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Henrique Constantino delata MDB e cita 'benefícios' a Rodrigo Maia

Juiz do Distrito Federal homologa acordo de Henrique Constantino; ele fala em propina de R$ 7 mi a Temer e outros emedebistas e vantagens ‘financeiras’ a presidente da Câmara

Foto do author Beatriz Bulla
Por Breno Pires , Beatriz Bulla , BRASÍLIA e NOVA YORK
Atualização:

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Um dos sócios da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino afirmou em delação premiada ter repassado R$ 7 milhões em propina a pedido do ex-presidente da República Michel Temer e de integrantes da cúpula do MDB. O empresário também cita "benefícios financeiros" pagos ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A delação, homologada no dia 16 de abril pelo juiz da 10.ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal, Vallisney de Souza Oliveira, cita o envolvimento de ao menos 12 políticos de cinco partidos diferentes - além de MDB e DEM, PT, PP e PSDB.

Documento

HOMOLOGAÇÃO

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ACORDO

Sobre Temer, Constantino disse que o então vice-presidente da República participou de uma reunião em junho de 2012, em Brasília, ao lado de Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (MDB-RN), que eram deputados na época.

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Segundo o empresário, durante o encontro foi solicitado o pagamento de R$ 10 milhões "em troca de atuação ilícita de membros do grupo em diversos negócios". O interesse do empresário era a liberação de financiamento de R$ 300 milhões do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), controlado pela Caixa Econômica Federal, para a ViaRondon, empresa ligada a Constantino.

Do valor pedido pelos emedebistas, o empresário diz que pagou R$ 7,077 milhões, divididos em duas partes. Uma fatia para a campanha do ex-deputado Gabriel Chalita, então integrante do MDB, à Prefeitura de São Paulo, em 2012, e outra para empresas indicadas por Lúcio Funaro para intermediar a propina, como Viscaya e Dallas.

Constantino conta que chegou ao grupo após se aproximar de Funaro, operador de propina do MDB e que também é delator (assista aos vídeos da delação). O empresário afirma ainda que Funaro intermediou propina "de R$200 mil a R$ 250 mil" ao ex-ministro Geddel Vieira Lima para a abertura de uma linha de crédito de R$ 50 milhões da Caixa para a Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, outra empresa de sua família. Geddel era diretor do banco na época.

A colaboração foi firmada em fevereiro com a força-tarefa da Operação Greenfield, da Procuradoria da República do Distrito Federal, que investiga desvios em fundos de pensão, bancos públicos e estatais.

Como parte do acordo, o empresário se comprometeu a devolver R$ 70,8 milhões a título de ressarcimento à Caixa e ao FGTS - equivalente a dez vezes o valor da propina.

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Maia. Em um dos dez anexos da delação premiada, Constantino aponta o presidente da Câmara como recebedor de "benefício financeiro" por meio da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). A entidade foi criada em 2012 para defender os interesses das empresas do setor.

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A informação consta de um trecho da decisão do juiz que foi divulgado com tarja pela Justiça Federal, mas ao qual o Estado teve acesso. No documento, porém, não há detalhamento sobre a citação ao presidente da Câmara.

Além de Maia, foram citados como beneficiários o ex-senador e atual presidente do MDB, Romero Jucá (RR), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), além dos ex-deputados Vicente Cândido (PT-SP), Marco Maia (PT-RS), Edinho Araújo (MDB-SP), Otávio Leite (PSDB-RJ) e Bruno Araújo (PSDB-PE), entre outros.

Cada um dos dez capítulos do acordo traz relatos de crimes e, segundo assinalou o magistrado, tem "regular índice de elementos probatórios".

Constantino incluiu como provas para detalhar os crimes e-mails e trocas de mensagens pelo celular. Em algumas delas, enviadas a Funaro, utiliza termos como "reservas", "bilhetes" e "poltronas" para se referir às propinas.

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Também são citados pagamentos ao ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) e patrocínio de uma liga de futebol americano no Brasil com "intervenção" do ex-deputado federal Vicente Cândido.

Políticos citados na delação premiada do empresário Henrique Constantino negam ter recebido valores ou benefícios do sócio da Gol Linhas Aéreas. A reportagem não conseguiu contato com os outros citados. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, RODRIGO MAIA

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que não conhece e nunca teve nenhum tipo de relacionamento com Henrique Constantino, um dos sócios da Gol Linhas Aéreas.

Maia disse que Constantino está mentindo e que esse será "mais um" dos casos de investigação arquivada. "Nunca me pagou nada, isso é mentira dele. Não tem como provar e vai ser mais um inquérito arquivado na justiça brasileira", afirmou Maia, ao chegar para um jantar com empresários e investidores estrangeiros organizado pelo Grupo Safra, em Nova York.

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"Nunca tive relação com ele, nunca tive nenhum benefício deles. Como outras delações que já foram arquivadas, como da Odebrecht, essa vai ser arquivada também", complementou o presidente da Câmara.

Maia disse que não conhece o empresário e que vai dar explicações à Justiça com "a maior tranquilidade do mundo". "Nunca falei com ele na minha vida", afirmou.

A informação sobre a citação a Maia consta de um trecho de decisão desta segunda-feira, 13, do juiz responsável pelo caso, Vallisney de Souza Oliveira, titular da 10.ª Vara Criminal da Justiça Federal do Distrito Federal. O trecho em questão foi tarjado no documento divulgado pela Justiça Federal. Na colaboração, Constantino também afirmou ter ouvido pedido de propina de Michel Temer, então vice-presidente, e dos deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (MDB-RN).

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA EDUARDO CARNELÓS, QUE DEFENDE TEMER A defesa do ex-presidente Michel Temer foi surpreendida com a divulgação de notícia sobre delação feita em fevereiro por empresário que o acusaria de práticas ilícitas. Mesmo sem ter acesso aos termos da tal delação e do depoimento prestado pelo delator, é fundamental dizer quão estranha soa a divulgação nesta data, véspera de julgamento de pedido de liminar em habeas corpus pelo STJ. Fica evidente o propósito de constranger os ministros que decidirão amanhã (terça-feira, 15). Ao que se noticia, parte do relato feito pelo novo delator premiado estaria fundada na palavra de outro delator, que nunca esteve com Michel Temer, e cuja credibilidade é nenhuma. De qualquer forma, desde já Michel Temer reitera que nunca cometeu crimes de nenhuma natureza, e repele essa prática odiosa que se usa para persegui-lo judicialmente, sempre com base em delações de quem se beneficia com os relatos mentirosos que faz, os quais são vazados propositalmente para prejudicar Temer. É preciso dar um basta a tantos e tão ousados abusos, perpetrados por aqueles que têm o dever de zelar pelo cumprimento da lei, mas ao contrário disso a violam. Eduardo Carnelós COM A PALAVRA, A DEFESA DE HENRIQUE ALVES As afirmações de Henrique Constantino são absolutamente infundadas. Henrique Eduardo Alves sequer o conhece, não tendo jamais conversado ou se reunido com ele. COM A PALAVRA, O ADVOGADO DANIEL GERBER, QUE DEFENDE MARCO MAIA

O advogado Daniel Gerber, que representa Marco Maia, disse em nota que seu cliente "desconhece a acusação e está sempre ao dispor das autoridades competentes para esclarecimento sobre a lisura de seu agir".

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COM A PALAVRA, A ABEAR

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) desconhece os fatos e o teor da delação premiada do empresário Henrique Constantino. Caso a entidade seja procurada pela justiça para esclarecimentos, estará à disposição.