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Em 27 anos, número de processos se multiplicou 80 vezes, diz ministro do STJ

Luis Felipe Salomão afirma que Judiciário tem 'taxa de congestionamento de mais de 70%'

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Por Julia Affonso
Atualização:

 

Luis Felipe Salomão. Foto: Felipe Lampe/IASP

Em 27 anos, o número de processos em todas as esferas do Judiciário aumentou aproximadamente 80 vezes. Os dados são do ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça.

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Em 1988, ano da nova Constituição, foram ajuizadas 350 mil ações. Em 2014, 30 milhões. "Esse número nunca parou de crescer", afirmou o ministro, que esteve em São Paulo, na sexta-feira, 17, para uma palestra do Instituto dos Advogados de São Paulo sobre o impacto do novo Código de Processo Civil na Corte.

"Outro dia eu recebi, no STJ, um juiz da China. Eu expliquei para ele a quantidade de novas demandas. Quando eu disse o número, ele virou para a intérprete e disse que havia uma falha na tradução. Eu pedi para repetir, ele pediu para ver o número, 30 milhões. Ele ficou estarrecido."

De acordo com o ministro, em 2001, foram ajuizados 12 milhões de processos, em 2009, 25,3 milhões e 2011, 26,3 milhões. Em 1988, havia 4.900 juízes. Em 2014, 16.927 magistrados.

"Nesses 27 anos de Constituição, o número de processos ajuizados se multiplicou 80 vezes enquanto o número de juízes não chega a quadruplicar. Somos 17 mil hoje. Mas ainda assim nosso problema não é esse. Nós estamos bem na média mundial que é juízes por 100 mil habitantes. Nós temos 8 juízes por 100 mil. Nosso problema está na carga de trabalho", afirmou.

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LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

ESTADÃO: O sr acha que recorre-se muito a processo judicial? É necessário ampliar a conciliação?

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO: Sem dúvida nenhuma que as soluções extrajudiciais que vêm sendo aplicadas no mundo inteiro dependem de uma mudança cultural. Nós criamos este ano o marco legal da mediação. Se ele sair do papel, se ele se tornar efetivo tende a carregar racionalidade para o funcionamento da Justiça.

ESTADÃO: O sr acha que está havendo uma judicialização da política?

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO: Essa judicialização carrega o Judiciário para um protagonismo que é preciso saber se esse papel é o papel que a sociedade quer do Judiciário. Esse é um debate que vai ter de ser feito também. Se quer um Judiciário protagonista ou se quer um Judiciário cumprindo com a sua missão pura e simplesmente. Esse excesso de judicialização não nos faz bem.

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ESTADÃO: O Judiciário está ocupando um lugar de destaque na sociedade hoje? Isto é bom?

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MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO: O Judiciário sempre foi muito quieto, agora é o canal de afirmação da cidadania. É bom e é ruim. É bom porque é uma demonstração inequívoca de que a sociedade entrega seus pleitos pro Judiciário. É ruim, porque ele entope. Ele tem uma taxa de congestionamento de 70%. O ideal é que a gente avance com essas novas práticas, soluções de litígio para que o Judiciário possa cumprir com a sua tarefa. A uma taxa de congestionamento de mais de 70% fica difícil fazê-lo.

ESTADÃO: Como o sr avalia a atuação do STJ na Lava Jato?

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO: Eu sou o relator dos processos na Corte Especial. Eu acho que a coisa está caminhando dentro dos seus trâmites. Ministério Público tem acompanhado tudo, tudo caminha como tem que caminhar.

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