher de Sérgio Cabral, em agosto de 2017, passou a receber um salário mínimo - R$ 1.136,53 - a título de "bolsa reforço escolar". O benefício é pago, desde 2015, a quem trabalha na Casa e tem filhos solteiros cursando escola ou faculdade.

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Susana tem três filhos com o ex-governador, com quem foi casada por 15 anos: João Pedro, Marco Antônio (deputado federal pelo PMDB) e José Eduardo. A ex-mulher de Sérgio Cabral tem direito ao benefício porque seu filho caçula ainda não tem 24 anos, idade máxima para a concessão da bolsa.

COM A PALAVRA, SÉRGIO CABRAL

A reportagem entrou em contato com a defesa de Sérgio Cabral. O espaço está aberto para manifestação.

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