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Em ano repleto de incertezas, equilíbrio das contas deve ser fator decisivo na retomada da economia

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Por João Henrique Dib Netto
Atualização:
João Henrique Dib Netto. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Forças antagônicas são o pilar básico da incerteza. Nos mais diferentes contextos, a imprevisibilidade emerge quando há fatores diversos apontados para direções ambíguas. Na política, por exemplo, quando extremos opostos populares pleiteiam o poder. Também na saúde pública, quando o vírus e a vacina postulam o posto de protagonista único.

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A economia também segue o mesmo princípio. Períodos em que há impulsos positivos e negativos vindos de diferentes agentes são também aqueles nos quais o desempenho forte e a crise perversa estão separados por uma linha tênue que, por simplificação, chamamos de acaso.

Por isso, preocupa o fato de poucos anos terem iniciado com tantas forças antagônicas na economia brasileira como 2021, ainda que não falte volatilidade à nossa história recente.

Sob a perspectiva das famílias, a retomada gradual da ocupação e da renda - consequência natural da reabertura - enfrenta o baque do fim do auxílio emergencial e do desemprego alarmante herdado da crise sanitária.

Do ponto de vista das empresas, a volta do consumo - tão debilitado em 2020 - se contrapõe à inadimplência represada pela flexibilização do crédito e à redução de subsídios.

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Já para o governo, o norte para o desenvolvimento econômico é ameaçado pela necessidade de reformas estruturais profundas, de difícil negociação política e sob o pano de fundo do esgotamento das fontes de estímulos fiscais.

Ainda que cada um dos protagonistas da economia tenha problemas de origens e dimensões diversas, há um denominador comum que deve ser decisivo para que a incerteza de 2021 penda para o lado bom ou ruim: o equilíbrio das contas.

Começando pelo setor público, que deve urgentemente adequar seus gastos, mas sem impor um ajuste tão forte a ponto de estrangular a já frágil reabilitação econômica. O déficit primário de 2020, em torno de R$ 800 bilhões, tornou estéril a aprovação da reforma da previdência (estima-se R$ 855 bilhões de economia em 10 anos) e o governo deve implementar novas ações para que o discurso de responsabilidade fiscal volte a ser crível.

O retorno da confiança e da previsibilidade dos investimentos é essencial para impulsionar as empresas, que têm urgência em voltar a gerar caixa, mas para isso precisam de alguma forma inovar na eficiência do uso do capital. Segundo os últimos dados do IBGE (agosto/20), a crise deixou um rastro de mais de 715 mil negócios falidos no país. Os sobreviventes devem ter disciplina de custos e maleabilidade de receitas para lidar com um mercado consumidor incapaz de estabelecer grandes compromissos financeiros imediatos.

A retomada robusta nas expectativas de lucratividade das empresas é pré-requisito para a recuperação do emprego, imprescindível para que milhões de famílias possam acomodar seus orçamentos buscando a melhora da renda e renegociando dívidas que ficaram para trás. São ao todo 14 milhões de desempregados e 70 a 90 milhões de inadimplentes (tantos que não há consenso no número exato). O consumo só será estimulado quando essas pessoas tiverem mais conforto com relação ao equilíbrio entre suas receitas e despesas do dia a dia.

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Fica evidente que há um elo indissociável entre todos os agentes da economia: a estabilidade de um está ligada à flexibilidade e à recuperação dos outros. Dessa forma, dentro do imprevisível antagonismo de forças que se avizinha, a busca pelo equilíbrio de contas nas diferentes esferas se mostra como condição necessária para que o país volte ao rumo do tão perseguido crescimento sustentável.

*João Henrique Dib Netto é graduado em Economia pela FGV-SP, mestre em Teoria Econômica pela FEA-USP e líder de Ciência de Dados da BLU365

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