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Em depoimento, ex-assessora de Flávio confessa 'rachadinha' e repasses para Queiroz

Luiza Souza Paes foi a primeira funcionária do senador e ex-deputado estadual a confirmar a prática no gabinete da Alerj

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Por Caio Sartori/RIO
Atualização:

 

Peça-chave na investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), a ex-assessora Luiza Souza Paes confirmou ao Ministério Público do Rio que repassava seus rendimentos para Fabrício Queiroz, o suposto operador do então deputado estadual no esquema de "rachadinhas". Flávio, Queiroz, Luiza e outras 14 pessoas foram denunciadas pela Promotoria. Os crimes apontados são peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e apropriação indébita. O depoimento foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo Estadão.

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No depoimento prestado em setembro deste ano aos investigadores, Luiza confessou que nunca trabalhou de fato para Flávio, apesar de ter passado cerca de seis anos nomeada no gabinete dele e em outros cargos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Era obrigada, segundo relatou, a repassar mais de 90% dos salários para Queiroz. Ela apresentou extratos bancários que mostram transferências de R$ 160 mil para o ex-assessor durante esse período, entre 2011 e 2017.

Como se deu na etapa final da investigação, o interrogatório foi crucial para o MP decidir denunciar Flávio e seus assessores. Foi a primeira vez que um ex-funcionário do filho do presidente Jair Bolsonaro assumiu diante da Promotoria que era "fantasma". Com os repasses, Luiza ficava apenas com cerca de R$ 700 por mês. Ela precisava transferir para Queiroz até valores referentes a 13º salário, férias e vale-alimentação, por exemplo.

Ao citar seu caso, a ex-assessora inclui ainda outras colegas de gabinete que também participariam do esquema: as filhas mais velhas de Queiroz, Nathália e Evelyn, além de uma amiga da família dele, Sheila Vasconcellos. Luiza é filha de Fausto Antunes Paes, amigo próximo ao suposto operador. Eles jogavam juntos uma pelada de futebol em Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio, chamada de "Fala tu que eu tô cansado". As famílias Queiroz e Paes foram vizinhas naquele bairro.

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No depoimento, Luiza disse que se envolveu com essas práticas aos 19 anos, enquanto ainda cursava a faculdade de Estatística. Pediu um estágio a Queiroz por meio do pai, e ele a inseriu no esquema da Alerj. Ela alegou que só ficou sabendo que não trabalharia de fato - e que precisaria repassar os valores - no dia da nomeação.

Em junho deste ano, no pedido de medidas cautelares que resultou na prisão preventiva de Queiroz, o MP elencou uma série de provas que já mostravam que Luiza não comparecia à Assembleia para trabalhar. Ao rastrear os passos dela por meio do celular, os investigadores apontaram que a ex-assessora só foi ao Palácio Tiradentes em três ocasiões - e apenas para assinar o ponto. Dentro do período ao qual os investigadores tiveram acesso aos dados, entre 2014 e 2017, ela esteve nomeada por 792 dias.

 

Por meio das mensagens entre Luiza e o pai, a investigação também mostrou que ela combinou com o servidor da Alerj Matheus Azeredo Coutinho, que trabalhava no Departamento de Pessoal, de assinar uma espécie de ponto retroativo no dia 24 de janeiro de 2019. Com orientações de Queiroz, o contato se deu por intermédio do ex-advogado de Flávio Luis Gustavo Botto Maia e pela assessora Alessandra Esteves Marins, funcionária dele até hoje no escritório de apoio que mantém no Rio.

 

Procurado, o advogado de Luiza, Caio Padilha, disse que não pode confirmar nem comentar o depoimento, que está sob sigilo. Também informou que ainda não foi notificado sobre a denúncia.

"A defesa de Luiza Souza Paes não foi notificada do oferecimento de denúncia e ainda desconhece seu conteúdo. Ainda nesse momento inaugural do processo sobre o qual recai sigilo, não é possível tecer qualquer tipo de comentário extra-autos sobre as fases da investigação", afirma a nota divulgada pela defesa.

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